Mural de solidariedade com o povo palestiniano em Setúbal vandalizado

O mural “Uma Janela para um País Livre”, pintado domingo na Av. Manuel Maria Portela, em Setúbal, e vandalizado na noite de segunda-feira, 29 de janeiro, conta desde a manhã de hoje, 31 de janeiro, com a inscrição “Aqui jaz um mural pela paz”, ali colocada por decisão do projecto “Histórias que as Paredes Contam”.

O trabalho original, criado numa ação de solidariedade com o povo palestiniano e que teve o contributo de 25 pessoas na sua execução, demorou um total de 10 horas a ficar concluído, mas não chegou a permanecer dia e meio na parede, tendo sido quase integralmente coberto por tinta branca.

A obra, na qual se via uma criança sentada de frente para uma janela gradeada a contemplar cinco pombas brancas, que esvoaçavam com a bandeira palestiniana em fundo, reproduzia uma obra de Azhar al Majed, artista da Palestina, e foi concebida no âmbito da campanha Painting for Palestine, a que o projeto “Histórias que as Paredes Contam” se associou.

“Um mural pela paz que foi visado por uma ação de guerra”, considera Helena de Sousa Freitas, coordenadora do projeto, que desde Setembro desenvolve um conjunto de iniciativas em Setúbal no âmbito do Programa das Comemorações Nacionais dos 50 anos do 25 de Abril.

Para a responsável, “destruir é fácil, como vemos nos cenários de conflito pelo mundo fora, sendo de lamentar que, quando o país celebra meio século de Democracia, continue a haver quem se mostre tão incapaz de conviver com as diferenças de opinião”.

Intitulado “Uma Janela para um País Livre”, o mural surgiu na sequência do desafio lançado ao projeto “Histórias que as Paredes Contam” pelo sociólogo irlandês Bill Rolston, ativamente envolvido na campanha Painting for Palestine, que arrancou em Belfast, na Irlanda do Norte, no dia 14.

O mural reproduzia uma obra de Azhar al Majed, artista da Palestina

“O mural falava do anseio desesperado por paz, justiça e liberdade no meio de um horror indescritível, com cerca de 30.000 pessoas mortas em Gaza, 40% das quais crianças. Não compreendo como é que alguém se pode sentir ofendido pela sua mensagem”, declarou Bill Rolston perante a agressão de que o mural foi alvo cerca de 30 horas após ser finalizado.

Bill Rolston, professor emérito da Universidade do Ulster e figura de destaque internacional na investigação académica sobre muralismo político-social, deslocou-se a Setúbal para a sessão “Dos Troubles ao Brexit – A Expressão Muralística na Irlanda do Norte”, que teve lugar ao fim da tarde de terça-feira no Museu de Arqueologia (MAEDS).

A intervenção do sociólogo irlandês marcou o encerramento do ciclo de cinco conversas públicas que o projeto inaugurou a 5 de setembro com a presença, em Setúbal, do artista plástico e muralista chileno Alejandro “Mono” González.

O conjunto de iniciativas prossegue agora com a preparação de um álbum de fotos e histórias sobre a prática muralística na cidade, a lançar em abril, tendo ainda prevista a execução de novos murais e a realização de um documentário sobre o processo criativo inerente às diversas atividades.

Com chancela do Monte de Letras, “Histórias que as Paredes Contam – 50 anos de Muralismo em Setúbal” tem por parceiros a Câmara Municipal de Setúbal, através da iniciativa “Venham Mais Vinte e Cincos”, o Instituto Politécnico de Setúbal, a Associação dos Municípios da Região de Setúbal, juntas de freguesia do concelho, a União Setubalense e a Associação Cultural Festroia.