Palmela de luto: Morreu Sebastião Fortuna, o sonhador

Sebastião Fortuna morreu hoje, 14 de janeiro aos 86 anos de idade. Natural da freguesia de Quinta do Anjo, concelho de Palmela, era um homem dos sete ofícios, mas sobretudo um sonhador.


O presidente da Junta de Freguesia de Palmela, Jorge Mares, refere na sua página do Facebook que “partiu um grande amigo, ímpar, o artista, um homem de grande sensibilidade, amigo da nossa terra que dizia ser também a sua. E, assim foi sempre. Tive a felicidade de viver com ele momentos intensos à volta da nossa cultura, de histórias que ficam para a eternidade. Um abraço, até sempre Sebastião”.


Também o PSD de Palmela lamentou a morte de Sebastião Fortuna. “Foi uma referência cultural do concelho de Palmela, em particular da aldeia da Quinta do Anjo. O homem dos 7 ofícios como era conhecido, foi sempre um sonhador. Ficará para sempre eternizado pela sua arte, que o fez ser o “O pintor do sonhos”. A toda a sua família e amigos, em particular ao nosso companheiro João Fortuna, seu sobrinho, o PSD Palmela endereça as mais sentidas condolências”.

Já Carlos Sousa, antigo presidente do município e atual vereador, afirma que “partiu um grande amigo. É difícil arranjar palavras para descrever este homem. Foi um artista, um artista apaixonado por tudo o que fazia. Foi um grande desportista na sua juventude, foi pintor, e foi tantas outras coisas, mas acima de tudo foi um sonhador, um poeta da vida! Aprendi muito com ele”.


Recorde-se que a poetisa Alexandrina Pereira lançou o livro “Sebastião Fortuna – o pintor de sonhos”, a 16 de fevereiro de 2022, no Espaço Cidadão, em Palmela, com fins solidários, num altura em que o sonhador estava a atravessar algumas dificuldades.


Para Alexandrina Pereira, Sebastião Fortuna, é “um homem simples, detentor da mais profunda capacidade de tudo amar, quer seja uma tela, um azulejo, o barro, uma árvore, uma criança ou um simples insecto, diz na sua genuína humildade que ‘apenas quero que gostem de mim como eu gosto de tudo e de todos’ e pede apenas que o deixem ser assim: um sonhador”.


Segundo a poetisa, esta personalidade é “o pintor de alma transparente, quer exprime todos os sentimentos de uma forma tão natural mostrando que ainda tem dentro dele uma alma de criança”, sublinhando que Sebastião Fortuna “teima em não se vergar perante as dificuldades que a vida lhe apresenta, cai mas logo se levanta e fá-lo com uma determinação invulgar, tão invulgar como a sua capacidade para criar beleza e arte em tudo o que toca e com uma permanente naturalidade dizer aos outros que das coisas mais simples podem nascer maravilhas capazes de tornar as nossas vidas num momento de felicidade”.


Sebastião Fortuna era uma referência cultural da nossa região, que já fez muito em prol do próximo, mas nos últimos anos mais complicados da sua vida, restavam um punhado de amigos como a poetisa Alexandrina Pereira, que decidiu lançar um livro solidário “Sebastião Fortuna – o pintor de sonhos”, cujas receitas reverteram, na sua totalidade, para esta personalidade do concelho de Palmela.


Sebastião Fortuna sonhou muito alto. Sonhou com a criação de um Centro de Cultura de Arte e Tradição com o núcleo de uma Oficina Escola, no conhecido Espaço Fortuna, na Quinta do Anjo. Sonhava com um protocolo com a Escola Superior de Belas Artes, com o objetivo de proporcionar o estudo e estágios, no seu “atelier” a estudantes daquela universidade.


Chegou a receber no seu espaço de criação cerca de 20 mil visitantes por ano que assistiam no local como eram elaborados os famosos azulejos e outras peças de cerâmica, muitas peças que estão hoje presentes em muitas casas da região e mesmo do país.


Nos anos 80 sonhou que seria um projeto financeiramente sustentável. Todos os sonhadores têm um problema com a realidade. Os criadores e finanças não são os melhores amigos e foi o que aconteceu com Sebastião Fortuna.


Quis que o universo que os problemas fossem maiores que os sonhos desta personalidade cultural e tudo acabou por ruir.


Sebastião Fortuna, era um homem cansado de lutar contra todas as adversidades. Apesar de reinventar-se constantemente, foi caindo nos trambolhões da vida. Perdeu o Espaço Fortuna, foi para outro lugar, perdeu novamente e assim continuou a sua vida.


Sebastião Fortuna era também um excelente pintor, com telas maravilhosas que podem ser apreciadas no livro de Alexandrina Pereira. Ali, estão 25 quadros, mas são muito mais, com bonitas paisagens da natureza.