Projeto de aproximação facial dá rosto a Freira do Convento de Jesus

A aproximação facial de uma freira do Convento de Jesus, executada a partir do crânio de um esqueleto identificado na intervenção antropológica realizada no monumento nacional, foi apresentada, a 15 de junho, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

“A exibição do vídeo do projeto ‘Aproximação Facial de uma Freira do Convento de Jesus’ vai ser um dos elementos a integrar a exposição permanente do museu, que está em fase final de preparação”, revelou a técnica municipal Maria João Cândido, que há cerca de vinte anos desenvolve o projeto “Vida e Morte das Freiras Clarissas do Convento de Jesus”.

Recorde-se que a autarquia sadina convidou o ilustrador científico Filipe Franco e a antropóloga Nathalie Antunes Ferreira a trabalharem em conjunto para executarem o rosto em vida de uma das freiras que viveram no convento, a partir do crânio de um esqueleto identificado na intervenção antropológica realizada no monumento nacional.

Nathalie Antunes Ferreira analisou os ossos retirados das sepulturas no decorrer das escavações arqueológicas realizadas na ala nascente do convento e através do cruzamento com as informações constantes das crónicas escritas na época foi possível identificar os corpos de 13 freiras que ali residiram nos séculos XVIII e XIX. “Foi possível perceber que a maioria dos esqueletos pertencia a mulheres idosas, que sofriam de diversas patologias, essencialmente, cáries, perda de dentes e osteoartroses”, disse a antropóloga.

Um dos esqueletos, identificado como pertencente à madre soror Michaela Archangela do Ceo (1703-1779), foi escolhido para a execução da aproximação facial, desenvolvida através de modelação digital por Filipe Franco.

Na sessão de apresentação do projeto, o ilustrador científico explicou que “nada do que foi feito é resultado de liberdade artística”, acrescentando que “foi executado a partir do substrato ósseo e contou com os contributos de diversas especialidades, como história, arqueologia, antropologia e medicina”.

O trabalho de Filipe Franco começou com a análise dos dados disponibilizados por Nathalie Antunes Ferreira, designadamente o perfil biológico da freira, a que se seguiu uma análise do crânio para “registar todas as deformidades, assimetrias e eventuais traumas passíveis de condicionar a aparência”.

Após a medição craniana, sempre com recurso a métodos científicos, Filipe Franco procedeu à digitalização tridimensional do crânio, a qual serviu de base para a elaboração da aproximação facial. Seguiu-se um trabalho de “aplicação de marcadores de profundidade dos tecidos moles da musculatura da cabeça para garantir o rigor necessário à correta modelação do contorno da face” e, por fim, a aproximação tridimensional do rosto da madre soror Michaela Archangela do Ceo.

Filipe Branco ressalva que o objetivo da aproximação facial “não é chegar a um retrato absolutamente fiel”, mas sim “a uma fisionomia muito próxima” do indivíduo analisado.

A história e as etapas que conduzem ao resultado deste projeto, que revela o possível rosto de uma freira que viveu no convento no século XVIII, são relatadas num vídeo a integrar na exposição permanente do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, que será inaugurada no dia 15 de setembro.