Requalificação da Fonte da Telha: Pescadores e moradores contestam demolições

A Câmara Municipal de Almada pretende demolir grande parte dos mais de 500 edifícios da Fonte da Telha e candidatar-se a fundos comunitários para a requalificação urbanística da zona ribeirinha, mas moradores e pescadores não querem perder as casas que construíram.

O presidente da Câmara Municipal de Almada, Joaquim Judas, assegurou que a autarquia não avançará com o Plano de Pormenor da Fonte da Telha contra a vontade dos moradores e pescadores, mas reafirmou a necessidade de requalificação daquela zona ribeirinha situada na freguesia da Costa da Caparica. “Contra a opinião dos moradores da Fonte da Telha, não haverá plano de pormenor, mas ninguém vai ouvir o presidente da câmara dizer que aquilo está bem”, sublinhou o edil, no final da reunião com munícipes, na passada semana, no âmbito da discussão pública do Plano de Pormenor da Fonte da Telha, que termina hoje, dia 12 de Novembro.

Com o Auditório Costa da Caparica a abarrotar, centenas de moradores e pescadores reafirmaram a intenção de permanecerem na Fonte da Telha, local onde alguns deles nasceram e onde sempre trabalharam, ao mesmo tempo que se manifestavam contra as demolições previstas na proposta de plano de pormenor apresentada pela autarquia para a requalificação e ordenamento.

Os técnicos responsáveis pela elaboração do plano de pormenor, que prevê a demolição de grande parte dos cerca de 500 edifícios existentes na Fonte da Telha, começaram por sublinhar a necessidade de prevenir situações de risco devido às alterações climáticas que provocam o avanço do mar em diversas zonas da costa portuguesa. No entanto, as preocupações dos moradores estavam apenas focadas na perspectiva de demolição das casas e na possibilidade de terem de abandonar o local onde vivem.

“A Associação de Pescadores e Moradores da Fonte da Telha opõe-se totalmente a este plano de pormenor”, disse uma representante da associação, ao mesmo tempo que acusou os promotores do plano de pormenor de quererem “preservar o ambiente sacrificando as pessoas”. “Têm um plano que quer correr com o pessoal todo de lá [Fonte da Telha]. Não queremos este plano de pormenor, queremos outro”, corroborou outro morador da Fonte da Telha num dos momentos mais acalorados deste debate.

Face à contestação dos moradores, Amélia Pardal responsável pelo pelouro do Urbanismo da autarquia almadense, reconheceu que o actual Plano de Pormenor da Fonte da Telha não tem condições para avançar.  “Sem o envolvimento e contra os moradores não há este plano de pormenor mas estamos convencidos de que as pessoas que lá vivem querem transformar e qualificar o sítio onde vivem e nós também queremos”, salientou a vereadora. “Estamos convencidos de que, em conjunto, vamos ser capazes de transformar aquele território, naturalmente com o envolvimento, a participação e o trabalho das outras entidades que têm jurisdição no território”, acrescentou Amélia Pardal.

Desde que o plano de pormenor foi divulgado, os moradores e pescadores manifestaram contra. “Tendo nós uma casa e um terreno, queremos saber o que pensam fazer, porque, se nos vão dar uma casa num bairro social – é isso que dizem as pessoas aqui -, não nos estão a dar nada, porque nós vamos ter de comprar [as casas] ou pagar um aluguer. Algumas pessoas já têm advogados a contestar as demolições”, afirma Cristina Laranjeira, que pertence a uma associação de moradores.

Os pescadores também não se conformam com a ideia de perderem as casas e estranham que alguns estabelecimentos tivessem sido autorizados a permanecer no local, uma vez que estão mais perto da linha de água do que as habitações. “Eles querem deitar a Fonte da Telha abaixo, mas vão deixar ficar três estabelecimentos, que estão mais abaixo [mais perto do mar]. Se um dia o mar chegar aqui às nossas casas, que estão mais para o interior, esses estabelecimentos que vão ficar [não serão demolidos], e aqueles que eles vão fazer, desaparecem não sei quantos anos antes. Mas eu estou convencido de que o mar não vai chegar aqui”, desabafa o pescador Mário Figueiredo, que dirige outra associação de moradores e pescadores.

O Plano de Pormenor da Fonte da Telha, que visa a reconversão urbanística e o ordenamento de uma área de cerca de 16 hectares, resulta da necessidade de ordenamento daquela zona ribeirinha, de acordo com o Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sintra-Sado.