Alexandrina Pereira lança Livro “Liberdade no Feminino” com testemunho de 50 mulheres

Alexandrina Pereira lançou o livro “Liberdade no Feminino” com testemunho de 50 mulheres de várias faixas etárias e estratos sociais sobre o 25 de abril, no dia 21 de setembro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

A iniciativa, integrada nas comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril, através do projeto “Venham Mais Vinte e Cincos”, teve a participação dos presidentes do município de Setúbal, André Martins, da Junta de Freguesia de S. Sebastião, Luís Matos, da União das Freguesias de Setúbal, Rui Canas e de Junta de Freguesia de Azeitão, Sónia Paulo.

“Liberdade no Feminino” deu voz a quem foi sempre silenciado antes da Revolução dos Cravos, não lhes permitindo ser mais do que a mulher-esposa, mulher-mãe, obediente e sem direito a pensar ou a sentir.

O presidente da Câmara Municipal de Setúbal destacou no sábado os direitos conquistados pelas mulheres com o 25 de Abril. “O 25 de Abril constitui um momento de forte rotura com um passado de menorização e repressão das mulheres, com um passado em que as mulheres eram subalternizadas e destinadas a um fim que já sabiam ser certo. Ou ficavam na lida da casa, a tratar de maridos e filhos, ou aceitavam empregos mal pagos e sem possibilidade de progressão”, sublinhou André Martins, perante muitas das mulheres que deram testemunho para o livro.

Para o edil saidno, o livro “serve para olhar para o passado pelos olhos de quem o viveu, mas também pelas memórias de quem ouviu a mãe contar como vivia, de quem sentiu a pobreza transmitida pela voz do pai”, citando o testemunho da cantora Cátia Oliveira, que tem o nome artístico de “A Garota Não”, nascida 10 anos depois da Revolução dos Cravos.

A artista lembra que lhe foram transmitidas memórias do “trato dos maridos brutos”, do “desamparo das mulheres”, da “desigualdade de tarefas”, da “subserviência feminina”, da “impossibilidade de votar”, dos “abortos escondidos” e das “mulheres que morriam nessa clandestinidade” ou das “crianças que pairavam nas ruas dias inteiros porque as mães iam trabalhar e o país não tinha creches para gente sem dinheiro”.

André Martins considerou que este era um “poderoso testemunho” porque “dá a dimensão do que era a vida das mulheres” e porque mostra que “a memória de tempos obscuros foi passada a uma nova geração que não deixará nunca morrer essas malditas recordações” nem que se volte atrás.

O autarca citou o testemunho de Dilar Pimpão, que tinha 32 anos quando aconteceu o 25 de Abril e agora afirma que “nem tudo está bem”, mas desde então vive-se “noutro país”, no qual a felicidade se traduz nos convívios diários com as pessoas de quem gosta e que gostam de si. “Danço, canto, faço teatro, sou feliz. Sou livre”.

“Eis as duas palavras que resumem os testemunhos destas 50 mulheres nos 50 anos do 25 de Abril. As duas palavras que resumem este livro coordenado por Alexandrina Pereira e a que a Câmara Municipal de Setúbal, desde a primeira hora, se quis associar para também assim deixarmos gravada nestas comemorações a expressão do que é a liberdade no feminino”, disse André Martins.

O presidente da câmara municipal agradeceu a Alexandrina Pereira e a todas as mulheres que participaram no livro, que tem prefácio de Mónica Duarte, desejando que se continue a trabalhar em conjunto para que Setúbal “seja sempre uma cidade de Abril”, construída com a participação de todos. “Porque as cidades, as revoluções, as democracias são sempre, mas sempre, obras de muitos homens e de muitas mulheres”, concluiu.

Alexandrina Pereira agradeceu à Câmara Municipal de Setúbal por tê-la convidado para a comissão das comorações dos 50 anos do 25 de Abril e depois por ter integrado o projeto “Liberdade no Feminino” no programa comemorativo.

A poetisa agradeceu ainda o apoio das juntas de freguesia de Azeitão e de São Sebastião e da União das Freguesias de Setúbal – cujos presidentes, Sónia Paulo, Luís Matos e Rui Canas, estiveram presentes –, bem como, entre outros, ao historiador Diogo Ferreira e a todas as mulheres, com idades entre os 40 e os 83 anos e “de todas as classes sociais”, que aceitaram partilhar as suas histórias de vida.

“Leiam todos os depoimentos, porque a beleza está aí, na diferença de cada uma”, afirmou a coordenadora do livro, antes de chamar duas mulheres nascidas antes do 25 de Abril, Regina Marques e Célia David, e duas nascidas depois da Revolução, Maria Luís Bento e Rita Curto Mesquita, para lerem extratos dos seus depoimentos e de ela própria ler o seu testemunho, que, no entanto, não integra o livro.