“É sempre emotivo ouvir cantar as palavras que escrevemos para uma canção”

Entrevista com Alexandrina Pereira, poetisa:

 Alexandrina Pereira, 66 anos, é uma poetisa reconhecida com obra já publicada. No passado fim-de-semana foi homenageada por um grupo de pessoas na sede do Grupo Desportivo da Fonte Nova. Pertence à comissão para criar a Casa da Poesia de Setúbal. Recentemente também abraçou a liderança do Grupo Desportivo da Volta da Pedra.

 

Florindo Cardoso

 

Semanário Setúbal Mais – Como encarou a homenagem que lhe fizeram no passado domingo?

 

Alexandrina Pereira – Recebi esta carinhosa homenagem como um gesto de amizade por parte desta colectividade que tem como presidente um homem humilde, amigo, e dono de um coração muito generoso, a quem eu sempre que posso dou a minha colaboração e apoio. O meu agradecimento ao Zeca, à restante direcção e aos muitos amigos que me fizeram companhia num momento de elevado significado para mim .

 

S.S.M. – É importante sentir esse reconhecimento pela sociedade?

 

A.P. – Muito sinceramente, nunca espero estes gestos por parte daqueles com quem partilho o meu carinho e a recíproca preocupação por uma sociedade mais justa, mas mentiria se dissesse que não considerava importante, não como reconhecimento, mas como um gesto de amizade e um incentivo a continuar.

 

S.S.M. – Como surgiu o seu gosto pela escrita?

 

A.P. – Nos bancos da escola primária já sentia mais atracção pelas letras do que pelos números. Lembro-me de escrever pequenos poemas teria eu uns 12 anos.

 

S.S.M. – A poesia é um estado de alma que a realiza?

 

A.P. –  Sem dúvida que sim! Organizando as palavras de forma poética, eu deixo que os meus sentimentos fluam no poema que está nascendo. Na expressão cultural de cada poeta, está naturalmente implícita a sua sensibilidade ao mundo que o rodeia. A minha indignação perante as injustiças sociais e a preocupação com o futuro da actual juventude sulcada de incertezas, são frequentemente temas de reflexão que a poesia ameniza. Os sentimentos mais doces como o amor ou a amizade, são por sua vez retratados como fruto de um estado de alma complementar ao necessário equilíbrio psíquico humano.

 

S.S.M. – Também já escreveu canções. O que sente quando ouve o seus poemas a serem cantados?

 

A.P. – É como ver um filho ser levado a passear por mão amiga. É sempre agradável e emotivo ouvir cantar as palavras que escrevemos para uma canção.

 

S.S.M. – Qual a sua fonte de inspiração?

 

A.P. – São vários os motivos que me inspiram. Se tiver que escrever sobre Setúbal, olho o rio, a serra, as ruas velhinhas e estreitas e…fico inspirada. Ao presenciar a inexpressiva absorção um idoso num banco de jardim, penso na sua solidão. Se penso nas inúmeras injustiças do mundo, deixo fluir a minha indignação e descrevo a minha tristeza. (E quantas vezes peco por não poder ser mais contundente)

 

 

S.S.M. – Considera que a poesia é hoje mais valorizada pelas pessoas?

 

A.P. – Considero que a poesia sempre teve um lugar no coração de qualquer pessoa. Não direi que hoje a poesia está mais valorizada, mas certamente está mais divulgada, mais publicada e mais partilhada.

 

S.S.M. – É dirigente do Grupo Desportivo da Volta da Pedra. Como está a decorrer a experiência?

 

A.P. – Muito boa! O facto de ser uma colectividade vocacionada para o desporto, na modalidade de BTT (com muitos ciclistas campeões nacionais e internacionais) a minha presidência vem incluir a vertente cultural e isso está a ser muito bem aceite, até porque, infelizmente, o desporto não está a ter apoio autárquico o que limita imenso as participações dos atletas nas provas que se realizam pelo país. Os momentos culturais, não substituindo por forma alguma o extenso e rico historial desportivo do clube, são um complemento necessário à continuidade associativa.

 

S.S.M. – Que iniciativas estão a ser feitas?

 

A.P. – Aproximam-se duas datas de grande significado para todos nós, portugueses: o 25 de Abril e o 1º de Maio. Dentro das festividades de Abril, teremos no próximo dia 11, uma peça de teatro com um grupo de actores vindos do Seixal.  No dia 25, depois da cerimónia do hastear das bandeiras, o grupo “Os Gaiteiros dos Bardoada” do Pinhal Novo fazem uma arruada. Segue-se o almoço convívio na Sede e pelas 15h é aberta uma exposição de fotos e poemas sobre o dia da Liberdade. A pintora Pólvora da Cruz pintará ao vivo durante a exposição. Termina com a leitura dos poemas expostos e um lanche convívio com os participantes.

 

S.S.M. – Lançou recentemente um livro. Como foi a adesão?

 

A.P. – Apresentei o “Arrábida, meu amor meu poema”, integrado na candidatura da nossa Serra a Património da Humanidade. Foi uma edição esgotada em poucos meses, o que me deixou naturalmente feliz. O livro tem tradução de alguns poemas em 4 idiomas e creio que foi um dos motivos de adesão por parte de quem nos visitava e passava pela Casa da Baía ou Casa da Cultura. Também contou o facto de incluir fotografias de três fotógrafos dos três concelhos a que Arrábida pertence e ter feito a apresentação em Palmela, Setúbal e Sesimbra.

 

S.S.M. – Que projectos quer ainda concretizar?

 

A.P. – Em Setembro apresento um projecto em conjunto com a pintora Mariana Marujo do atelier “Arte & Imaginação”. Um livro em que retratamos (pintura/poema) figuras de Setúbal. Estou a pensar apresentar um livro com todas as canções infantis premiadas nas centenas de festivais da canção em que participei. Integro uma comissão para a criação da Casa da Poesia de Setúbal, que esperamos seja um sonho concretizado muito brevemente. Já sobre a chancela deste projecto e em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal, será apresentada no próximo dia 25, no Salão Nobre pelas 17h30 uma Antologia sobre os 40 anos do 25 de Abril, com 40 poemas de poetas setubalenses.

 

 

Retrato:

 

Nome: Alexandrina Pereira

 

Idade: 66 anos

 

Naturalidade: Setúbal

 

Residência :Volta da Pedra – Palmela

 

O que mais gosta em Setúbal: Não sei dizer do que não gosto em Setúbal!

 

Qual o seu local favorito: Qualquer lugar junto ao rio.

 

A imagem que guarda de Setúbal: Bonita, acolhedora, multicultural.

 

Prato favorito: Caldeirada

 

Uma música: Bolero de Ravel

 

Um artista : Andrea Bocelli