Distrito

XXIII Concurso de Vinhos da Península de Setúbal premia os 29 “Melhores da Região”: Casa Ermelinda Freitas, Adega de Pegões e Venâncio da Costa Lima são os grandes vencedores

O “Venâncio da Costa Lima Reserva da Família Superior 10 Anos” destacou-se entre os 98 vinhos avaliados pelo júri, de 18 produtores da península de Setúbal, com a conquista de dois prémios, o de “Melhor Vinho” a concurso e o de “Melhor Vinho Generoso” do XXIII Concurso de Vinhos da Península de Setúbal premia os 29 “Melhores da Região”. O prémio principal foi entregue pelo presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, pelo presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) da Península de Setúbal, Henrique Soares, e pelo Secretário de Estado da Agricultura, João Moura.

A Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões foi premiada com o “Melhor Vinho Tinto”, atribuído ao “Adega de Pegões Grande Reserva 2021”, e o vinho “Terras do Pó Reserva 2022” da Casa Ermelinda Freitas arrecadou o prémio de “Melhor Vinho Branco”. Já o prémio de “Melhor Vinho Rosado” foi atribuído ao “Guitarrista Moscatel Galego Roxo 2022”, de Fernando Santana Pereira.

Em termos globais, a Casa Ermelinda Freitas ganhou 10 medalhas (sete de prata e três de ouro), a Adega de Pegões seis medalhas (três de ouro e três de prata), sendo os grandes vencedores na cerimónia de entrega de prémios do Concurso de Vinhos da Península de Setúbal, realizada, a 29 de maio, na Quinta Real Cerimónia em Santiago do Cacém, onde foram distinguidos 29 vinhos, entre os quais 8 medalhas de ouro e 21 de prata. A cerimónia contou com uma centena de pessoas, entre as quais o secretário de Estado da Agricultura, João Moura, os presidentes dos municípios de Santiago do Cacém, Ourique, Sines e de Setúbal, autarcas e agentes económicos ligados ao setor.

Para o presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), Henrique Soares, esta edição do Concurso de Vinhos da Península de Setúbal foi “muito especial para todos nós, pois foi a primeira vez que a cerimónia teve lugar a sul”. “Nesta edição demonstrámos, mais uma vez, a consistência qualitativa dos vinhos da região, toda a sua diversidade e capacidade de produzir vinhos diferentes, graças à riqueza e diversidade de todo este território, bem como à tenacidade dos seus diversos produtores”, frisou Henrique Soares.

“O primeiro trimestre de 2023, embalo-nos para uma certa dose de euforia, retomando o clima de 2019 que se vivia, mas à medida que o ano transato foi avançando, fomos percebendo que algo tinha mudado”, salienta Henrique Soares, sublinhando que as causas para “este novo ciclo do panorama vitivinícola mundial estão identificadas, embora algumas tenham um carácter conjuntural ligadas ao ciclo económico que atravessamos no pós-pandemia e no deflagrar de conflitos que alteraram a confiança dos mercados e dos consumidores, e ameaçam a globalização económica que muitos julgavam e questionavam”.~

“As consequências são a apreensão generalizada, quando estamos a três meses de mais uma vindima, embora isso não aconteça na nossa região devido aos baixos níveis de stock registados há muitos anos, que nos conduziram a uma admirável taxa de comercialização de 85% dos vinhos produzidos na região”, concluiu.

O presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, anfitrião do evento disse que “é importante esta aproximação dos produtores do sul do distrito à região”, sublinhando que “temos novos produtores” no concelho devido à “dinâmica turística da região do Alentejo” e no nosso caso “em dez anos quadruplicámos o número de dormidas turísticas” e “o vinho e a enologia é uma grande arma de ponto de vista da atração dos turistas aos territórios”.

O júri presidido pelo prestigiado crítico de vinhos, Aníbal Coutinho, foi composto por um diversificado leque de jurados, profissionais ligados ao mundo dos vinhos: técnicos especialistas em análise sensorial das várias regiões vitivinícolas portuguesas, enólogos, escanções, jornalistas e membros do painel de prova da ASAE.

O secretário de Estado da Agricultura elogiou os autarcas que são “os grandes guardiões do território que em parte é ocupado por atividades rurais”, acrescentando que “devemos valorizar e intensificar o nosso apoio aqueles que tanto lutam e trabalham nos solos rurais”.

“A nossa grande missão no Ministério da Agricultura é dar dignidade e alento ao mundo rural e atividades agrícolas, da mais diversa natureza, e também na diversidade vinícola que a todos engradece pela variedade e qualidade que nos é oferecida de norte a sul do país e regiões insulares”, disse João Moura.

O secretário de Estado criticou “a contaminação negativa e deturpada, construída ao longo dos anos, daqueles que habitam no mundo urbano e tantas vezes não têm conhecimento do meio mais ruralizado e pura ignorância dizem que aqueles que trabalham a terra são inimigos do ambiente porque utilizam pesticidas e consumem muita água indevidamente”, assumindo que a missão do governo e dos autarcas é transmitir a mensagem às novas gerações para que sejam “amigos daqueles que cultivam a terra”.

João Moura elogiou ainda a região de Setúbal, que é “uma das que melhor tem aproveitado e potenciado as exportações do vinho em Portugal e que tem levado lá fora aquilo que é um dos produtos que nos devemos orgulhar” e “devemos ter orgulho naquilo que produzimos e estimular para produzir de forma mais eficaz e mais rentável”.

Principais vencedores do concurso alertam para problemas no mercado

Os produtores da região de Setúbal estão preocupados com a instabilidade do mercado nacional e internacional. A Casa Ermelinda que foi a mais premiada já é uma marca consolidada no mercado, mas a Venâncio da Costa Lima surpreendeu ao ganhar o prémio de melhor vinho a concurso.

João Vida, da Adega Venâncio da Costa Lima, vencedora do Melhor Vinho a concurso, pela primeira vez, sublinha que “é sempre uma alegria e um reconhecimento muito agradável para toda a equipa”. “O vinho é como o perfume, cada um gosta do seu, desde que não tenha defeitos, devemos respeitar todos”, adianta o administrador da adega sita na Quinta do Anjo, concelho de Palmela, e neste caso considero que “é excelente”.

“Todos os vinhos da península de Setúbal são bons”, frisa João Vida, acrescentando que este ano está a decorrer bem, apontando como principal desafio “adaptarmo-nos à exigências do futuro, em termos ambientais, dos consumidores mais jovens, passar a cultura do vinho para as próximas gerações, com moderação e sem perigos”.

Leonor Freitas, proprietária da Casa Ermelinda Freitas, frisou que “fico muito contente” com estes prémios, elogiando “a qualidade dos vinhos da região de Setúbal”, adiantando que “tem todas potencialidades e a Casa Ermelinda Freitas tenta aproveitá-las e  contribuído para isso”. “É para mim, uma honra poder dignificar a região”, acrescentou.

A responsável considera que este concurso na região é muito importante porque “permite um convívio entre os produtores que muitas das vezes não têm tempo, estão envolvidos no seu trabalho e falam e encontram-se pouco”, adiantando que também “é importante ver os colegas que também ganham e transmitir isso ao consumidor, precisamos de vender e aqui, onde estamos, em Santiago do Cacém, é mais difícil chegar os nossos vinhos, embora estejam na península de Setúbal, esta iniciativa é extremamente importante”.

Leonor Freitas revelou que a produção de 2023 foi “grande e correu bem”, mas “há muitas lutas, não podemos cruzar os braços, e na Casa Ermelinda Freitas estamos a conseguir a ultrapassar as dificuldades a até a ajudar a região a comprar algum vinho e uvas”. A adega tem uma produção anual de 13 a 14 milhões de litros de vinhos.

“Temos assistido a uma instabilidade devido às guerras, a subida das taxas de juro, menos turismo e tudo isso tem influência no poder de compra do consumidor”, afirma Leonor Freitas, mas como “a Casa Ermelinda Freitas tem um leque muito grande, abrangendo vários setores económicos, temos vinhos para todas as ocasiões e bolsas, vamos mantendo as vendas”.

A nível de exportações tem sido “a nossa grande luta e conseguimos manter, exportando para 42 países, sendo os principais Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Polónia, Nigéria e Colômbia”. O mercado chinês que “era muito grande” para a Casa Ermelinda Freitas fechou-se durante o covid e só agora começou a abrir. “Estamos sempre à procura de novos mercados, tempos um comercial internacional e conseguimos equilibrar as coisas”, adianta.

“O turismo é fundamental, gosta de visitar adegas, beber bons vinhos e para eles é barato, sendo uma grande oportunidade” e quando “melhora o tempo as pessoas consomem mais”, disse ainda a responsável.

“A minha mãe se fosse viva ficaria muito orgulhosa da filha ter dado continuidade aquilo que era da família e temos já a quinta geração a assegurar o futuro da Casa Ermelinda Freitas”, conclui.

Recentemente recebeu o Prémio Personalidade do Ano da ANPV. “Foi extremamente importante a até emocionante, fiquei muito satisfeita por haver na nossa região a ganhar este prémio é gratificante e traz responsabilidade”, confessou Leonor Freitas.

Para Jaime Quendera, enólogo e administrador da Adega de Pegões, “é um sinal de que o trabalho decorreu bem, é um ano bons vinhos brancos, tintos e moscatéis e aqui até ganhámos um prémio”. “Foi um ano excelente e para nós é um reconhecimento da qualidade daquilo que fazemos”, adianta o responsável da Adega de Pegões que ganhou neste concurso três medalhas de ouro e três de prata, entre as quais de “Melhor Tinto”.

O responsável disse que “até ao momento tem sido o segundo melhor ano de sempre e ainda vamos a meio”. “Tentamos fazer sempre o melhor, temos boas uvas, é uma região muito rica, e felizmente temos tido vinhos bons”, acrescenta.

Jaime Quendera considera que a nível de exportações está a ser “um ano mais difícil” porque “há uma grande crise mundial devido às guerras, acréscimo da instabilidade e uma retração do consumo lá fora”.

“As exportações estão a cair um pouco mas está a ser um ano forte, embora não tão bom como em anos anteriores”, disse Jaime Quendera. “São acertos no mercado, não podemos crescer eternamente 10 a 20%”, afirma o administrador, revelando que neste momento o principal mercado externo é o Canadá, Países Baixos, Reino Unido, Polónia, entre cerca de 50 mercados externos.

A Adega de Pegões exporta cerca de 35% e o restante vai para o mercado nacional (65%), sobretudo na Grande Lisboa e “já mantemos este nível há muitos anos”.

“Toda a gente conhece os vinhos de Pegões, são bons e baratos e a Adega de Pegões é a maior cooperativa de Portugal em vendas e somos a terceira empresa que mais vende no país, só atrás da Sogrape e a Casa Ermelinda Freitas”, sublinha Jaime Quendera.

Para Luís Silva, enólogo da Adega de Palmela, “é sempre gratificante e bom”, adiantando que “estes concursos acabam por ser uma lotaria”. “É sempre bom quando ganhamos e temos de desfrutar destes momentos”, adianta Luís Silva.

O enólogo considera que “é o reconhecimento do nosso trabalho e de uma estratégia que a Adega de Palmela tem vindo a adotar nos últimos anos, que aos poucos começa a dar mostras de êxito e reflete-se nos prémios que vamos ganhando a nível nacional e internacional”.

Luís Silva afirma que 2024 está a ser “um bom ano, sobretudo com castas diferentes e apostas no ensopamento das nossas vinhas, que têm vindo a demonstrar que é um sucesso”.

O responsável considera que em relação ao futuro “o desafio é grande porque o mercado está muito instável, há muitas variantes e neste momento temos que nos reinventar”. “O mercado está estranho, o mundo está muito pequeno com as guerras e as consequências do pós-covid, e temos de apostar na qualidade e competitividade”, concluiu.

admin

Recent Posts

Sardinha é rainha de semana gastronómica em Setúbal

A sardinha é o ingrediente principal dos pratos setubalenses, de 12 a 21 de julho,…

15 horas ago

Santiago Style Weekend anima ruas de Santiago do Cacém

O Santiago Style Weekend (SSW) regressa às ruas da cidade de Santiago do Cacém nos…

15 horas ago

Marinha coordena ação de busca e salvamento de homem de 71 anos ao largo de Setúbal

A Marinha através do Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa (MRCC…

3 dias ago

“A Mercearia vem à Baía” combina petiscos e música em Setúbal

“A Mercearia vem à Baía”, evento gastronómico acompanhado de música ao vivo, arranca a 4…

4 dias ago

Morreu Manuel Fernandes, antiga glória do Sporting

Manuel Fernandes, antiga glória do Sporting e natural de Sarilhos Pequenos, no concelho da Moita,…

4 dias ago

Júri do concurso das Marchas de Setúbal retira acusação de “plágio” ao autor da música dos Ídolos da Praça

O júri do Concurso das Marchas Populares de Setúbal 2024 emitiu um esclarecimento sobre a…

6 dias ago