O drama da violência na sociedade

O drama da violência na sociedade

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) acabou de divulgar os números relativos à violência em Portugal durante 2015 e o cenário não é nada animador. Para se ter ideia deste cenário, registaram-se, em média, 63 crimes por dia durante o ano passado. No total, foram denunciados 23.326 casos, mais 13% do que em 2013.

São números cruéis que devem colocar os portugueses a pensar sobre o aumento da violência na sociedade. Para uns, há maior visibilidade e consciência dos direitos, perdendo-se o medo de denunciar o agressor, enquanto para outros as agressões já existiam mas estavam escondidas entre as quatro portas das famílias.

O facto é que o número de vítimas também cresceu, passando de 8.733 em 2013 para 9.612 no ano passado. Em média, por dia, a APAV apoiou 20 pessoas: 14 mulheres, entre os 18 e os 64 anos, três crianças e jovens e três idosos com mais de 65 anos. Todas vítimas de crimes ou outras formas de violência.

Perante este cenário preocupante João Lázaro, presidente da APAV, frisou que o relatório anual demonstra um aumento da criminalidade bem como maior sensibilização das pessoas para pedirem ajuda. Na sua opinião, esta tendência contraria “o silêncio” que marcou os anos de crise financeira no país, desde 2011.

Segundo o relatório estatístico da APAV, 80% dos crimes (18.670) são de violência doméstica, na sua maioria (58,4%) cometidos pelos companheiros, ex-companheiros, namorados ou ex-namorados das vítimas. Há outro dado preocupante revelado pelo documento: o aumento das denúncias de agressões cometidas pelos próprios filhos das vítimas: 687 em 2013, 706 em 2014 e 819 em 2015. E se a observação for alargada a outros graus de parentesco entre os agressores e as vítimas (avós, netos, irmãs/irmãos, por exemplo), a APAV contabilizou 2.300 casos em 2015. No total, relativamente a idosos foram apoiadas neste ano 977 vítimas, mais de duas por dia, quase 20 por semana.

O relatório revela ainda que as denúncias de “stalking” (445 em 2015) subiram mais de 30% em relação a 2014. Estamos a falar de um crime que consiste numa perseguição contínua, que pode ser feita através de inúmeros meios. Pode ser uma perseguição física, ou seja alguém que segue outrém (normalmente a mulher é vítima, mas nem sempre), na sua habitação, no local de trabalho, nos locais públicos onde é habitual estar.

Os casos de bullying (134) cresceram 46% em 2015 face ao ano anterior. Tratam-se de actos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando à vítima dor e angústia e sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.

Já os crimes de violação desceram 38% entre os períodos anteriormente referidos (de 139 para 86), enquanto os de abuso sexual de menores apenas registaram uma ligeira redução de 4% (de 106 para 102). A maioria das vítimas neste último caso são meninas com uma média de idade de 9,9 anos, sendo que quase um quarto (23,8%) ainda frequenta o pré-escolar e 23,6% o 1.º ciclo.

Perante estes números, resta acrescentar que vivemos numa sociedade marcada pela violência, nas suas diversas formas, com uma tendência para aumentar. Uma sociedade, onde os problemas financeiros das famílias e a pobreza podem acabar em actos de violência generalizada, atingindo homens, mulheres e crianças.

Florindo Cardoso