David Gorgulho, com 37 anos, foi eleito presidente da Junta de Freguesia de Santo André, na lista da CDU, em 2017, sendo um dos mais jovens autarcas do país. Nesta entrevista aborda a importância da realização do Festival da Liberdade em Santo André, concelho de Santiago do Cacém, faz um balanço positivo de dois anos de mandato, aposta na sustentabilidade ambiental da freguesia, e afirmar Santo André como um destino de excelência para o turismo de natureza.
Florindo Cardoso
Setúbal Mais – Qual a importância da realização do Festival da liberdade na freguesia de Santo André?
David Gorgulho – É sem dúvida o maior acontecimento que já recebemos na nossa freguesia e está a gerar uma grande expectativa em toda a população. Além de todas as benfeitorias que vai trazer para o Centro Equestre, o impacto económico será muito significativo para Santo André. Há muita gente que não fica no parque de campismo criado para o efeito e que não fará as suas refeições no festival. O comércio local sentirá, certamente, um acréscimo significativo de visitas por esses dias. Por outro lado, há milhares de pessoas, em particular jovens, que ficarão a conhecer Santo André e os seus encantos. Acreditamos que vamos “agarrá-los” e que voltarão a visitar-nos depois disso. É um momento muito importante de afirmação para a nossa terra e uma grande oportunidade para desfrutarmos de um super programa de animação artística e cultural. Igualmente para as associações locais, será um momento de enorme divulgação e de forte participação. Estamos com uma ansiedade boa!
S.M. – Está a meio do mandato, qual o balanço do trabalho efectuado?
D.G. – Claramente positivo. Colocámos a agenda ambiental no topo das prioridades, sem esquecer, claro está, todas as outras áreas de actuação. Conseguimos recentemente o galardão de Eco-Freguesia, atribuído pela Associação Bandeira Azul da Europa, que nos atribui uma grande responsabilidade para o futuro, mas que queremos que seja o mote para nos posicionarmos como uma referência na região, inclusive com um “efeito contágio” para as freguesias limítrofes e, mais tarde, para todo o litoral alentejano. Procurámos também, desde o início, envolver a população em ações de voluntariado, procurando criar a todos um sentimento de pertença importante para com a sua terra. Mantivemos a qualidade dos nossos eventos e já incrementámos novidades ao nosso já de si exigente plano anual. Há um longo caminho a percorrer, quer na cidade, quer na zona rural. Nesta fase, estamos com energia redobrada para a segunda metade do mandato.
S.M. – Quais os principais problemas da freguesia?
D.G. – Por um lado, a inexistência de um lar para idosos, mas as perspectivas são boas para o futuro próximo. Esperemos que corra tudo pelo melhor. Por outro lado, há falta de habitação para todos aqueles que se querem fixar em Santo André, ou simplesmente para aluguer temporário. É algo que deve merecer a atenção de todos, ainda para mais numa fase em que se perspetivam investimentos significativos no Complexo Portuário de Sines, que trarão certamente mais pessoas interessadas em fixar-se cá. Houve avanços nos últimos anos, com a parceria entre a Cooperativa Chesandré e a Câmara Municipal de Santiago do Cacém, está neste momento a decorrer mais uma fase de construção, mas precisamos de mais. Na zona rural, alguns dos caminhos também constituem um problema com o qual temos tido de lidar. Estamos também a dar passos importantes neste aspecto, com uma parceria com a câmara municipal, que nos vai permitir pavimentar este ano um dos caminhos que consideramos mais importante. E não vamos ficar por aqui até ao final do mandato.
S.M – Quais são objectivos para os restantes dois anos de mandato?
D.G. – Consolidar a nossa política no âmbito da sustentabilidade ambiental, em particular junto das escolas e das famílias. Atenuar as barreiras físicas que ainda existem no âmbito da mobilidade para todos. Afirmar Santo André como um destino de excelência para o turismo de natureza, 365 dias por ano. Trabalhar para que a nossa terra fique mais bonita e que cada vez dê mais gosto viver aqui. Lutar ao lado da população nas causas mais prementes, em particular no reforço da rede de transportes e, principalmente, por mais e melhores condições na área da saúde, com a degradação dos serviços na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano à cabeça.
Cargo de presidente da junta: “Tem sido um grande desafio”
S.M. – É um dos mais jovens autarcas do país, como tem sido esta experiência a nível pessoal?
D.G. – Tem sido, sem sombra para dúvidas, um grande desafio! Costumo dizer que Santo André é uma espécie de “mini-câmara”. Temos mais de 1/3 da população do concelho e lidamos diariamente com problemas muito distintos, entre a cidade e a zona rural da freguesia. Já pertencia ao anterior executivo, daí não ter chegado “a zeros”, mas a função de presidente numa freguesia como esta, exige mesmo muito. Os recursos são escassos e ainda por cima estamos numa fase da vida autárquica que nos vai trazer grandes mudanças, com as transferências de competências e possíveis alterações de fundo na gestão. Felizmente tenho mantido uma grande energia e ambição, ajudado por um executivo de pessoas experientes e competentes. E claro, como não poderia deixar de ser, por uma super equipa de funcionários, que vestem a camisola e lutam ao nosso lado por uma freguesia melhor. A melhor resposta que posso dar é… voltaria a candidatar-me de olhos fechados. Tem sido muito, muito gratificante poder ajudar a desenvolver a terra que me viu crescer.
Biografia: Um jovem defensor da terra
David Gorgulho nasceu na freguesia da Sé, do concelho de Faro, a 20 de Abril de 1982. Rumou a Santo André, com os seus pais, logo nos primeiros dias de vida, e aqui tem sempre residido.
Licenciado em Ciências da Comunicação e com Mestrado em Comunicação nas Organizações. Trabalhou na Divisão de Comunicação e Imagem da Câmara Municipal de Santiago do Cacém entre 2004 e 2017, até assumir a tempo inteiro a presidência da Junta de Freguesia de Santo André, para o mandado até 2021.
Foi vogal do anterior executivo (2013-2017). Foi secretário e vice-presidente do Clube de Natação do Litoral Alentejano entre 2008 e 2016 e foi ainda vogal do Conselho Fiscal da Cooperativa de Habitação Chesandré até 2017. Tem medalha de mérito dos municípios de Santiago do Cacém e Sines, bem como da Freguesia de Santo André.