Setúbal

Mural “Tróia. Tão perto. Tão longe! Há 16 anos a ver navios” na zona ribeirinha de Setúbal

O quinto e último mural do “Histórias que as Paredes Contam”, centrado na temática do elevado custo do acesso por barco a Tróia, foi pintado a 27 de abril, ao longo de sete horas, numa parede privada com cerca de 40m2 no Baluarte do Livramento, cedida para o efeito à organização da iniciativa, na zona ribeirinha de Setúbal, frente ao Clube Naval Setubalense.

“Dos cinco trabalhos criados no âmbito do projeto, este será o que apresenta um toque mais popular nos seus traços e um cunho mais local na sua mensagem, que certamente diz muito a muita da população de Setúbal”, afirma Helena de Sousa Freitas, coordenadora do “Histórias que as Paredes Contam”.

“Tróia. Tão perto. Tão longe! Há 16 anos a ver navios” pode ler-se no mural, que alude ao facto de, entre 2008 e 2024, o bilhete de um passageiro a pé no barco para aquela península ter subido de 1,15€ para 9,10€.

“Uma diferença de 7,95€ que equivale a um aumento de quase 700%, quando o salário médio nacional registou, no mesmo período, uma subida de pouco mais de 50%”, sublinha Helena Freitas, dando como exemplo que “uma família com pai, mãe e dois filhos adolescentes que queira ir passar o dia à outra margem paga 36,40€”.

Perante o brutal aumento do preço do bilhete da viagem de catamaran, “milhares de setubalenses que cresceram a passar os verões em Tróia veem ser-lhes vedado – não por barreiras físicas, mas pela barreira económica – o acesso a uma praia que, embora geograficamente parte de outro concelho, sempre sentiram como sua”, conclui a responsável.

De salientar que com o encerramento do ciclo de murais, o projeto arranca com uma nova exibição da mostra “Paredes limpas, Povo mudo”, até 10 de maio, no átrio da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, numa versão que se expande das 45 fotografias apresentadas em dezembro na Casa da Cultura para 50 imagens.

“A exposição dispõe agora de dez núcleos temáticos, um dos quais reúne os cinco murais criados no âmbito do projeto”, informa a organização.

António da Paixão Esteves, Helena de Sousa Freitas, Joaquim Torres, José Luís Costa, Leonardo Silva, Luís Humberto Teixeira e Nuno Neves são os autores das fotos que acompanham mais de 30 anos de murais, pichagens e stencils inscritos na malha urbana de Setúbal. 

O encerramento de fábricas na região, que lançou centenas de pessoas no desemprego na década de 90, a coincineração na Arrábida, que chamou os setubalenses à rua em viva objeção nos anos 2000, e a elitização de Tróia, motivo de contínuas manifestações de desagrado da população, contam-se entre os momentos da história local que chegaram às paredes pela mão de partidos políticos, estruturas sindicais, movimentos cívicos e grupos libertários. E que podem ser revisitados nesta mostra fotográfica. 

“Apesar de destacar assuntos de cariz local, a exposição também aborda matérias de âmbito nacional e internacional, algumas das quais voltaram recentemente à ordem do dia, como o direito à habitação ou os conflitos no Médio Oriente”, revela a organização. 

O projeto “Histórias que as Paredes Contam – 50 anos de Muralismo em Setúbal”, que desde setembro de 2023 desenvolve na cidade um conjunto de eventos no âmbito do cinquentenário da Revolução dos Cravos, já promoveu também cinco conversas públicas e tem prevista a edição de um álbum de imagens e histórias sobre a prática muralística.

Com chancela do Monte de Letras e incluído no Programa das Comemorações Nacionais dos 50 anos do 25 de Abril, o “Histórias que as Paredes Contam” deve o nome à tese de doutoramento que Helena de Sousa Freitas defendeu no ISCTE-IUL em 2019, e tem por parceiros a Câmara Municipal de Setúbal, através do programa “Venham Mais Vinte e Cincos”, o Instituto Politécnico de Setúbal, a Associação dos Municípios da Região de Setúbal, juntas de freguesia do concelho, a União Setubalense e a Associação Cultural Festroia.

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