Entrevista com António Figueira Mendes, presidente da Câmara Municipal de Grândola: “Nos próximos dois anos temos mais de 10 milhões de euros em investimentos em obras”

 O concelho de Grândola vai sofrer uma grande transformação a nível da requalificação do património e da construção de equipamentos, que somam 10 milhões de euros de investimentos nos próximos dois anos, graças a fundos comunitários. Sobre os projectos turísticos parados no concelho, António Figueira Mendes tem esperança de que investidores estrangeiros e portugueses terminem esses empreendimentos que podem vir a criar milhares de postos de trabalho no concelho.

 

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – O orçamento da Câmara Municipal de Grândola para 2017 é o primeiro que engloba uma fatia importante de investimentos comunitários. Qual a sua importância para o desenvolvimento do concelho?

António Figueira Mendes – É um orçamento muito importante para o desenvolvimento do concelho, porque inclui um volume de investimentos que tinha um atraso de dois anos, e só agora foi possível aprovar os respectivos projectos com a certeza de que as candidaturas aos fundos comunitários seriam aprovadas. Nos próximos dois anos temos mais de 10 milhões de euros em investimentos em obras públicas. Há muitos anos, em termos de investimento público no concelho, que não tínhamos um valor tão volumoso em obras públicas, sobretudo na vila de Grândola. Muitos destes investimentos têm lugar na requalificação de edifícios existentes como a Biblioteca Municipal, que será ampliada, a Igreja de S. Pedro, que será transformada num núcleo museológico, num valor superior a 600 mil euros, a Escola Básica 1 (EB1) e Jardim de Infância de Grândola, que representa 3 milhões de euros, o Jardim 1.º de Maio, o ex-líbris da nossa vila e que neste momento está completamente degradado que será alvo de um investimento perto de 1 milhão de euros. Estas obras terão um impacto muito grande na economia concelhia porque vai criar emprego e impacto no comércio e serviços, contribuindo para a dinamização económica do concelho.

S.M. –A comparticipação (15%) que a câmara terá de investir em complemento aos fundos comunitários está garantida?

A.F.M. – Sim. Temos adoptado uma estratégia de garantir que temos sempre os 15% necessários para a cobertura da responsabilidade financeira do município. Para além disso, na ampliação da EB1 não conseguimos os 85% de fundos comunitários, porque uma boa parte do investimento não é elegível, mas o montante em falta está coberto pelas nossas finanças. Temos também um empréstimo já garantido para que em determinadas alturas do processo, se houver atrasos no recebimento dos fundos comunitários, possamos pagar aos empreiteiros. Sublinho que isto só é possível porque conseguimos nos últimos três anos recuperar a situação financeira da câmara que herdámos do executivo anterior. Só equilibrando as contas é que temos possibilidades de voltar investir e ter capacidade de endividamento suficiente para recorrer a empréstimos junto da banca para cumprir os compromissos.

S.M. – Em 2016 foi possível reduzir drasticamente a dívida da câmara?

A.F.M. – Sim, Conseguimos reduzir em mais de 3 milhões de euros. Admitimos que este ano vamos passar com um saldo de tesouraria de mais de 2 milhões de euros, que passará para 2017. Isso dá-nos garantia de que não vamos ter problemas financeiros.

S.M. – Está também prevista a requalificação da Praça da República?

A.F.M. – Sim. Vamos recuperar a Praça da República, os antigos Paços do Concelho, a Casa Frayões Metello e a antiga Adega de António Inácio da Cruz. Nesta vamos criar um espaço interessante a que vamos chamar a ‘Casa dos produtos endógenos’ que, além de recuperar a adega, criará um novo espaço para instalar uma pequena sala com 50 a 60 lugares para realizar workshops, seminários, debates e apoiar os vitivinicultores e agricultores que podem promover e vender os seus produtos e vamos ter uma pequena vinha a plantar, que servirá para a parte pedagógica das crianças para explicar como se transforma a uva em vinho. A Praça da República, um ícone da nossa vila, vai ser recuperada no âmbito da empreitada da biblioteca municipal.

S.M. – Dentro de dois anos, a vila estará completamente diferente com o património requalificado…

A.F.M. – Sim. Aliada a estas obras temos ainda a empreitada de reabilitação urbana que está a avançar. Neste momento, nota-se que há pessoas a comprar imóveis para a reabilitar no centro da vila e os proprietários a recuperaram a suas casas, graças aos benefícios que a câmara dá, com redução de impostos. A ideia é trazer para as pessoas para o centro da vila, que estava praticamente deserto.

S.M. – Nos últimos tempos têm sido publicadas notícias de que há grupos estrangeiros interessados em comprar projectos turísticos que estão neste momento parados, como a Costa Terra, Pinheirinhos e Herdade da Comporta. Têm chegado à Câmara essas intenções?

A.F.M. – Posso dizer que neste momento há de facto um movimento à volta desses empreendimentos turísticos. Os próximos dois anos vão ser muito importantes em termos de desenvolvimento do concelho porque alguns desses projectos vão ter novos investidores. Admito que grande parte seja capital estrangeiro, franceses, chineses, americanos mas também há interesse de português. Vamos recuperar um pouco daquilo que se perdeu aqui desde 2007/2008. Creio que haverá outra dinâmica económica.

S.M. – Seria importante porque criaria muitos postos de trabalho no concelho?

A.F.M. – Sim. Pode mudar o paradigma em termos de criação de emprego. É claro que temos de formar, em conjunto com administração central, pessoas na área abrangente do turismo, para poderem usufruir dos empregos que serão criados. Se não tivermos gente que corresponda às necessidades desses empreendimentos, vamos ter problemas.

S.M. – Respeitante ao IC1, como está a acompanhar o processo, que tem sofrido atrasos?

A.F.M. – Não podemos perder a esperança e vamos continuar a lutar junto do governo para que as obras sejam feitas. Não há razões para que as obras não se concretizem. É claro que há interesses privados, das empresas concessionárias a que foi retirado a construção do IP8, mas não se justifica que nem o governo anterior nem o actual tenham sabido encontrar soluções em negociar a dívida para com o concessionário e simultaneamente fosse efectuada essa obra. O risco aumenta todos os dias, há acidentes mortais e prejuízos económicos para as pessoas. Na última reunião com o presidente das Infraestruturas de Portugal foi nos garantido que o processo está quase concluído mas não pode garantir um prazo para o início das obras.