O mistério da batata em Sarilhos Grandes – Descoberta aponta para duas décadas antes de entrar em Portugal

A equipa de investigadores, liderada por Paula Pereira, quer saber porque a batata entrou na alimentação em Sarilhos Grandes, concelho do Montijo, duas décadas antes da sua implementação em Portugal, e como tal vai continuar com o projecto de investigação arqueológica entre 2019 e 2021, para chegar a uma conclusão definitiva.

Esta posição foi revelada na conferência “Sarilhos Grandes na Expansão Portuguesa”, que decorreu a 27 de Outubro, na Galeria Municipal do Montijo, onde foram revelados os dados de dez anos de investigação na necrópole de Sarilhos Grandes, sita no largo da igreja.

Os investigadores ficaram surpreendidos com a presença de restos alimentares que revelam amido de batata em dois dos esqueletos exumados em Sarilhos Grandes, datados de 1324-1625. Ora, a data mais antiga conhecida da introdução da batata em Portugal é de 1643 (sendo certo, que na Europa os dados históricos apontam para a introdução da batata em 1567).

Outros dados de grande relevo histórico estão relacionados com a presença do fungo Candida albicans e do parasita Trichostrongylus, que foram identificados pela primeira vez em Portugal nos indivíduos exumados em Sarilhos Grandes.

Paula Pereira salientou, ainda, que estão a ser desenvolvidos os procedimentos necessários para dar continuidade à investigação em 2019, através da exumação da sepultura de Rui Cotrim de Castanheda, capitão da 2.ª armada de Vasco da Gama à Índia, que se encontra na Capela de Nossa Senhora da Piedade, em Sarilhos Grandes.

Os investigadores e a câmara municipal pretendem, assim, recolher dados que validem os resultados já obtidos, criar um campo/escola de arqueologia, envolvendo a comunidade e perceber melhor o papel dos sarilhenses e dos habitantes de Aldeia Galega do Ribatejo (hoje Montijo) na Expansão Portuguesa.

O presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, realçou que a investigação da necrópole de Sarilhos Grandes exprime “bem a identidade histórica do Montijo e constitui-se, hoje, como uma referência insubstituível na investigação académica nos campos da arqueologia, botânica e biologia. O património cultural que nos foi legado tem de continuar a ser conhecido e valorizado porque constitui condição essencial para a construção do nosso futuro colectivo”.

Recorde-se que tudo começou em 2008, no decurso de uma intervenção da Simarsul – Sistema Integrado Multimunicipal de Águas Residuais da Península de Setúbal, que incluiu uma escavação arqueológica de salvaguarda no largo da Igreja de Sarilhos Grandes incidindo sobre a necrópole (cemitério) da Igreja de São Jorge e Ermida de Nossa Senhora da Piedade. Foram exumados 21 esqueletos dos séculos XV-XVII e, desde então, tem sido realizada investigação bio arqueológica para analisar os vestígios recuperados. De entre os resultados apresentados existem vestígios da participação directa de sarilhenses na expansão marítima portuguesa para ocidente e oriente e novos dados sobre a época dos descobrimentos e do modo de vida de comunidades junto ao Tejo e da forma como participaram e foram influenciadas pelas trocas marítimas.

Para além da conferência de divulgação dos resultados, na Galeria Municipal está patente a exposição “Sarilhos Grandes Entre Dois Mundos: o Oriente e o Ocidente”.