Setúbal recebe Congresso Internacional José Afonso

O Congresso Internacional José Afonso que vai realizar-se em 26 e 27 de outubro no Fórum Luísa Todi contará com 15 comunicações, o lançamento de um livro e duas sessões testemunhais, uma sobre a atividade musical de José Afonso, com a participação de Janita Salomé, Francisco Fanhais e Carlos Guerreiro, e outra sobre a ligação de José Afonso à cidade de Setúbal, com a participação de Henrique Guerreiro, Luísa Ramos e Manuela Palma.

“Estou certo de que esta será uma importante jornada de homenagem, por via da valorização da vida e obra de José Afonso, um dos artistas que mais marcou o século XX português e que tão sistematicamente é esquecido e até desprezado”, disse o presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, a 17 de outubro, na Casa da Cultura, na conferência de imprensa de apresentação do congresso, organizado pela Associação José Afonso e pela Câmara Municipal de Setúbal.

O congresso, com entrada livre, é “mais uma iniciativa que contribui para a valorização da memória e da obra do Zeca”, disse o presidente da Câmara, adiantando que se integra nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril em Setúbal e foi proposto na Comissão de Honra das comemorações, “da qual faz parte um importante conjunto de personalidades muito ligadas à revolução na cidade do Sado, como o Zeca a cantava”.

José Afonso é “uma das maiores referências” da cultura contemporânea portuguesa, “cuja obra importa conhecer e divulgar”, sendo “o destaque que lhe é dado nestas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril” justificado com “a profunda ligação de José Afonso à cidade de Setúbal e da cidade e dos setubalenses ao cantautor”, que viveu 20 anos no concelho, onde morreu em 23 de fevereiro de 1987.

De acordo com André Martins, o congresso “reúne tanto especialistas dedicados ao estudo das várias facetas da sua obra, como colaboradores e amigos do cantor, em sessões testemunhais”, e aborda “um extenso conjunto de temas, contemplando a intervenção cívica do cantautor antes, durante e depois do período revolucionário de 1974-75, em defesa da liberdade e da democracia”.

Estão previstas duas sessões testemunhais, uma sobre a atividade musical de José Afonso, com a participação de Janita Salomé, Francisco Fanhais e Carlos Guerreiro, e outra sobre a ligação de José Afonso à cidade de Setúbal, com a participação de Henrique Guerreiro, Luísa Ramos e Manuela Palma.

João Madeira, investigador e membro da comissão organizadora, notou que vai haver 15 comunicações dos mais variados temas, desde os seus tempos em Coimbra até à relação com Setúbal, Paris e a Galiza, da censura à revolução e ao período das décadas de 1970 e 1980, além de duas conferências, uma sobre José Afonso e a Galiza, dada por Antón Mascato, um seu amigo galego, outra de Rui Vieira Nery sobre a sua música.

Vai também ser apresentado o livro “Semeador de Palavras – Entrevistas a José Afonso” e ter lugar um concerto com a Vozes da União, Noitibó, Francisco Fanhais, Manuel Freire e Rogério Cardoso Pires, este às 21h30 de 26 de outubro, igualmente no Fórum Luísa Todi e com entrada gratuita.

“A Associação José Afonso, que tem a sua sede nacional em Setúbal, tinha a ideia de fazer um congresso há vários anos e isso proporcionou-se agora”, afirmou João Madeira, salientando o suporte científico sobre a vida e a obra do cantautor que é dado por entidades parceiras como o Instituto de História Contemporânea.

O programa é “diversificado” e, como avançou, na realidade começa ao fim da tarde de 25 de outubro, sexta-feira, com o “encontro de malta de Setúbal amiga do Zeca”, na Adega dos Garrafões.

Também investigador e membro da comissão organizadora, Albérico Afonso recordou que José Afonso chegou a Setúbal em 1967 para dar aulas, mas não chegou a completar o primeiro período por ter sido alvo de “um processo disciplinar sumário em que era acusado de tratar nas suas aulas de questões como o colonialismo”.

Albérico Afonso disse que o cantor foi “perseguido e ostracizado pela elite setubalense”, ficou desempregado e passou “momentos muito difíceis”, mas acabou por “reencontrar-se com a Setúbal solidária e a Setúbal popular”, sendo um dos fundadores do Círculo Cultural de Setúbal, que “teve um papel muito importante nos últimos anos do combate à ditadura”.

O investigador adiantou ainda que no congresso vai haver “duas ou três intervenções” sobre a “dimensão da intervenção cívica de José Afonso, particularmente em Setúbal”, um tema que é “pouco divulgado”.