Nuno Canta, presidente da Câmara Municipal do Montijo sobre novo aeroporto: “Continuamos a defender que Montijo é a melhor solução de curto prazo”

Em contagem decrescente para a apresentação de uma nova localização para o futuro aeroporto de Lisboa, com data limite prevista para 31 de dezembro, pela Comissão Técnica Independente (CTI), o presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, estranha a divulgação de um relatório intercalar que aponta para obras no Aeroporto Humberto Delgado, com a construção de um novo terminal. Nuno Canta, espera que não seja uma manobra para atrasar a decisão final da escolha da nova localização. Para o autarca, Montijo continua a ser a melhor solução a curto prazo.

Florindo Cardoso

Setúbal – Como avalia o último relatório da Comissão Técnica Independente sobre o novo aeroporto?
Nuno Canta
– Considero estranho e até fiquei perplexo com a atitude da Comissão Técnica Independente (CTI) de ter apresentado publicamente um relatório antes de dar conta do mesmo à comissão de acompanhamento da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) do novo aeroporto que coordena os trabalhos e da qual o município do Montijo faz parte, além de outras entidades como as ordens dos economistas e dos engenheiros, personalidades eminentes e professores de geografia de outras áreas de planeamento do território como o professor Jorge Gaspar. Esta posição que a CTI apresenta não é de avaliação ambiental estratégica, é apenas uma mera opinião. Esta comissão foi mandatada pelo governo no sentido de realizar uma avaliação ambiental estratégica entre as diferentes localizações. Não creio que haja uma conceção prévia da CTI e sobretudo que vá construindo uma narrativa e soluções técnicas para isso. Espero que não seja assim.

Setúbal Mais – É uma posição fora de horas?
Nuno Canta
– Sim. Os órgãos da comissão de acompanhamento da Avaliação Ambiental Estratégica do novo aeroporto não foram informados deste relatório. Supostamente, a AAE foi ultrapassada pela divulgação deste estudo. Deveríamos ter acesso ao documento e analisá-lo antes de ser divulgado. Claro, que não iríamos alterar o trabalho da Comissão Técnica Independente porque cada uma tem a sua opinião. Considero que esta atitude foi um pouco precipitada. A maior perplexidade é considerar que podermos ter ainda mais voos sobre Lisboa, dando enfâse àquela ideia de que o aeroporto ainda não está esgotado e tem capacidade para receber mais aviões, aumentando os terminais. Não era essa a ideia inicial, que passa por encontrar uma solução alternativa que permite manter Lisboa, com um aeroporto de apoio. Considero ainda que há uma questão pouco sustentada do ponto de vista de funcionamento do sistema aeroportuário, que é afirmar que aeródromo de Tires pode funcionar ao mesmo tempo que o Aeroporto Internacional Humberto Delgado, e não pode. Tires prejudica o funcionamento do aeroporto de Lisboa porque basta ver a orientação das pistas que obriga ao cruzamento de rotas de aterragem e descolagem. Daí, esta opção ter sido colocada de parte em relação às outras localizações de apoio ao aeroporto Humberto Delgado.

Setúbal Mais – Continua a defender a opção Montijo?
Nuno Canta
– A opção Montijo, a curto prazo é de uma clareza e de uma grande evidência. Não quer dizer que mais tarde se fará um aeroporto único, de grande dimensão, no Campo de Tiro de Alcochete. Para já, a solução de curto prazo de não incluir Montijo cria uma grande perplexidade. Queremos discutir isso na comissão de acompanhamento que está marcada para 19 de outubro.
Estamos contra um maior número de voos sobre Lisboa e a ideia que o aeroporto Humberto Delgado. A única solução para um aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa terá de ser inevitavelmente na Base Aérea do Montijo. Sempre consideramos que essa seria a opção lógica e clara da CTI.
Não existe nenhuma avaliação entre as diferentes opções. Isto é, não há uma avaliação ambiental estratégica entre a opção Montijo, Campo de Tiro de Alcochete e até agora de Beja, uma ideia antiga, que dificilmente pode funcionar em termos de atratividade a Lisboa, porque é muito longe, acontecendo o mesmo com Santarém.

Setúbal Mais – Esta posição gera alguma confusão?
Nuno Canta
– Sim. Criou-se, outra vez, uma maior confusão sobre a opinião pública e um caos na decisão do governo. Espero que o primeiro-ministro e o ministro das Infraestruturas tenham a consciência de que estas questões têm de ser ponderadas. O primeiro-ministro já disse que irá seguir as recomendações da CTI e sabemos que esta questão vai gerar grande controvérsia.

Setúbal Mais – Está confiante que o governo anuncie a decisão até ao final do ano como foi anunciado?
Nuno Canta
– Não sei se conseguirá. A CTI já disse que teve um atraso na contratação de serviços para fazer a tal avaliação ambiental estratégica. Considera que esta situação é também para desviar a ideia de que estão atrasados relativamente ao trabalho que terão de fazer até ao final do ano. Ao não considerar a opção do Montijo, mesmo a curto prazo, complica muito o aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa. Esta ideia de que o aeroporto Humberto Delgado não está esgotado e que pode ser criado um terceiro terminal, pressupõe como consequência imediata o aumento do número de voos sobre a cidade de Lisboa. O Montijo oferece a vantagem de permitir uma aterragem e descolagem completamente independente do aeroporto de Lisboa. Além disso, é uma base aérea construída, o que permite rapidamente a utilização dos voos comerciais. Estranhamos que as pessoas que estavam tão preocupadas com o ruído sobre uma área pequena na Baixa da Banheira (concelho da Moita), e agora não estejam com toda a cidade de Lisboa. Continuamos a defender que Montijo é a melhor solução de curto prazo.

Setúbal Mais – Porque considera que houve tanto atraso neste processo?
Nuno Canta
– Na altura, as câmaras municipais do PCP (Moita e Seixal) que deram um parecer negativo à opção do Montijo é que são responsáveis pelo atraso. Foram opositoras à construção do aeroporto no Montijo e a lei permitia isso porque o parecer era vinculativo, facto já alterado, abortaram a decisão e tonou inviável. Não foi culpa do governo. É preciso dizer isso. Essa visão muito redutora e limitada do pensamento comunista em Portugal levou ao afastamento de projeto essencial para o desenvolvimento da região de Setúbal. Afastou-se assim da região um motor de desenvolvimento que poderia ser o aeroporto. Lembro que aumentar o número de voos em Lisboa vai ser necessário um estudo de impacto ambiental e uma licença para isso e o Montijo já tem, o que seria mais célere. As outras soluções vão atrasar o processo.