Jovem Diogo morreu há dois anos no Alegro: Vídeo lança nova luz sobre acidente

As imagens da videovigilância, recolhidas pela Polícia Judiciária de Setúbal (PJ), do acidente mortal do jovem de Pinhal Novo, Diogo Montenegro, nas escadas rolantes do centro comercial de Setúbal Alegro, em 16 de Dezembro de 2014, trazem novas revelações. Até agora pensava-se que fora um mero acidente mas o jornal “Sol”, na sua última edição, aponta para outra causa: o jovem terá sido empurrado por um amigo, de nome Bruno, durante uma brincadeira entre os dois.

Apesar das imagens da PJ, o inquérito do Ministério Público ao acidente ainda não foi concluído, o que revolta a família do jovem, que pede responsabilidade pelo sucedido ao Bruno.

“Já passaram quase dois anos e ainda não se fez justiça. O processo ainda corre e o Ministério Público (MP), apesar de ter as imagens do sistema de videovigilância, que foram logo pedidas, ainda não deduziu acusação. Perdi o meu irmão, a minha mãe passou a estar fortemente medicamentada e está de baixa, e o meu pai, aos 59 anos, pediu a reforma antecipada para não deixá-la sozinha”, recorda o irmão da vítima àquele jornal, esperando justiça.

Miguel Matias, o advogado da família, considera que “não faz sentido, passados quase dois anos e com as imagens que provam o que aconteceu, o MP não ter feito ainda a acusação e, que eu saiba, ainda nem o constituiu arguido por um crime que é obviamente de homicídio com dolo eventual ou necessário”.

Recorde-se que, em Dezembro de 2014, um mês depois da abertura do Alegro e a 12 dias do 18.º aniversário do jovem estudante, este seguia com amigos, na escada rolante, vindo da zona da restauração, quando sofreu uma queda brutal de cerca de 20 metros, junto aos elevadores, não resistindo aos ferimentos, falecendo no hospital.

Cláudia Martins, de 17 anos e amiga de Diogo e de Bruno é dos poucos elementos do grupo que fala sobre o assunto. “Eles davam-se muito bem apesar de se conhecerem há pouco tempo” mas eram o oposto um do outro. “O Diogo era um brincalhão, sempre bem disposto e atento aos outros. O Bruno estava sempre na sua, num mundo à parte, nunca falava, não se envolvia. Por isso, depois do que aconteceu, estranhámos o comportamento dele. Agia como se nada tivesse passado”, refere.

Naquele dia fatídico, Diogo combinara com Bruno tomar um café após o almoço, na parte exterior do centro, onde podiam fumar. Mas o que se passou entre os dois amigos antes das 17h23 daquele dia, na zona da restauração que fica no terceiro piso do centro, ninguém sabe ao certo.

O jornal teve acesso às imagens das câmaras de videovigilância do Alegro, “o único retrato fidedigno do crime encoberto durante muitos meses. Ainda hoje permanece a ideia de que o jovem, sentado no corrimão das escadas rolantes, caíra por descuido”, refere. Ora, Cláudia ficou em estado de choque quando viu a imagens: “quando muito mais tarde vi as imagens, não queria acreditar que o Bruno nos mentira durante aquele tempo todo”, disse.

“Colocando a fita da película no início, não é difícil perceber que algo se passara entre Diogo e Bruno. Algo se passara que deixara o primeiro apático e o segundo irritado. Diogo, sentado, deslizava mantendo o equilíbrio com as duas mãos assentes no corrimão, enquanto Bruno o acompanhava numa posição superior, um degrau acima”, relata o Sol.

Cláudia faz a leitura das imagens: “Conhecendo o Diogo como conhecia, ele estava muito sério quando era uma pessoa que estava sempre a brincar. O primeiro toque que Bruno lhe dá no peito é como se estivesse a dizer: ‘Oh pá, olha para mim!’. Dá-lhe um segundo toque com a mão e o Diogo mantém-se apático mas não se mexe”.

Cláudia faz pausa no filme: “O Diogo parece que está a fazer um salto mortal para o abismo, o empurrão teve de ser com muita força para virar uma pessoa daquela maneira”. Bruno, esse, parecia cair em si e ainda tenta agarrar o amigo com a mão esquerda, enquanto com a direita mantém o telemóvel em segurança. Mas Diogo já está em queda livre, e cai dois lances abaixo.

Quando mais tarde as imagens daquele dia começaram a circular entre os amigos de Diogo e Bruno, o grupo sentiu-se duplamente traído. Pediam-se explicações. Cláudia pertence ao leque: “Disse-nos que não contou nada na altura com medo que não o deixássemos ir ao enterro. E agora ainda tem a lata de se fazer de vítima, diz que é ele quem está traumatizado porque estavam a brincar, empurrou-o na brincadeira, e assistiu a tudo”.

João Figueiredo, um dos melhores amigos de Diogo, nunca viu as imagens. “Acho que já perdemos um jovem, não se deve estragar a vida a outro. Penso que ele não contou logo a verdade com medo do que pudesse vir a acontecer. Mas se é verdade o que está nas imagens não foi uma atitude nada corajosa”.