Não aprendemos!

O balanço é trágico e inédito em Portugal. Mais de 100 mortos e dezenas de feridos em apenas quatro meses, vítimas dos fogos florestais que assolaram este ano o nosso país.

A tragédia de Pedrogão Grande chocou o país, originou uma onda de solidariedade no país, angariam-se milhões de euros junto da sociedade civil para ajudar as vítimas a refazer as suas vidas. As imagens da “estrada da morte” permaneceram na mente dos portugueses, com as carcaças dos carros carbonizados no meio de um pinhal. Os funerais das mais de 60 vítimas foram acompanhados de silêncio e revolta, com os governantes presentes, numa espécie de meia culpa.

Todos ouvimos dizer que era preciso mudar tudo, desde a política de prevenção ao combate dos incêndios. Foi tudo tão mau, o Estado falhou em toda a linha, deixou pessoas a morrer, sozinhas, sem ajuda de ninguém. Sem comunicações, electricidade, água e bombeiro (uns verdadeiros heróis). Uma tristeza partilhada pelo Presidente da República, incansável no apoio às famílias, com a sua presença e amparo daqueles que perderam os seus entes queridos. Prometia-se que não poderia acontecer novamente.

Toda a gente sabe que a maioria dos incêndios tem origem criminosa, dificilmente são apanhados os pirómanos e quando o são, os juízes mandam-os para casa ou com condenações fracas. É do conhecimento geral que o clima mudou drasticamente nos últimos anos. Temos Verões cada vez mais quentes, com ondas de calor assustadoras em determinadas regiões do país. Aliás, estamos a viver um ano atípico, com temperaturas elevadas, com pouca chuva. Em Outubro estão temperaturas altíssimas para esta época do ano.

Só que não aprendemos! Não bastava um fenómeno da dimensão de Pedrogão Grande para nos ensinar alguma coisa. Infelizmente continuou tudo na mesma. Mais uma vez a tragédia aconteceu, na Sertã, desta vez numa escala maior em que nem o Pinhal de Leira, mandado construir pelo rei D. Dinis, escapou.

Mais 40 mortos e dezenas de feridos. Falhou tudo novamente. O Instituto de Meteorologia advertiu que iria ser o pior dia do ano, com todas as condições propícias para incêndios mas não foram colocados em prontidão os meios necessários como bombeiros em número suficiente e aviões de combate. Nada foi feito e a dimensão dos fogos foi assustadora. Um inferno!

Há interesses instalados, milhões gastos no combate aos incêndios e grupos organizados, com negócios ligados à floresta. Tudo isso é verdade mas o Estado não pode falhar novamente. Deixar as pessoas morrer, abandonadas, nas suas casas e terras. É mau demais e revoltante.

Foram agora tomadas medidas pelo governo que deveriam ter sido concretizadas há décadas, exigidas pelo Presidente da República. Vai tudo mudar para evitar novas catástrofes? Penso que não! Burocracia nos gabinetes, propriedades privadas com direitos adquiridos e em estado de abandono, o isolamento do interior do país, cada vez mais com menos gente, impedem que as coisas mudem pouco ou quase nada.

O fenómeno veio para ficar. Terá de ser aplicada mão pesada aos pirómanos, aos que ganham milhões com os negócios dos fogos. É preciso agir já porque senão no próximo Verão será mais do mesmo e o país e os portugueses não aguentariam.

Temos de salvar o nosso país.