Edgar Matias, natural de Melides, freguesia do concelho de Grândola, começou a correr há cinco anos com o objetivo de concluir a Ultra Maratona Atlântica Melides-Tróia em 2017. Conseguiu concluir a prova o que despertou uma paixão pela corrida e tem sido muitas as competições que participou, entre as quais as edições de 2019 e 2021 desta competição, onde alcançou dois lugares no pódio, o terceiro e o segundo lugar, respetivamente. Tem vindo também a conquistar lugares de destaque em outras provas nacionais de longa distância, como a Maratona de Lisboa, onde foi o melhor português em 2021.
Florindo Cardoso
Setúbal Mais – Como foi receber o convite para ser embaixador da Ultra Maratona Atlântica?
Edgar Matias – Sendo natural de Melides, recebi o convite com um orgulho enorme porque é uma prova que me diz muito e que desde sempre admirei. Não estava nada à espera deste convite para ser embaixador da Ultra Maratona Atlântica. A minha carreira como atleta é muito curta e começou tarde.
Setúbal Mais – Porque começou a sua carreira desportiva tão tarde e o que despertou para isso?
Edgar Matias – Nos meus tempos escolares praticava atletismo no Desporto Escolar. A vida foi evoluindo, os estudos continuaram até ao ensino superior e o atletismo acabou por ficar para trás, embora desse sempre as minhas corridinhas. Em 2017, decidi que voltaria a correr, e a participar na Ultra Maratona Atlântica com o objetivo de chegar ao fim. Comecei a treinar para esse objetivo.
Setúbal Mais – Como foi esse processo de treino para uma prova tão difícil?
Edgar Matias – Foi complicado porque não tinha experiência nenhuma nem feito distâncias mais curtas, começando logo pelo desafio mais difícil. Foi isso que também me motivou a treinar e o “bichinho” pela corrida foi ficando cada vez mais dentro de mim e os resultados começaram a aparecer e a minha evolução foi rápida.
Setúbal Mais – Quais são as expetativas para este ano?
Edgar Matias – As expetativas são sempre as mesmas, chegar ao fim da prova sem lesões e que areia esteja simpática porque esse é um pormenor que influencia muito o resultado. Esta prova é sempre imprevisível, nunca é igual, vamos ver o que a areia nos deixa fazer.
Setúbal Mais – Tem o sonho de vencer esta prova?
Edgar Matias – Sim, ainda permanece.
Setúbal Mais – Na sua opinião, quais são as qualidades essenciais para terminar esta prova?
Edgar Matias – É o fator psicológico que é muito importante nesta prova para além do aspeto físico. É preciso fazer uma preparação cuidada com alguma antecedência, entre dois a três meses. Para quem vai fazer pela primeira vez esta prova, diria que é preciso fazer uma preparação física com antecedência de quatro a cinco meses. No dia da prova, o que conta é o fator psicológico, as adversidades são muitas, desde o calor intenso, a inclinação do areal na parte inicial que é muito dolorosa para as zonas da anca e da coluna e a dificuldade de correr na areia.
Setúbal Mais – Treina na areia?
Edgar Matias – Sim, embora não muitos treinos na areia para evitar lesões. Treino também a inclinação. É essencial os treinos na areia para ganhar reforço muscular.
Setúbal Mais – Que conselhos dá para quem vai participar?
Edgar Matias – Treinar na areia para ganhar carga e volume.
Setúbal Mais – Há o mito de que o calçado tem influência nesta prova. Qual a sua opinião?
Edgar Matias – Há atletas que metem meias de vidro para não entrar areia. Só que areia vai entrar sempre e estraga a meia. A única coisa que nos protege da areia é o treino porque o pé vai habituando-se ao areal. No fundo, o que interessa é o treino, não há um calçado milagroso nem especial. Apenas um ténis leve e confortável.
Ultra Maratona Atlântica espera mais de 600 atletas
A 17.ª edição da Ultra Maratona Atlântica Melides-Tróia que vai realizar-se dia 31 de julho espera mais de 600 atletas. Esta é a expetativa da vice-presidente da Câmara Municipal de Grândola, e também vereadora do Desporto, Carina Batista, manifestada na conferência de imprensa realizada, na Biblioteca e Arquivo do Município de Grândola, acompanhada dos atletas Edgar Matias e Chantal Xhervelle, embaixadores da edição deste ano da Ultra Maratona Atlântica.
Carina Batista disse que esta é “a iniciativa rainha do município, acarinhada pelos grandolenses e por todos aqueles que todos os anos participam nesta prova”, sublinhando que é “motivo de orgulho continuar a organizar esta prova e dar a conhecer as caraterísticas do nosso município, a nossa autenticidade e a nossa frente atlântica”.
“As nossas expetativas são ultrapassar os números de 2021, mas temos noção que se chegarmos aos 600 participantes já será muito bom”, adiantou a autarca, salientando o impacto económico positivo deste evento para o município, “movimentando a economia local”.
Os dois embaixadores partilharam as suas experiências na qualidade de participantes da Ultra Maratona Atlântica, falaram sobre o seu percurso no atletismo, enalteceram e deixaram o agradecimento ao município, promotor do evento, pela oportunidade de apadrinhar a prova e pela organização. Edgar Matias participou em 2017, 2019 e 2021, alcançando o 3.º e 2.º lugar, respetivamente. Chantal Xhervelle, que marcou presença por videoconferência, participou na totalidade das 16 provas já decorridas, venceu o setor feminino em 2005, 2007, 2009 e 2010 e subiu ao pódio 10 vezes na classificação geral feminina.
Na assistência esteve presente Rui Freitas, atleta de Grândola e totalista desde 2005, participou pela primeira vez na Ultra Maratona com 52 anos. É uma inspiração para todos aqueles que se cruzam e participam no desafio de correr os 43 km, com uma paisagem única entre o oceano Atlântico, as dunas e a serra da Arrábida.
Este ano, espera-se regressar ao modelo das edições anteriores a 2020, com uma partida única em ambas as corridas. A Ultra Maratona terá início às 9h00 na praia de Melides, com chegada a Tróia (Bico das Lulas) a partir das 11h45 e a Corrida Atlântica (15 km) terá a sua partida às 9h30 na praia da Comporta e a 1.ª chegada prevista para as 10h20.
No total das duas competições estão atualmente 440 atletas inscritos, dos quais 160 na Ultra Maratona e 280 na Corrida Atlântica.
Na edição de 2022 da Ultra Maratona estão já confirmadas as presenças dos três atletas totalistas das 16 edições já realizadas: Rui Freitas, Jaime Lamego e Sérgio Tomás.
Recorde-se que em 2021 André Filipe Costa foi o vencedor da Ultra Maratona Atlântica Melides-Tróia, completando os 43 quilómetros em 2h47m54s. No setor feminino, a vencedora foi Patrícia Serafim do Beja Atlético Clube, que completou a corrida com o tempo de 3h18m16s, batendo o recorde da prova. Já na Corrida Atlântica Comporta – Tróia o vencedor foi Bruno Paixão, do Beja Atlético Clube, que fez em 47m47s o total de 15km. O atleta tinha sido também o vencedor na última edição da Corrida Atlântica, em 2019. No setor feminino, o 1.º lugar é foi de Kcenia Bougnova, a correr individualmente, com o tempo de 59m.
