A fábrica de Palmela da Autoeuropa está a sofrer as consequências do conflito laboral entre patrões e estivadores precários no porto de Setúbal.
Segundo fonte oficial da Autoeuropa, a paragem dos estivadores “já implicou o não envio de cerca de 6.000 unidades para o seu mercado de destino”. “No limite”, esta situação pode “colocar em causa a operação da fábrica, [quando for] atingida a capacidade máxima de armazenamento de carros produzidos”, adianta a mesma fonte ao jornal Público.
De referir que há já uma semana que não há qualquer movimento de contentores no porto de Setúbal, nem há operações no terminal usado pela construtora automóvel para expedir veículos para o mercado de destino.
Trata-se de um conflito laboral desencadeado entre um grupo de estivadores precários e a empresa de trabalho portuário Operestiva que já levou à quase paralisação do porto sadino, afectando várias empresas, com destaque para a Autoeuropa, um dos maiores exportadores nacionais.
“A Operestiva propôs o contrato sem termo a 30 estivadores e houve um que assinou, e os 91 trabalhadores precários que continuam sem contrato exigem o cancelamento desse contrato. “Quem decidiu manter esta paralisação foram os patrões, que preferem ter 91 trabalhadores precários parados, para manter um contrato assinado por um colega que esqueceu o bem-estar dos outros 91”, afirma Jorge Brito, trabalhador precário.
O Sindicato dos Estivadores e Actividades Logísticas (SEAL) aplaude esta união dos trabalhadores e, em comunicado, elogia os trabalhadores precários de Setúbal, o elo mais fraco até então, que decidiu “que esse inferno para uns e paraíso para outros tinha os dias contados”.
A Associação dos Agentes de Navegação de Portugal (Agepor) já havia relatado o caso esta segunda-feira, considerando que tal acontece “sem que nenhuma greve ao trabalho em horário normal esteja legitimamente decretada e em vigor”. A Agepor apelou ainda ao Ministério Público que faça investigação para averiguar se haveria coacções sobre trabalhadores que quereriam trabalhar.
Em greve, o Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística (SEAL) pretende, com a paralisação, “converter trabalho precário em permanente e condições indignas em modelo de dignidade para os trabalhadores dos portos”, respondeu à Agepor em comunicado.
O SEAL considera ainda que “os precários do porto de Setúbal não aceitam que, em tempo de greve, as empresas pretendam assinar contratos e, falhada a estratégia coerciva, ainda lhes venham propor que tais contratos ilegais fiquem sob a divina protecção da autoridade portuária”.
O sindicato dos estivadores alargou as acusações, questionando: “Ninguém acha estranho que estando oito portos nacionais, mais de 700 estivadores portugueses em greve há exactamente três meses tal continue a ser olimpicamente ignorado pela agenda mediática?”
A greve decretada pelos estivadores do SEAL decorre até 1 de Janeiro de 2019 e abrange os portos de Lisboa, Setúbal, Sines, Figueira da Foz, Leixões, Caniçal (Madeira), Ponta Delgada e Praia da Vitória (Açores).