Alexandrina Pereira lança “Abril – nome de mulher” em Palmela “Senti ser o momento para dar a palavra às mulheres”

Alexandrina Pereira vai lançar o livro “Abril – nome de mulher, 50 anos, 50 mulheres, 50 testemunhos” no dia 13 de julho, no salão da Biblioteca Municipal de Palmela. Trata-se de uma obra que reúne 50 testemunhos femininos de personalidades de vários setores da sociedade do concelho de Palmela sobre os 50 anos da Revolução dos Cravos. “Senti ser o momento para dar a palavra às mulheres”, desabafa a poetisa, que é também presidente da Casa da Poesia de Setúbal. O livro conta com prefácio do presidente do município de Palmela e inclui um poema coletivo que resultou de frases soltas durante a recolha dos testemunhos. Para setembro está previsto o lançamento de um livro, com o mesmo conceito, em Setúbal.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Como surgiu a ideia de lançar este livro dedicado ao 25 de Abril em Palmela só com testemunhos femininos?

Alexandrina Pereira – A ideia surgiu após ter aceite o convite que me foi feito pela Câmara Municipal de Palmela para integrar a Comissão de Honra criada para a Comemoração dos 50 anos do 25 de Abril. Porquê testemunhos apenas no feminino? Senti ser o momento para “dar a palavra” às mulheres que, como todos sabemos, não tiveram ao longo de todos os anos de ditadura (e infelizmente, muitas ainda não têm) a liberdade de expressarem o que sentiam e o que pensavam.

Setúbal Mais – Qual o critério para a escolha das personalidades convidadas a escrever e se tentou que fossem de vários setores da sociedade local?

Alexandrina Pereira – Tentei inserir no livro, depoimentos de mulheres que tivessem tido vivências e experiências muito diversas. É por isso que podemos encontrar nas páginas deste livro, vidas de quem viveu “sufocada” pela opressão que existia, sem liberdade para a realização dos seus sonhos. Eram meras “serviçais” dos seus “senhores”. Outras, que mesmo num país vigiado pela PIDE (polícia política do Estado Novo) tiveram a coragem de lutar contra o sistema e outras ainda a quem a vida foi tão facilitada que nem deram por viverem num país com um sistema opressor. Tentei (e consegui) que escrevessem para o livro “Abril – nome de Mulher”, mulheres de todas as freguesias do concelho de Palmela: Quinta do Anjo, Poceirão e Marateca, Pinhal Novo e Palmela. Também convidei (intencionalmente) mulheres com pouca ou nenhuma literacia, e outras com elevado grau académico, logo com uma grande amplitude de classes sociais.

Setúbal Mais – Dos testemunhos no livro quais a marcaram mais?

Alexandrina Pereira – Todos os testemunhos me impressionaram, mas destaco um pelo elevado grau de violência sofrido por essa mulher e a força com que se ergueu após a liberdade conquistada após o 25 de Abril. Destaco ainda que as idades de quem participou se situa entre os 40 e os 80 anos. Muito interessante ler o que sentem e pensam as mulheres que nasceram após o dia da Liberdade.

Setúbal Mais – Quem escreve o prefácio do livro e se mais alguém escreveu além dos testemunhos?

Alexandrina Pereira – O prefácio é assinado pelo presidente da Câmara Municipal de Palmela, Álvaro Balseiro Amaro. Para além dos testemunhos, este livro tem a particularidade de conter um poema coletivo que resultou de um encontro que tive com algumas mulheres de Palmela, durante o qual eu fui escrevendo frases soltas ditas por elas sobre o 25 de Abril e a forma como definiam esse dia.

Setúbal Mais – Quando vai ser o lançamento, onde e que cerimónia pretende realizar?

Alexandrina Pereira – A apresentação está prevista para o dia 13 de julho no salão da Biblioteca Municipal de Palmela e contará com alguns elementos surpresa.

Setúbal Mais – Em relação a Setúbal, quando está previsto o lançamento e o que pode adiantar sobre os testemunhos?

Alexandrina Pereira – O projeto idêntico que apresentei em Setúbal, pelos mesmos motivos já descritos em relação a Palmela, tem prevista a apresentado no final de setembro. Este livro tem naturalmente título e capa diferentes, tendo o critério seguido a mesma linha de raciocínio. Em ambas as obras os testemunhos deixados são de fácil leitura e são fundamentalmente lições de vida e também um grito de alerta para que defendamos a liberdade conquistada. A maioria das expressões são tão naturais que se podem catalogar de alma aberta.

Setúbal Mais – Em relação à Casa da Poesia da Poesia de Setúbal o que está previsto até ao final do ano?

Alexandrina Pereira – Até ao final do ano temos basicamente o evento dos “Vinhos Solidários”, mais uma vez em parceria com a Casa Ermelinda Freitas, tendo este ano como destinatária a APAV – Associação de Apoio à Vítima.