Câmara de Setúbal esclarece polémica do acolhimento de imigrantres ucranianos

A Câmara Municipal de Setúbal retirou do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica superior do município “até ao total e inequívoco esclarecimento desta situação”.

Segundo o Expresso, os ucranianos foram interrogados por russos que lhes perguntaram onde ficaram os maridos e viram os seus documentos serem copiados, deixando-os com medo.

Um desses relatos é contado ao ‘Expresso’ por uma mulher que fugiu da Ucrânia e rumou a Setúbal. Quando foi ao gabinete de apoio aos refugiados da Câmara estranhou ser recebida por pessoas, que lhe falaram em russo. “Perguntaram-me onde estava o meu marido e o que tinha ficado a fazer”, disse adiantando que lhe fotocopiaram os documentos. 

As pessoas que interrogaram a mulher são Igor Khashin, um dos líderes da comunidade russa em Portugal e a sua esposa, Yulia Khashina, funcionária da câmara setubalense, admitida como jurista nos serviços da autarquia em dezembro, depois de um concurso público.

De referir que o município tem em funcionamento, desde o início da invasão russa da Ucrânia, um serviço de atendimento a refugiados ucranianos e tem prestado todo o apoio necessário ao acolhimento destas pessoas, em direta e permanente articulação com diferentes entidades, nomeadamente a Segurança Social, Alto Comissariado para as Migrações, Instituto de Emprego e Formação Profissional e Serviço de Estrangeiros e Fronteira.

A Câmara Municipal de Setúbal repudia “com a veemência qualquer toda e qualquer insinuação de quebra de sigilo no tratamento de dados de cidadãos ucranianos acolhidos nos seus serviços”, refere a autarquia sadina em comunicado.

“No atendimento que é realizado a estes e a outros cidadãos, como foi explicado ao jornal “Expresso”, são cumpridos todos os requisitos técnicos inerentes a um atendimento social. A recolha de informação só é feita com autorização expressa por escrito dos próprios e é realizada por dois técnicos superiores da Câmara Municipal de Setúbal. Trata-se de um procedimento reconhecido e utilizado pelas entidades que, em Portugal, fazem este tipo de trabalho. A informação recolhida serve para instruir os processos de formalização do pedido de acolhimento destes refugiados”, esclarece o município.

“O sr. Igor Kashin, citado na notícia do Expresso, colabora, regularmente, há vários anos, com várias entidades da administração central, entre as quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, tendo prestado esta colaboração já este ano, em instalações de alguns destes serviços em Setúbal, no contexto do acolhimento de refugiados da guerra da Ucrânia. Esteve também a dar apoio, no contexto das relações existentes, desde 2005, entre a CMS e a EDINSTVO, associação de imigrantes de leste, nos serviços municipais responsáveis pelo acolhimento de refugiados”, refere ainda o comunicado

“Após tomar conhecimento de afirmações proferidas, há duas semanas, pela Embaixadora da Ucrânia em Portugal relativamente a esta associação, a Câmara Municipal de Setúbal questionou formalmente e no próprio dia, por ofício, o o senhor Primeiro-ministro, pedindo que se pronunciasse sobre a veracidade destas declarações e esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação, não tendo obtido resposta até ao momento”, adianta.

A Câmara Municipal de Setúbal vai solicitar ao Ministério da Administração Interna que “adote, de imediato, os necessários procedimentos no sentido de averiguar a veracidade das suspeitas veiculadas pelo jornal “Expresso”, manifestando total disponibilidade para prestar toda a informação necessária”.

PAN quer ouvir com urgência Presidente da Câmara Municipal de Setúbal e a Ministra Ana Catarina Mendes

O Pessoas-Animais-Natureza requereu hoje a audição com caráter de urgência da Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, do Presidente da Câmara de Setúbal, André Valente Martins, e da Associação dos Ucranianos em Portugal, na sequência de uma notícia veiculada, segundo a qual refugiados ucranianos terão sido recebidos na Câmara de Setúbal por funcionários russos alegadamente simpatizantes do regime de Vladimir Putin, que se encontram responsáveis pela Linha de Apoio aos Refugiados (LIMAR), tendo recebido mais de 160 pessoas.

A confirmar-se o sucedido e atendendo aos contornos de extrema gravidade da situação denunciada, a porta-voz e deputada do PAN, Inês de Sousa Real, considera que “é absolutamente necessário a averiguação cabal da situação e que sejam prestados os devidos esclarecimentos pelo presidente da autarquia e ministra com a tutela. Queremos também ouvir o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, com vista a apurar esta e outras situações que possam estar a ocorrer no nosso país”.

Luís Montegro sugere demissão do executivo da CDU

O candidato à liderança do PSD Luís Montenegro apelou hoje a uma investigação sobre a situação dos refugiados ucranianos em Setúbal e afirmou que, a ser verdade, “os responsáveis autárquicos têm de se demitir”.

“Confirmando-se o conteúdo desta notícia, trata-se de um ataque sem precedentes à nossa democracia e aos direitos humanos. Investigue-se tudo e já! Se for verdade, os responsáveis autárquicos têm de se demitir. Não pode haver desculpas”, apelou.