Para Maria das Dores Meira, os autores, “dois homens de Setúbal, dedicados ao estudo da história e das coisas setubalenses” dão neste livro, “uma perspectiva muito completa da forma como, em Portugal, em especial, foi vivida a 1.ª Grande Guerra”, através do caso do soldado João Almeida, que terá sido o último condenado à morte no nosso país.
“Estamos perante um trabalho que merece a nossa mais viva saudação pois debruça-se sobre um período e um acontecimento da maior importância do séc. XX, nem sempre conhecido do ponto de vista português”, disse a edil sadina, felicitando os autores por recordarem uma história esquecida, mas “de múltiplas facetas e implicações na história portuguesa global do século passado”, nomeadamente a recuperação da pena de morte que havia sido abolida para crimes políticos em 1852 por decisão monárquica.
Já Ângela Lemos realçou que este livro representa a ligação do meio académico à investigação, “valorizando a história do país”. “Termos no nosso corpo docente um investigador, alguém que se preocupa com a história e em transmitir o que é nosso, é por nós valorizado, tem sido esse o papel do instituto, em particular da Escola Superior de Educação, da qual faz parte o professor Albérico Afonso Costa”.
Para Viriato Soromenho-Marques, o caso do soldado João Almeida, foi “um crime do Estado português contra um cidadão enfermo, com problemas psicológicos, que deveria ter sido tratado e apoiado porque estava nitidamente perturbado, e em vez disso, foi fuzilado”.
“Aquilo a que nós assistimos com a Primeira Guerra Mundial é ao início de um processo de auto destruição democrata da Europa que infelizmente ainda não terminou. Provavelmente, ainda estamos a viver, a cem anos de distância, os últimos episódios dramáticos”, frisou o docente, adiantando que foi uma guerra “de uma violência inaudita, com condições das piores, nem a Segunda Guerra Mundial ofereceu um quadro de desconforto, de impotência tão grande”.
Quanto aos autores, João Reis Ribeiro, afirmou que “não podemos ficar insensíveis com um fenómeno destes como é a guerra, os seus efeitos e consequências e é sobretudo este factor que me tem preocupado”, enquanto Albérico Afonso Costa destacou que este livro “é o resultado das nossas investigações comuns e da paixão que nos une não só pela história de Setúbal mas pela Guerra Mundial”.
A partir do caso do soldado João Almeida, a única vítima da recuperação da pena capital, em 1916, os autores desenvolvem todo um processo de redescoberta daquele período, dos seus protagonistas e das consequências das suas decisões num país em que se debatia a participação na guerra. O soldado foi o bode expiatório para prevenir uma rebelião já que os militares estavam cansados de uma prolongada guerra (1014-18), com milhares de mortos.
O livro é constituído por seis abordagens relacionadas com a Grande Guerra: “A recepção do antimilitarismo no movimento operário português”, “Os partidos políticos face à Guerra”, “Jaime Cortesão: um intelectual perante a Guerra”, “Aquilino Ribeiro – diário do início da Guerra”, “O impacto social e político da I Grande Guerra no movimento operário” e “O fuzilamento do soldado João Almeida – da farsa de um julgamento à tragédia de uma execução”.
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