Museu do Trabalho em Setúbal apresenta exposição sobre alfaiate António Ferrão – Filhos Toy e Leonor emocionados com homenagem ao pai

A exposição “António da Costa Ferrão – alfaiate e artista”, que junta fotografias e artefactos ligados à profissão, foi inaugurada a 8 de Dezembro, no Museu do Trabalho Michel Giacometti, perante a presença de duas centenas de pessoas, entre as quais os filhos, Maria Leonor Neves Ferrão Machado e António Manuel Neves Ferrão, o cantor Toy, bastante emocionados com a homenagem ao pai, com 94 anos de idade.

A cerimónia de inauguração contou com a presença do homenageado acompanhado da família, juntou perto de duas centenas de pessoas que assistiram a um programa que teve início com uma intervenção de boas-vindas da vereadora Eugénia Silveira, que ofereceu, igualmente, duas fotografias aos filhos.

A iniciativa contou com um apontamento musical por Toy, que cantou o “Miúdo das Cautelas” que o artista cantava com cerca de 10 ou 11 anos no teatro da revista à portuguesa na Sociedade Musical Capricho Setubalense, onde seu pai foi músico da banda e do conjunto que acompanhava as revistas e o teatro musicado.

Seguiram-se a declamação de poesia com José Raposo e uma intervenção do antigo alfaiate Vítor Gaspar, que desfiou memórias de tempos antigos, e ainda a actuação do Grupo de Cantares Populares e Tradições da Junta de Freguesia de São Sebastião.

A mostra que revela memórias e histórias da vida de uma personagem multifacetada, costuradas entre artes, resulta da doação do espólio relacionado com instrumentos de trabalho ligados à “Alfaiataria Ferrão”, pelos filhos.

As imagens antigas mostram, por um lado, a profissão de alfaiate, com António Ferrão ladeado da mulher e dos funcionários da alfaiataria que possuía num 1.º andar da travessa do Postigo da Pedra, e, por outro lado, um dos conjuntos musicais a que o homenageado pertenceu.

Leonor Ferrão frisou que é “o meu pai é o exemplo da honestidade e da ousadia porque conseguiu nos anos 50, numa sociedade conservadora, lutar pelo amor e por uma paixão, venceu e graças a isso estamos cá”, disse a filha, agradecendo à equipa do Museu do Trabalho que preparou a exposição e à Câmara Municipal de Setúbal.

Já Toy sublinhou que esta foi “uma homenagem merecida”, reconhecendo que “a ideia da minha irmã de doar o espólio e dividir as nossas recordações com os setubalenses, é uma forma altruísta de partilhar um bocadinho daquilo que são os sentimentos de uma família que sempre se amou, mesmo com os afastamentos inerentes de profissões diferentes”.

Sobre as memórias da exposição, o cantor confessa que são “excelentes à medida que vamos olhando, ainda me recordo do número da alfaiataria, o 23247, nunca mais me esqueci”.

O homenageado nasceu a 30 de Setembro de 1924, em Ançada, concelho de Mangualde e distrito de Viseu. Iniciou-se no ofício de alfaiate aos 11, uma vez concluída a antiga 4.ª classe, profissão à qual se dedicou durante 75 anos, primeiro em Lisboa, cidade onde cumpriu o serviço militar, depois em Setúbal, onde chegou em 1951. Fundou nesse ano, a alfaiataria, num primeiro andar da travessa da Pedra, com janelas avarandadas para o largo da Misericórdia, bem no coração da cidade, que viria a encerrar em 1984, quando já não conseguia resistir à produção massificada do vestuário. Fez o seu último fato com 86 anos, já em casa e no seu atelier particular.

Dedicado de corpo e alma às suas artes, de dia era o alfaiate António Ferrão, e à noite músico, que tocava guitarra eléctrica, violino, contrabaixo, banjo e viola-baixo acústica em conjuntos de bailes, orquestras e grupos de cantares como “Florida” e “Riviera”.

É sócio da Capricho Setubalense e da União Setubalense, onde aprendeu solfejo e tocou trompete nas respectivas bandas filarmónicas.

A mostra pode ser visitada, até 31 de Janeiro, de terça a sexta-feira das 09h30 às 18h00 e ao sábado e domingo das 14h00 às 18h00.