Cooperativa de Pesca de Setúbal contra dragagens no Sado

A SESIBAL – Cooperativa de Pesca de Setúbal, Sesimbra e Sines manifesta-se contra a intenção da APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra de colocar as areias provenientes das dragagens no estuário do Sado  – imersão/deposição dos dragados – numa zona da restinga, situada aos empreendimentos turísticos do Pestana e Soltróia, junto à península de Tróia, por um período de seis meses, entre Novembro de 2018 e Abril de 2019.

Num comunicado, a SESIBAl afirma que “em nome dos pescadores que representa, e nos seus legítimos direitos, bem como de toda a comunidade piscatória de rio e Atlântico, não pode aceitar o TUPEM (Título de Utilização Privativa do Espaço Marítimo Nacional) para imersão de dragados, que querem colocar na zona da restinga, viveiro selvagem e habitat de choco, polvo, salmonete, petinga, carapau, cavala, linguado, entre outras espécies”.

“Se esta decisão for aprovada com o lançamento de areias, e lamas, metais pesados, será o fim da secular pesca, local e artesanal. Não iremos permitir que os interesses de quem quer instalar, ponha em causa a pesca da nossa cidade”, garante a cooperativa de pesca.

Esta posição surge  após terem conhecimento de que a Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos publicou o edital nº 5/2018 para o título de utilização privativa do espaço marítimo nacional, que tem aberto o período de consulta pública entre os dias 28 e 29 de Outubro de 2018.

https://www.dgrm.mm.gov.pt/documents/20143/74744/Pedido_APSS_Imers%C3%A3o_Delta_Sado.pdf/6dd7d53b-14ec-0911-4f13-16697cb59f0d

Neste edital a APSS pede autorização para a deposição das areias neste local do estuário do Sado assegurando um plano de monitorização da colocação de areias nesta zona do Delta do Sado. Só que para os pescadores e ambientalistas essas areias podem trazer resíduos contaminados pondo em causa a fauna do estuário do Sado.

 

Recorde-se que na noite de 3 de Outubro, decorreu uma vigília, na praça do Bocage, em frente ao edifício da Câmara Municipal de Setúbal, convocada através do grupo ‘Sado de Luto’ na rede social Facebook, que receia pelas consequências da retirada de mais de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do estuário do Sado, para aprofundar o canal de navegação, juntando mais de 100 pessoas.

“A minha paixão pela serra da Arrábida e por toda esta paisagem e suas particularidades é demasiado séria para que eu não leve também a sério o que estão a fazer ao estuário do Sado”, afirma Sérgio Godinho, um arquiteto paisagista natural de Espinho, mas que vive em Azeitão e que se assume como “setubalense por adopção”.

Vítor Joaquim, professor universitário na área da ciência e tecnologia das artes, que também integra o movimento ‘Sado de Luto’, reconheceu não ter conhecimentos específicos na área do ambiente, porém disse ter “sensibilidade suficiente para perceber que as dragagens no estuário do Sado são um atentado contra a natureza”.

O núcleo duro deste movimento promete mobilizar esforços para lutar contra o que considera ser um atentado ambiental, através de uma campanha de sensibilização dos setubalenses, admitindo também recorrer à Justiça, com providências cautelares e outras acções, a nível nacional e europeu.

Em causa está a empreitada de melhoria das acessibilidades marítimas ao porto de Setúbal, consignada em 12 de Setembro, numa cerimónia presidida pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

A obra é igualmente contestada numa petição pública que, em poucos dias, já recolheu mais de quatro mil assinaturas.

“Não bastam já as diárias perturbações no estuário do Sado, com as actividades relacionadas com o porto de Setúbal e demais indústrias, que agora irrompe uma colossal – e nunca antes vista – retirada de areia do fundo do rio Sado até à profundidade de 15 metros ao longo de um perímetro com cerca de 19 quilómetros e uma área aproximada de 6,5 quilómetros quadrados”, acrescenta o documento.

Os contestatários das dragagens, entre outras preocupações, alertam para o perigo de desaparecimento da população de golfinhos (roaz-corvineiro) e de muitas outras espécies que se reproduzem no estuário do Sado, uma zona protegida que é reconhecida como uma autêntica maternidade marinha, bem como para a possibilidade de se verificarem movimentações de areias das praias para o canal de navegação.