Exposição temporária “Olhares Sobre a Livraria do Convento da Arrábida” encerra dia 28 de Outubro em Lisboa, no Museu do Oriente. Conferência reúne especialistas para identificar principais problemas de acervo com 2865 obras.
Luís Geirinhas
No ano em que o Museu do Oriente, em Lisboa, está a comemorar o seu 10º aniversário, a fundação com o mesmo nome prepara-se para avançar com a recuperação de mais uma das várias capelas existentes no Convento da Arrábida. Ao Setúbal Mais, Eduarda Dimas, do Centro de Documentação da Fundação Oriente, adianta que “está prevista pelo menos a recuperação de uma das capelas em 2019”, das várias que ali existem e que “eram dedicadas a determinados santos”.
A responsável refere que “a fundação continua a fazer um trabalho meritório na recuperação do património daquele espaço”, numa tarefa que classifica de morosa e gigantesca, mas que ainda assim “tem vindo acontecer aos poucos”.
Neste âmbito e de forma a levar um pouco do convento a Lisboa, pela primeira vez, está patente ao público desde Julho e até ao próximo dia 28 de Outubro, a exposição “Olhares Sobre a Livraria do Convento da Arrábida”, que reúne um vasto conjunto de livros de uma colecção oriunda do convento, numa mostra que desde a sua inauguração tem sido bastante visitada. “O objectivo foi dar a conhecer ao público esta colecção que já existia, mas que não estava disponível no site da fundação”, explicou. “Todo o conjunto documental de cerca de 2865 obras está agora disponível no catálogo online e nesta exposição estão apenas representadas 36 obras bibliográficas seleccionadas, daí o título para caracterizar a exibição”.
Num primeiro núcleo da exposição estão presentes várias obras de literatura religiosa, mas também livros de botânica, um outro de sermões recitados no Oriente e em particular uma obra de 1507, que se destaca por ser a mais antiga de toda a colecção e tratar-se de um livro sobre o aviso da não absolvição em casos de concubinato. “É muito curioso que uma biblioteca religiosa tenha um livro desta temática, mas o objectivo era saber como proceder nestes casos”, comentou Eduarda Dimas.
A mostra conta ainda com trabalhos sobre referências no pensamento franciscano, duas esculturas em madeira provenientes do Convento da Arrábida (que é propriedade daquela fundação desde 1990), assim como algumas alfaias litúrgicas. “Com um estudo muito breve, conseguimos perceber facilmente a natureza da colecção. Há um conteúdo que é da livraria do próprio convento e um outro da livraria pessoal de D. Pedro de Sousa Holstein, duque de Palmela, título que lhe foi atribuído em vida no ano de 1833”, acrescentou.
“Um ano depois, com a extinção das ordens religiosas, tudo o que existia no convento e era protecção da Casa Palmela, passou para a Casa do Calhariz, em Setúbal”, realçou. A colecção chega às mãos da fundação com a aquisição daquele espaço, como uma mistura de uma livraria conventual, com crónicas e bulas, e com um outro tipo de literatura como biografias de santos e livros de oração, para além de obras raras e proibidas. Refira-se que “as obras eram trabalhadas pelos próprios frades, com várias anotações, o que significa que eram realmente estudadas”, disse. Um desses exemplos é a presença de uma Epístola de São Paulo aos Romanos e outro tipo de documentos como uma narração abreviada sobre a notícia da Nossa Senhora da Arrábida, que possivelmente seria da livraria pessoal dos Duques de Palmela.
No local está também uma crónica da província de Santa Maria da Arrábida, que tem o carimbo da Casa de Palmela e que, ao que tudo indica, tomou como sua a colecção existente no convento. Num segundo núcleo é ainda possível aos visitantes encontrarem livros sobre a censura em Portugal e a forma como a mesma era aplicada, que podia incluir desde o corte de páginas à rasura do nome ou pequenas indicações. O espaço expositivo inclui duas esculturas em madeira, que representam um Cristo morto e outro amarrado a uma coluna, bem como algumas alfaias litúrgicas provenientes do convento, que são do século XVIII, embora com data e autoria incertas.
Recentemente foi realizada uma visita comentada. No futuro, uma das hipóteses passa por tornar a “mostra itinerante” ou até vir a estar patente no próprio convento. Com entrada gratuita, dia 27 de Outubro está prevista a realização da conferência “Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida, que vai contar com a participação de um leque diversificado de especialistas de bibliotecas antigas.