Palmas para Nuno Melo

O actor Nuno Melo morreu no passado dia 9 de Junho aos 55 anos de idade, vítima de um cancro no fígado. “Palmas para o meu pai” foi assim que Joana Duarte Melo, única filha do artista, dava a notícia na sua página do Facebook. Nuno Melo, que começou a sua carreira de actor no Teatro Animação de Setúbal merece muitas palmas e uma homenagem digna porque foi um dos maiores da sua geração, mostrando o seu talento no teatro, televisão e cinema. O funeral realizou-se no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, onde o corpo do actor foi cremado.  O artista padecia de hepatite C, contra a qual lutava há nove anos, não sendo um empecilho para a sua carreira mas notava-se cada vez mais o seu estado de degradação física. O pior aconteceu há dois meses quando foram detectados três nódulos malignos no fígado e níveis perigosos de icterícia, fazendo com que só um transplante hepático lhe salvaria a vida. Nuno Melo, que vimos em novelas, séries, filmes, a fazer de mau e bom, a divertir-nos e a interpelar-nos, não aguentou essa espera e faleceu na CUF Infante Santo, em Lisboa, onde se encontrava internado. O actor revelou publicamente a sua doença, muito recentemente, porque estava consciente do estado seu grave. Nessa altura afirmava: “Soube que a situação era grave há um mês, 15 dias antes de ser internado, houve um choque inicial, nada positivo, em que fiquei assustado, mas agora, emocionalmente, estou noutra fase. É um assunto delicado. Não deixo de estar numa situação grave, mas há pessoas piores do que eu. E sabia que normalmente a hepatite tem este desenvolvimento”.  Nuno Jorge Lopes de Melo Cardoso nasceu a 8 de Fevereiro de 1960, em Castelo Branco. Começou a trabalhar como actor em 1981, no Teatro Animação de Setúbal, passando depois por companhias como Teatro da Cornucópia, Teatro Aberto ou Artistas Unidos.  Foi com “Caniço”, personagem emblemática e forte, numa das primeiras telenovelas portuguesas, “Chuva na Areia”, que se tornou conhecido dos portugueses. O drama, filmado em parte em Tróia, ficou para sempre na memória dos portugueses, com a famosa cena em que o “Caniço”, que vendia o corpo a homens e mulheres, é castrado. Um tema muito avançado em televisão nacional para aquela época. Na TV que fez boa parte do seu percurso como actor, um trajecto que passou também pelo cinema, onde trabalhou com realizadores como José Nascimento, João César Monteiro, João Botelho e Edgar Pêra, e pela colaboração com o Teatro da Cornucópia (Plume) e os Artistas Unidos, onde foi dirigido por encenadores como Jorge Silva Melo (“Terrorismo”, dos Irmãos Presniakov), Pedro Marques (“Cicatrizes”, de Anthony Neilson) ou Solveig Nordlund (“Há Tanto Tempo”, de Harold Pinter).  Nuno Melo fez também vários programas de humor, destacando-se “Casino Royal”  e “Crime na Pensão Estrelinha”, com Herman José, e “Camilo e Filho”, com Camilo de Oliveira, em que o actor interpretava um homem de 35 anos que ainda vivia com o pai, ambos sucateiros. Era conhecido pelo mau génio e há quem garanta que apesar de contracenar com Camilo de Oliveira, não se falavam na vida real. Nuno Melo chegou a trabalhar no Brasil, onde fez, por exemplo, “Senhora do Destino”, uma produção de grande audiência que também passou em Portugal, na SIC. Chegou a ser raptado nas ruas de Rio de Janeiro mas depois libertado sem ferimentos. Ainda este ano, chegará aos cinemas “Adeus Carne”, de Edgar Pêra que conta com Nuno Melo no elenco. As rodagens terminaram no final de Fevereiro e o filme está neste momento em fase de pós-produção. O actor entra ainda em O Grande Circo Místico, do realizador brasileiro Carlos Diegues. O filme, cuja rodagem foi feita em Portugal, tem estreia marcada para o próximo ano. Nos últimos tempos, com a falta de trabalho como actor, tornou-se agente imobiliário. Só demonstra a sua forte personalidade, por vezes polémico, sem papas na língua, mas com enorme talento. Paz à sua alma.

Florindo Cardoso