Categories: Opinião

As cruzes do Monte Abraão

Em 1954 o Duque de Palmela mandou erigir as três cruzes, em pedra, lá bem no alto, naquele lugar quase inacessível da Serra da Arrábida.

Elas encontram-se junto ao céu e onde um trilho de difícil acesso se apresenta agora muito obstruído pela vegetação e até bastante perigoso devido às pedras soltas e aos muitos buracos existentes, alguns deles muito pouco visíveis.

Certo dia, alguém olhou lá para cima e reparou que das três cruzes de pedra até então existentes, uma delas tinha desaparecido misteriosamente, julgando-se que tenha caído por qualquer motivo que se ignora, havendo também quem tenha aventado a hipótese da mesma ter sido destruída por vandalismo. Porém, existe uma outra versão que diz que ela foi destruída com um tiro certeiro de um navio da armada, numas quaisquer manobras militares.

O proprietário destas terras nunca se conformou com este atentado ao património histórico e cultural. Para ele, a falta de uma das cruzes lá em cima era como se o local estivesse mutilado. Por isso foi colocada no lugar da cruz feita de pedra, uma outra construída em madeira.

Passado algum tempo a cruz de madeira também acabou por cair ficando o conjunto mais uma vez mutilado.

Este trio lembrava as três cruzes um dia erigidas no Monte do Calvário, tal como aquelas que foram colocadas para a crucificação de Cristo, ladeado por outros dois condenados.

Um dia, uma brilhante ideia surgiu! E o proprietário destes terrenos conseguiu fazer uma inédita parceria com o Parque Natural da Arrábida e com o Estado-Maior da Armada e, numa delicada operação técnica, utilizando um helicóptero da Marinha, instalou lá em cima, no Monte Abraão, uma nova cruz, em pedra calcária, com a altura de três metros e com um peso na ordem de uma tonelada.

Foi no dia 27 de junho de 2001 que ela foi para ali levada, pedra por pedra, após o que uma equipa de especialistas a montou devidamente naquele íngreme local, onde duas décadas antes teria havido uma idêntica.

Com a colocação desta terceira cruz foi assim devolvido e este espaço a sua dignidade e o seu significado histórico e cultural, cumprindo-se ao mesmo tempo uma velha aspiração da família do Conde da Póvoa, filho dos Duques de Palmela.

Rui Canas Gaspar

 

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