“Nos últimos tempos, a península de Setúbal tem-se afirmado”

Entrevista com Vítor Costa, presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa:

“Nos últimos tempos, a península de Setúbal tem-se afirmado”

Vítor Costa assumiu o cargo de presidente da comissão executiva da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa, que engloba a península de Setúbal, há cerca de 2 anos. Considera que o boom turístico que a região de Lisboa atravessa é fruto de um trabalho desenvolvido desde a Expo98 e que se poderá estender a Setúbal, tendo a Arrábida e o Tejo como centralidades. A antiga sede da região de turismo da Costa Azul, no centro histórico, reabrirá em Agosto, após profundas obras, para ser um pólo de atracção, núcleo museológico, com divulgação e venda de produtos regionais e uma exposição permanente sobre a Arrábida.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais – A região de Lisboa tem assistido a um boom turístico nos últimos anos. A que se isso?

Vítor Costa – Deve-se ao crescimento global do turismo, especialmente o de incidência urbana, a melhoria das ligações aéreas e dos seus preços com os mercados emissores, do próprio destino turístico na região de Lisboa, com investimentos em equipamentos e animação e finalmente da estabilidade e uma estratégia desenvolvida desde a Expo98, altura em que foi elaborado o primeiro plano estratégico. O turismo está a crescer em Portugal mas é na região de Lisboa que o crescimento tem sido maior. Aliás, em 2014, Lisboa foi a cidade que mais cresceu na Europa. Não se trata de um fenómeno passageiro ou de uma moda, já estamos num patamar diferente, o que traz novos desafios e realidades.

S.M. – Está prevista a instalação de um aeroporto para as companhias low-cost na Base Aérea do Montijo dentro de 2 anos. De que modo pode beneficiar o desenvolvimento turístico da região?

V.C. – Será um benefício para o turismo da região porque se mantém o aeroporto na Portela, que é um factor competitivo importante, e permitirá dar melhores condições para as companhias aéreas operarem, aumentando o número de voos e com taxas de serviço mais baixas. Beneficiará directamente a península de Setúbal, que apesar de ter muito potencial turístico, ainda carece de desenvolvimento…

S.M. – … Há a vantagem de já existir o terminal fluvial do Cais do Seixalinho que permite uma ligação rápida a Lisboa.

V.C. – Penso que a aposta da ANA (Aeroportos de Portugal) serão as ligações rodoviárias, porque temos a Ponte Vasco da Gama muito perto, sendo necessárias algumas obras que a Câmara Municipal do Montijo já indicou, mas também a fluvial. No conjunto, acho que vai permitir à região um crescimento significativo de tráfego e maior distribuição pela península de Setúbal. Terá aspectos positivos quer no emprego para pessoas nos serviços do aeroporto quer no número de turistas pelo que é bom para o conjunto da região.

S.M. – Os europeus continuam a liderar o turismo em Lisboa mas assiste-se ao crescimento do mercado brasileiro. A que se deve isso?

V.C. – Têm sido feitas campanhas desde há seis anos quando se considerou que o mercado brasileiro poderia ser objecto de intervenção regional. Convém dizer que há um sistema nacional de promoção coordenado pelo Turismo de Portugal, dando directrizes às regiões. Nessa altura, começámos a intervir no sentido de mudar a percepção dos brasileiros relativamente a Lisboa, porque a maioria viaja para cidades cosmopolitas de países como os Estados Unidos, França, Espanha e Itália e estávamos ligados a estereótipos que já não existem. Isto só foi possível porque há ligações aéreas asseguradas pela TAP.

S.M. – O que o turista procura quando escolhe a região de Lisboa?

V.C. – Lisboa é diferente de outros destinos porque temos diversidade. Cada turista pode fazer a sua própria Lisboa, as pessoas gostam de andar a pé, da gastronomia e de personalizar a sua experiência. Temos usado esta estratégia promocional já alguns anos e estamos a desenvolver um projecto que vai potenciar essa questão, começando com uma segmentação indo até à personalização. Hoje é possível, através de meios digitais, um site ou uma aplicação, fazer o BI de cada turista, estimular para que dê elementos para o conhecer e oferecer o que cada um procura, dar-lhe uma agenda do que pode visitar. O projecto está em fase de proposta final do estudo e pretende-se passar à sua implementação mostrando os factores de atracção da região de Lisboa. Por exemplo, na península de Setúbal, já há muita coisa mas não atractivos internacionais que tragam as pessoas de propósito, mas ocorre um conjunto de eventos muito interessantes que o turista pode fazer como a observação de golfinhos, desportos náuticos, o turismo equestre, o enoturismo e a gastronomia.

S.M. – Assiste-se na península de Setúbal a um grande desenvolvimento do enoturismo. Considera que o futuro turístico desta região poderá passar pelos vinhos e gastronomia?

V.C. – Claramente mas, no nosso Plano Turístico, realça-se que a península de Setúbal não tem as mesmas características. Identificámos centralidades turísticas, sub-regiões ou áreas com características comuns e complementares entre si. No caso da península de Setúbal, o Plano Estratégico tem 3 propostas diferentes. A primeira é Almada, que faz parte de Lisboa como Oeiras, estão na centralidade de Lisboa e é assim que vamos desenvolvê-las. Há outras duas centralidades: Arrábida, que está mais desenvolvida, onde o turismo de natureza e o enoturismo são as actividades principais, incluindo os concelhos de Setúbal, Sesimbra e Palmela. Temos um projecto de desenvolvimento de turismo da Arrábida que começa no antigo posto de turismo na antiga sede da região de turismo da Costa Azul, que está em obras e será um pronto de atracção. Temos a terceira que tem os municípios ribeirinhos ligados ao Tejo, com turismo de natureza, náutico e equestre. A Herdade de Rio Frio está a realizar um investimento muito interessante. Temos ainda o turismo industrial no Barreiro e Seixal. Nos últimos tempos a península de Setúbal tem-se afirmado e temos a ambição de que possa ter, num prazo não muito longo, tantas dormidas como o Alentejo.

S.M. – Explique como vai ser o edifício da antiga sede da região de turismo da Costa Azul situado no centro histórico de Setúbal…

V.C. – O edifício localizado numa zona estratégica da cidade de Setúbal, entre a avenida Luísa Todi e a baixa, vai ter o rés-do-chão transformado em posto de informação turística com divulgação e venda de produtos regionais da região, a partir de Agosto. No primeiro andar, estará patente uma exposição permanente sobre a Arrábida e no último piso um pequeno auditório para reuniões. O objectivo é fazer deste edifício um pólo de atracção e integrado na rede regional de informação turística e estamos a trabalhar com a ATL (Tempos Livres) para que os seus associados façam passeios e animação turística na Arrábida. Não é apenas um posto de informação turística mas um núcleo museológico, uma divulgação e venda de produtos regionais e também de oferta turística regional.

S.M. – Em termos de dormidas também registou-se um crescimento…

V.C. – A cidade de Setúbal, Almada e Sesimbra tiveram no último ano um crescimento interessante. Temos uma ambição maior, que a grande atracção que é Lisboa, com grandes fluxos de turistas, possam também visitar e dormir na região.

S.M. – Almada registou o ano passado 10 mil dormidas…

V.C. – Almada está muito próxima de Lisboa e beneficia dessa centralidade. É um destino com potencial.

S.M. – No Plano Turístico 2014-2015 vão ser investidos 1,1 milhões na centralidade Arrábida…

V.C. – Estamos a fazer uma estratégia para o mercado espanhol, nomeadamente para a Estremadura. O estudo aponta para sol e mar, com promoção para a costa, como Setúbal e Arrábida, para pequenas estadias ou mesmo habitações. Outra vertente será a gastronomia muito apreciada pelos turistas e os espanhóis em especial. Temos o peixe e eventos ligados a esta temática em Setúbal, Palmela e Sesimbra, e noutros concelhos, que podem ser promovidos. Queremos fazer uma promoção regular desses eventos.

S.M. – Até onde pode ir a marca Lisboa?

V.C. – Estamos a fazer um trabalho numa organização internacional para analisar a situação de Lisboa em comparação com outras cidades. Temos 3,5 milhões de turistas e estamos longe dos casos de massificação como Veneza e Barcelona. Os fluxos turísticos podem espalhar-se e temos uma perspectiva regional e há muito para crescer, de forma equilibrada.