Entrevistas

Alexandrina Pereira, presidente da Associação Cultural Sebastião da Gama: “A Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama é o expoente máximo da realização de um sonho”

Em 2021 vai concretizar-se o sonho de Joana Luísa, viúva de Sebastião da Gama. A Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama vai abrir na residência onde viveu a viúva do poeta da Arrábida, em Azeitão, e que foi deixada em testamento à Associação Cultural Sebastião da Gama (ACSG). Alexandrina Pereira, presidente da ACSG salienta a importância desta obra para preservar a memória de Sebastião da Gama como poeta e pedagogo.

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Qual a importância da abertura da Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama para a Associação Cultural Sebastião da Gama e para a cultura do país?

Alexandrina Pereira – A Associação Cultural Sebastião da Gama considera a Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama como o expoente máximo da realização de um sonho. Perpetuar naquele espaço a memória da mulher que dedicou toda a sua vida à divulgação da obra literária do seu marido, permitindo assim que o conhecêssemos melhor, não só o poeta, mas também o pedagogo e o maravilhoso ser humano que foi Sebastião da Gama. Tudo isto é de extrema importância não só para a associação, mas para todos, em diferentes planos – para Azeitão e Setúbal, pelo carinho que as pessoas lhes têm dedicado e por ambos serem naturais daqui; para a cultura nacional, por se tratar de um poeta importante da literatura portuguesa de meados do século XX e pelo contributo importante que a preservação da sua obra constitui para o património cultural; para os investigadores e estudiosos, por poderem saber mais e descobrir novas coisas sobre Sebastião da Gama e todo o ambiente cultural em que ele esteve envolvido; para todos nós, que amamos esta região, por mantermos a memória de duas pessoas que transmitiram entusiasmo, cultura e afecto e construíram uma história linda.

S.M.  – A Associação sente que está a cumprir o sonho de Joana Luísa?

A.P. – Sem dúvida que sim. Quando Joana Luísa incluiu no seu testamento a vontade de que o espaço onde sempre residiu fosse o mesmo onde a associação tivesse a sua sede, já ela sentia que seria a forma mais digna de ali ficar devidamente preservado todo o espólio de Sebastião da Gama, que ela guardou e organizou religiosamente ao longo da sua vida. Pensamos que o seu sonho, que ela foi seguindo insistentemente, preservando, coligindo, divulgando, partilhando a obra do seu Sebastião, vai prosseguir e esta Casa-Memória continuará a alimentar o espírito do poeta e o amor que enlaçou dois seres de excelência.

S.M. – Como foi possível chegar até aqui?

A.P. – Quando Joana Luísa dispôs o destino desta casa, foi a forma de dar continuidade ao seu sonho. Mas também se tornou evidente que a Associação Cultural Sebastião da Gama só por si não conseguiria concretizar esse passo. Por isso, a participação e apoio da Junta de Freguesia de Azeitão e da Câmara Municipal de Setúbal têm sido fundamentais, com muito entusiasmo por parte de quem as dirige, Celestina Neves e Maria das Dores Meira, e ainda de um conjunto de técnicos que têm participado na concepção do que vai ser esta Casa-Memória. Queríamos que esta casa fosse um ponto de divulgação e de transmissão de entusiasmo, aquilo que orientou Joana Luísa. Nunca poderia ser Casa-Museu, porque o poeta não viveu neste espaço. Assim, entendemos como justa e correcta a designação de Casa-Memória, princípio que congregou vontades e que esperamos que frutifique. O futuro desta Casa-Memória terá também de ser construído a partir desta conjugação de esforços e de interesses, pois a memória é uma forma colectiva de dar vida.

S.M. – O que vai ser possível ver nesta Casa-Memória?

A.P. – Na Casa-Memória pode encontrar-se diversos manuscritos do poeta, assim como as primeiras edições dos livros publicados por Sebastião da Gama, juntamente com todas as outras publicadas postumamente. Poderemos ver objectos que lhes pertenceram e manifestações de homenagens que lhes foram feitas. O visitante poderá ainda aceder a um fundo bibliotecário com referências locais e nacionais, a bibliografia sobre Sebastião da Gama e, sob condições a serem estipuladas, consultar documentação relacionada com o poeta. Haverá peças expostas, umas em permanência, outras em rotatividade, assim como será divulgada a sua cronologia no espaço visitável.

S.M. – A Associação vai ter uma programação para a dinamização do espaço? O que poderá ser feito?

A.P. – Certamente que a Associação tudo fará para que aquele espaço tenha dinamismo e actividades de modo a criarem interesse nos visitantes, para que sintam vontade de voltar e de participar. Queremos um espaço vivo, onde a poesia aconteça, os encontros culturais sejam atractivos e participados. Ali, poderão (e deverão) acontecer conferências, debates, tertúlias, tudo o que nos leve ao célebre verso “Pelo Sonho é que Vamos”. Naturalmente que a programação será gizada em conjunto com a rede municipal de museus, em interacção com outros espaços, tentando abranger vários públicos.

S.M. – A Associação considera que esta Casa-Memória poderá funcionar como factor de maior divulgação da obra de Sebastião da Gama?

 A.P. – Desde a criação da Associação Cultural Sebastião da Gama, não existe outro objectivo que não seja o da divulgação da obra do nosso patrono. Queremos que o “nascer” desta Casa-Memória tenha a relevância necessária para levar mais longe o nome de Sebastião da Gama, elevando também o papel dessa grande senhora que foi Joana Luísa, que teve o privilégio de o ter como companheiro e lhe dedicou toda a sua vida, transformando a saudade em conhecimento e em partilha, não deixando que o poeta fosse esquecido. É também significativo que esta Casa-Memória tenha abertura no ano em que passam 70 anos sobre o livro “Campo Aberto”, a última das três obras que Sebastião da Gama publicou, um título que permite olhar a poesia como um espaço de criação e de disponibilidade para o mundo.

S.M. – Em relação ao Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, quando está prevista a cerimónia de entrega do prémio?

A.P. – O Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, que este ano teve como vencedora Anabela Coelho, de Coimbra, acontece numa altura em que a normalidade não existe, devido à pandemia do Covid-19. Assim, a cerimónia da entrega do prémio tem sido adiada. Esperamos que aconteça brevemente, talvez no mês de Fevereiro por ser o mês em que se conjugam duas datas da vida deste casal, a morte de Sebastião da Gama, em 7 de Fevereiro, e o nascimento Joana Luísa, no dia 28.

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