O poder de Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa eleito Presidente da República, à primeira volta, no passado domingo, dia 24 de Janeiro, surpreendeu ao vencer em todos os distritos do país, incluindo o de Setúbal. Um feito que acontece pela primeira vez, sendo um facto revelador do poder de imagem que o candidato, apoiado pelo PSD e CDS-PP, tem junto do eleitorado dos mais diversos quadrantes políticos.

Analisando os resultados obtidos pelo novo chefe de Estado de Portugal no distrito de Setúbal é deveras interessante verificar como penetrou nos eleitorados de esquerda, desde o Partido Socialista, ao Bloco de Esquerda e mesmo do PCP. Marcelo Rebelo de Sousa venceu no distrito de Setúbal com 135.300 votos, 37,89%, nas 55 freguesias, seguido de Sampaio da Nóvoa, com 106.114 votos, 29,71%. Não deixa de ser um resultado impressionante já que Setúbal dá sempre largas votações ao PCP e ao PS.

Edgar Silva, o candidato do PCP, não conseguiu afirmar-se quer no país quer em Setúbal, tendo um resultado desastroso em comparação com Jerónimo de Sousa ou Carlos Carvalhas em eleições presidenciais anteriores. No distrito de Setúbal, Edgar Silva não ganhou em nenhum concelho e obteve apenas duas vitórias, nas freguesias de S. Martinho (concelho de Alcácer do Sal) e de Abela (concelho de Santiago do Cacém).

De referir ainda que o candidato Sampaio da Nóvoa, sem o apoio formal do Partido Socialista e perante a candidatura de Maria de Belém, alcançou vitórias em quatro concelhos do distrito de Setúbal, nomeadamente em Alcácer do Sal, Barreiro, Grândola e Moita. Estes concelhos caracterizam-se por terem um forte eleitorado do PCP pelo que se verifica uma deslocação dos votos de Edgar Silva para Sampaio da Nóvoa.

Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda, foi uma das surpresas na noite eleitoral, e no distrito de Setúbal foi a terceira mais votada, com 46.326 votos, 12,97%, à frente de Edgar Silva, com 33.930 votos, 9,5%.

Impressionante também a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa em concelhos onde o PCP domina há muitos anos em diferentes tipos de eleições. No Seixal, Santiago do Cacém e Almada, o candidato ganhou bem como nos concelhos de Sines, Alcochete, Montijo, Palmela, Sines e Sesimbra.

O novo Presidente da República que toma posse a 9 de Março, substituindo Cavaco Silva que saiu com o mais baixo índice de popularidade de um chefe de Estado, tem a árdua tarefa de passar do papel de comentador político, função desempenhada durante décadas, à principal figura da Nação.

No discurso de vitória, no hall da Faculdade de Direito, onde leccionou nos últimos anos, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que quer “fomentar a unidade nacional”, não olhando a esforços para “unir aquilo que as conjunturas dividam e estreitando a relação entre todos” porque “quanto mais coesos formos mais fortes seremos”. Como segunda meta, o professor pretende “reforçar a coesão social, pessoal e territorial por imperativo da Constituição e por convicção pessoal”. Marcelo promete ser “politicamente imparcial”, mas assevera que “não deixarei de ser socialmente actuante”.

Os portugueses vão ter um Presidente da República comunicador e moderado e advinham-se tempos diferentes.