O que leva uma mãe a matar um filho?

Certamente que já questionou por diversas vezes o que leva uma mãe a matar um filho e atentar também contra a sua vida. Um acto tresloucado ou de desespero, uma depressão profunda, conflitos com o marido… são explicações racionais mas que o coração de um ser humano tem imensa dificuldade em aceitar.

Depois existem os técnicos, advogados e os psicólogos que dão nomes pomposos para justificar a barbárie, afirmando que deverá ser alguém muito doente, que sofre de uma anomalia psíquica grave, ou frequentemente padece de uma depressão profunda. Há quem também lhe chame um suicídio piedoso.

Tenho uma grande dificuldade em aceitar qualquer justificação porque o elo de ligação entre uma mãe e um filho é a coisa mais forte que existe no mundo.

Na passada semana, numa noite fria de Inverno, uma mãe, em processo de divórcio litigioso e eventualmente vítima de violência doméstica com as filhas, uma de 19 meses e outra de 3 anos, também alvo de presumíveis abusos sexuais, segue na sua viatura, quando na zona de Caxias, estaciona e lança-se ao mar. Um taxista, que se apercebeu da viatura mal estacionada e adivinhando uma tragédia alerta as autoridades mas é tarde demais. As duas crianças morrem e a mãe, em estado de hipotermia, acaba por ser retirada da água e transportada para o hospital, encontrando-se em prisão preventiva, acusada de crime de homicídio qualificado. Ainda em estado de choque, grita: salvem as minhas filhas!

Os especialistas explicam que, nos casos de suicídio piedoso, a vítima (que é também um infanticida) considera que “não há solução para a vida” e que está a tomar a decisão certa, evitando que a sua morte traga um “sofrimento atroz” aos filhos.

É uma tragédia familiar. Os pais, em conflito, utilizam muitas vezes os filhos como arma de arremesso, uma espécie de guerrilha, mostrando o lado menos bom do ser humano.

Esta mãe, que já tinha apresentado queixas junto das entidades competentes, andava com as filhas de casa em casa, evitando que o pai convivesse com elas. A história é terrível porque há sempre um lado negro e perturbador desta mulher.

Muitas vezes, a mulher ou o homem não aceitam o processo de divórcio, a separação definitiva, o fim de uma relação que já deveria ser bastante degradante. Querem tomar o filho como um todo, fazer dele o seu troféu. Muitos optam por fugir para lugar incerto, os tais raptos parentais, mas há casos, como este, que acabam em tragédia.

Há outros casos que ainda estão na memória. Em 26 de agosto de 2011, Anildo Soares, cabo-verdiano, trabalhador da construção civil, não aceitou o processo de divórcio com a então mulher Raquel, pegou no seu filho de 6 anos e atirou-se para a frente do comboio intercidades. No dia 24 de agosto de 2012, Luciana, a mãe, há 15 anos a viver e trabalhar em Portugal, sofria de depressão. Fechou-se com os filhos num dos quartos da moradia onde viviam em Castro Marim, regou-os com gasolina e ateou-lhes fogo. Ela e os dois filhos, de 13 e 11 anos, terão morrido por inalação de gases. Antes tinha enviado uma mensagem ao pai das crianças. No dia 10 de fevereiro de 2013, Manuela e o seu filho Martim, de 12 anos e autista, deram entrada no Hotel Ibis da avenida das Forças Armadas, em Bragança. Manuela aproximou-se da varanda do 4.º andar do hotel empurrou Martim e atirou-se depois. Os dois tiveram morte imediata. Manuela sofria de depressão. No quarto de hotel, deixou um bilhete dirigido ao marido, no qual lhe pedia desculpa pelas duas mortes, mas este confessou nunca ter compreendido as razões da mulher.

São apenas outros casos mas que revelam uma dor imensa por detrás de cada história.