“Setúbal sempre foi muito ligada ao fado”

 

Albano Almeida, 52 anos, natural do Bairro Alto mas residente em Setúbal, é um músico de excelência. Acompanha muitos fadistas da nossa praça, é um apaixonado pelos instrumentos musicais e sobretudo é um homem da nossa cultura que deve ser valorizado. No próximo dia 12 de Abril, pelas 15 horas, vai inaugurar uma exposição de instrumentos musicais populares no Museu do Trabalho. A exposição, com instrumentos da sua colecção particular, estará patente ao público até 21 de Junho. Na Inauguração, haverá uma homenagem a Michel Giacometti com a participação musical de Rui Cabo, Albano Almeida, Sónia ColaçoManuel Guerra Henriques e do Grupo de Música Tradicional Portuguesa da Junta de Freguesia de S. Sebastião.

Florindo Cardoso

 

Semanário Setúbal Mais – Como surgiu a ideia de realizar esta exposição de instrumentos musicais populares no Museu do Trabalho?

Albano Almeida – A ideia de realizar esta exposição dos instrumentos populares portugueses no Museu do Trabalho Michel Giacometti, em Setúbal, surge pela homenagem pública que é devida ao homem que realizou a grande recolha da nossa identidade cultural, percorrendo o país e recolhendo e registando em áudio e em fotografias, canções, instrumentos musicais, instrumentos de trabalho, modos de vida, tornando possível este património ter chagado até aos nossos dias. A semente lançada por este etnomusicólogo germinou e o museu com o seu nome será um local de referência para uma exposição que pretende dar a conhecer às gerações vindouras o património cultural, musical e artístico do nosso país. Também será assinalada a data da revolução dos cravos – 25 de Abril de 1974 – que tornou possível Michel Giacometti organizar equipas de estudantes universitários que realizaram campos de trabalho pelo país com o intuito da recolha deste espólio que é pertença de todos.

S.S.M. – Que tipo e quantos instrumentos musicais vão estar em exposição?

A.A. – A exposição é composta por cerca de trinta instrumentos musicais, entre viola, guitarras, bandolins, bombos, ferrinhos ou adufes – instrumentos na maioria pertença de Albano Almeida, fotografias do espólio do Museu do Trabalho e do Museu Verdades de Faria e documentação pertença de albano Almeida e do próprio Museu do Trabalho Michel Giacometti.

S.S.M. – Já pensou em levar esta exposição a outros sítios da cidade e do distrito?

A.A. – Esta exposição já esteve patente ao público numa versão mais reduzida no Fórum Municipal Luísa Todi, em 2006 e também no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, onde foi visitada por cerca de mil alunos do ensino secundário, sendo possível levá-la a vários locais, caso seja solicitada.

S.S.M. – Como surgiu esta paixão por coleccionar instrumentos musicais?

A.A. – A ligação à música e aos instrumentos foi crescendo. A participação em grupos musicais fez aumentar esse gosto. Quando tocava em várias regiões e percorria essas terras conhecia músicos, via instrumentos que nem pensava que existiam e foi a partir destes contactos que comecei a juntar peças.

S.S.M. – Algum instrumento que mereça destaque e pelo qual tem maior carinho?

A.A. – Gosto de todos, mas destaco um muito pequenino – o cavaquinho – que por tocar instrumentos de corda sempre me fascinou, pelo seu som alegre e muito dado às modas portuguesas.

S.S.M. – Neste momento acompanha vários fadistas nos espectáculos. Considera que o fado voltou a estar na moda?

A.A. – O fado sendo uma música muito nossa e com muita ligação à guitarra portuguesa – instrumento único no mundo – ressurgiu depois de um certo adormecimento, mérito também de ter sido considerado Património Imaterial da Humanidade pela Unesco. Setúbal não ficou atrás e tem vindo a aparecer novas vozes e novos talentos.

S.S.M. – Quais os fadistas que mais o marcam?

A.A. – Tenho tido a sorte de tocar para muitas vozes e cada uma delas é uma aula de aprendizagem. Destaco por exemplo um homem que é ao mesmo tempo um mestre: Nuno de Aguiar. Sempre que o acompanho, estou a aprender.

S.S.M. – Há cada vez mais fadistas jovens e com qualidade. A que acha que se deve isso?

A.A. – Setúbal, sendo uma terra de fábricas, de pescadores, da construção naval, sempre foi muito ligada ao fado, sobretudo ao fado operário, onde se contavam histórias verdadeiras e aproveitando o fado como veículo de notícias – boas e más, que eram levadas de terra em terra. O Calafate, cantador de Setúbal, ia a Lisboa, levava versos, cantava e ao mesmo tempo recebia as novidades que as transformava em versos para assim as cantar em Setúbal.

S.S.M. – Em Setúbal, há bons fadistas?

A.A. – Setúbal, tal como o resto do país, não ficou alheia a esta nova vaga de interesse pelo fado. A provar isto, as novas vozes que vão aparecendo, casos dos jovens, Joana Lança, Marília Pais, Catarina Ferreira, Sónia Colaço, Inês Pereira – só para citar algumas que a par de vozes já com afirmação local e nacional, fazem com que o Fado seja muito actual na cidade. Também nos músicos aparece uma nova vaga de executantes como o Freud Mamede ou Vítor Pereira Júnior, por exemplo.

Retrato:

Nome: Albano Almeida

Idade: 52 anos

Natural: Bairro Alto

Residência: Setúbal

S.S.M. – O que mais gosta em Setúbal?

A.A. – Gosto do Rio. Habituei-me desde pequeno a vê-lo todos os dias quando saia de casa.

S.S.M. – Qual o local favorito?

A.A. – Setúbal, por ser a Casa.

S.S.M. – A imagem que guarda de Setúbal?

A.A. – Ver a cidade do Alto da Fortaleza de S. Filipe.

S.S.M. – Prato favorito?

A.A. – Adoro Choco guisado

S.S.M. – Uma música/um artista:

A.A. – Zeca sempre – José Afonso de seu nome

 

Frases:

“Setúbal, tal como o resto do país não ficou alheia a esta nova vaga de interesse pelo fado, a provar isto as novas vozes que vão aparecendo”

“A ligação à música e aos instrumentos foi crescendo. A participação em grupos musicais fez aumentar este gosto pelos mesmos”

“Setúbal, sendo uma terra de fábricas, de pescadores, da construção naval, sempre foi muito ligada ao fado, sobretudo ao fado operário”