História de “João Almeida, o último fuzilado” em livro – Da autoria de Albérico Afonso Costa e João Ribeiro

O livro “João Almeida, o último fuzilado e outras leituras da Grande Guerra”, de Albérico Afonso Costa e João Reis Ribeiro, foi apresentado a 27 de Outubro, na Biblioteca Municipal de Setúbal, contando com a presença do professor Viriato Soromenho-Marques, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, de Ângela Lemos, vice-presidente do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), instituição que concedeu apoio à obra e várias dezenas de convidados.

Para Maria das Dores Meira, os autores, “dois homens de Setúbal, dedicados ao estudo da história e das coisas setubalenses” dão neste livro, “uma perspectiva muito completa da forma como, em Portugal, em especial, foi vivida a 1.ª Grande Guerra”, através do caso do soldado João Almeida, que terá sido o último condenado à morte no nosso país.

“Estamos perante um trabalho que merece a nossa mais viva saudação pois debruça-se sobre um período e um acontecimento da maior importância do séc. XX, nem sempre conhecido do ponto de vista português”, disse a edil sadina, felicitando os autores por recordarem uma história esquecida, mas “de múltiplas facetas e implicações na história portuguesa global do século passado”, nomeadamente a recuperação da pena de morte que havia sido abolida para crimes políticos em 1852 por decisão monárquica.

Já Ângela Lemos realçou que este livro representa a ligação do meio académico à investigação, “valorizando a história do país”. “Termos no nosso corpo docente um investigador, alguém que se preocupa com a história e em transmitir o que é nosso, é por nós valorizado, tem sido esse o papel do instituto, em particular da Escola Superior de Educação, da qual faz parte o professor Albérico Afonso Costa”.

Viriato Soromenho-Marques, que fez a apresentação do livro, elogiou o papel dos dois investigadores, sublinhando que “o livro cumpre uma das condições fundamentais para uma obra deste tipo que é alargar os horizontes do conhecimento”.

Para Viriato Soromenho-Marques, o caso do soldado João Almeida, foi “um crime do Estado português contra um cidadão enfermo, com problemas psicológicos, que deveria ter sido tratado e apoiado porque estava nitidamente perturbado, e em vez disso, foi fuzilado”.

“Aquilo a que nós assistimos com a Primeira Guerra Mundial é ao início de um processo de auto destruição democrata da Europa que infelizmente ainda não terminou. Provavelmente, ainda estamos a viver, a cem anos de distância, os últimos episódios dramáticos”, frisou o docente, adiantando que foi uma guerra “de uma violência inaudita, com condições das piores, nem a Segunda Guerra Mundial ofereceu um quadro de desconforto, de impotência tão grande”.

Quanto aos autores, João Reis Ribeiro, afirmou que “não podemos ficar insensíveis com um fenómeno destes como é a guerra, os seus efeitos e consequências e é sobretudo este factor que me tem preocupado”, enquanto Albérico Afonso Costa destacou que este livro “é o resultado das nossas investigações comuns e da paixão que nos une não só pela história de Setúbal mas pela Guerra Mundial”.

A partir do caso do soldado João Almeida, a única vítima da recuperação da pena capital, em 1916, os autores desenvolvem todo um processo de redescoberta daquele período, dos seus protagonistas e das consequências das suas decisões num país em que se debatia a participação na guerra. O soldado foi o bode expiatório para prevenir uma rebelião já que os militares estavam cansados de uma prolongada guerra (1014-18), com milhares de mortos.

O livro é constituído por seis abordagens relacionadas com a Grande Guerra: “A recepção do antimilitarismo no movimento operário português”, “Os partidos políticos face à Guerra”, “Jaime Cortesão: um intelectual perante a Guerra”, “Aquilino Ribeiro – diário do início da Guerra”, “O impacto social e político da I Grande Guerra no movimento operário” e “O fuzilamento do soldado João Almeida – da farsa de um julgamento à tragédia de uma execução”.