Entrevista com Clemente, cantor: “Quero cantar enquanto tiver a voz que Deus me deu”

Clemente, cantor natural de Setúbal, com 60 anos, é um dos grandes nomes da música ligeira portuguesa. Popular por grandes êxitos como “Vais Partir”, “Canção dos teus cabelos”, “Marinheiro”, “Amore Mio”, “Bolero” e “Colmeia do Amor” e com vários discos de prata, ouro e platina é um embaixador da música portuguesa, tenho ganho mais de uma dezena de prémios em festivais internacionais. Actualmente, apresenta o espectáculo “Clemente Essencial”, no país e em várias partes do mundo.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais – Estamos quase no final de 2015. Como está a ser este ano para si nível artístico? Ainda tem espectáculos até ao final do ano?

Clemente – Este ano está a ser bom, melhor que os anteriores. Além dos espectáculos na Austrália, Estados Unidos e no Canadá para onde estou a sair para actuar no espectáculo do 28º aniversário do programa semanal televisivo “Gente da Nossa”, emitido no canal 7, de costa a costa do Canadá e nas Bermudas, no próximo sábado dia 31 de Outubro. Isto para já não falar dos espectáculos que tenho feito em várias ilhas dos Açores e na Madeira,  bem assim como em todo o Portugal Continental. Continuo com espectáculos até ao mês de Dezembro. Esta presença nacional e internacional dá-me uma outra visão do país e do povo que somos. Fui também solicitado para desempenhar o cargo de relações públicas da empresa “Speed Time Oficina Multimarcas”, o que tem sido muito interessante para mim.

S.M. – Com mais de 40 anos de carreira, continua a ser muito acarinhado pelo público português quer cá quer nas comunidades espalhadas pelo mundo. Como conseguiu preservar esse afecto ao longo destes anos?

Clemente – Creio que isso se deve ao facto de ter sempre no palco uma relação muito especial com o público. Eu nunca me limitei a chegar a um espectáculo em qualquer parte do mundo e “debitar o meu repertório”, que felizmente está cheio de sucessos que os portugueses da faixa etária acima dos trinta anos bem conhecem. Pela minha curiosidade natural, quis sempre tomar conhecimento da comunidade onde vou actuar, saber a forma como as pessoas vivem e a sua proveniência em relação ao mapa geográfico português. Quando se anda em tournée internacional, com a diferença do fuso horário, a espera em aeroportos e o cansaço das viagens, o mais natural é chegar à cidade onde o concerto vai acontecer e querer ficar a descansar no hotel. Eu sempre combati isso e descansei depois dos espectáculos.
S.M. – Nos espectáculos para as comunidades portuguesas apresenta um show diferente? É “obrigado” a cantar os sucessos antigos como “Vais Partir”?

Clemente – Nunca apresento um espectáculo diferente para a diáspora e para o território nacional. Eu canto o espectáculo do ano que é elaborado no princípio de cada ano. Quando tenho um trabalho fonográfico novo, geralmente o foco é sobre esse trabalho mas nunca descurando os “clássicos” do meu repertório. Actualmente, tenho um espectáculo com o título “Clemente – Essencial”, que veio a dar nome ao CD editado no ano passado pela editora “Ovação” e que inclui todas as canções que o público se habituou ao longo dos meus 43 anos de carreira.

S.M. – É um dos cantores portugueses com mais sucessos e canções gravadas. Considera que tem o reconhecimento devido do país?

Clemente – Acreditem que eu sou um homem muito feliz com o que fui construindo ao longo desta caminhada de 43 anos no mundo da música. Já recebi tantos prémios e distinções em Portugal e no estrangeiro, que sou uma pessoa sem angústias em relação a esse facto. Como exemplo eu fiz entre 2010 e 2011 uma tournée pelo país a convite do Inatel para o turismo sénior. Participaram vários artistas nesse projeto e o público, por uma votação directa que o Inatel procedeu para saber do feedback dos seus serviços, honrou-me com a distinção do “Melhor Espectáculo” dessa tournée. O que posso querer mais, quando recebo os louvores do público em grande quantidade em cada espectáculo onde me apresento?

 

S.M. – O CD “Clemente Essencial”, feito para celebrar os 40 anos de carreira, tem sido bem recebido?

Clemente – A reacção foi muito positiva, porque algumas das canções que o compõem estavam “fora do mercado” há alguns anos. Depois tem algumas novas interpretações minhas de canções já conhecidas, como é o caso de “Nossa Senhora”, que tem sido um verdadeiro sucesso na minha interpretação onde quer que eu a cante. Talvez pela fé que faz parte integrante da minha vida, eu canto como uma oração. E tal como São Agostinho disse “Cantar é rezar duas vezes”.

S.M. – A exemplo de Simone Oliveira ou Adelaide Ferreira aceitaria um convite para participar no Festival da canção da RTP?

Clemente – Ao longo da minha carreira, cantei em inúmeros festivais internacionais representando Portugal. Só não cantei no Festival da RTP por várias razões. Nos anos 90, tinha uma canção escrita pelo Tó Zé Brito e o António Sala, de título “Tão Bom”, especialmente para o festival. Infelizmente, nesse ano soubemos quem iria antecipadamente ganhar o Festival RTP, daí não ter concorrido e jamais iria fazer figura de presença. Aliás, nunca o fiz nos inúmeros festivais onde participei e daí os inúmeros prémios que conquistei ao redor do mundo. Creio ser o cantor português com maior número de prémios e presenças em festivais Internacionais. Se me convidassem para o Festival RTP aceitaria ou não dependendo das condições que tivesse.

S.M. – Considera que a música portuguesa é actualmente mais reconhecida e passa mais nas rádios e televisões?

Clemente – A música portuguesa sempre foi o parente pobre da cultura em Portugal. Há um deficit de música de produção nacional nas rádios especialmente, já que as televisões aproveitam a borla dos cantores da música ligeira, para promoverem os seus trabalhos. E depois vem o triste espectáculo de uma pobreza franciscana de alguns programas. Como não pagam cachet aos artistas, tudo é lícito para encher o tempo televisivo. Chega a ser confrangedor porque não sabemos bem se é burlesco ou simplesmente pobreza de espírito com umas meninas “pseudo bailarinas” a mostrarem as partes íntimas.
S.M. – O que gostaria de fazer ainda em termos de carreira?

Clemente – Se Deus permitir, quero cantar enquanto tiver a voz que me deu, e não me arrastar na carreira a fazer figuras ridículas e patéticas.
Retrato:

Nome Artístico: Clemente

Natural: Setúbal

Idade: 60 anos

Residência: Setúbal… e o mundo

O que mais gosta em Setúbal: Das pessoas

Qual o seu local favorito: Setúbal e arredores

Qual a imagem que guarda de Setúbal: O Rio Sado e a sua envolvência

Prato favorito: Tudo o que seja dieteticamente saudável

Cor: Azul

Música: “The Show Must Go On”, dos Queen

Artista favorito: O meu amigo Marco Paulo