Festival do Teatro de Setúbal foi um êxito

Mais de 4 mil pessoas assistiram à programação da 19.ª edição do Festival Internacional de Teatro de Setúbal – Festa do Teatro, que decorreu entre 18 e 27 de Agosto, em vários espaços da cidade, onde foram apresentadas 24 peças de teatro, nove das quais a concurso na secção “Mais festa”. Teatro de sala e de rua, artes circenses, dança, música, cinema e performances contribuíram para o sucesso do evento organizado pelo Teatro Estúdio Fontenova com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal.

A entidade promotora do evento, faz um balanço positivo do certame.

“O festival está cada vez melhor, este ano registou-se um grande aumento na qualidade dos espectáculos”, disse José Maria Dias, director do Teatro Estúdio Fontenova, frisando que “os espectáculos da secção oficial são todos de alta qualidade, os realizados no Fórum Municipal Luísa Todi são de topo mundial e o público aderiu”, como o do encerramento “Hamlet”, pelo Teatro Clássico de Sevilha (Espanha).

“O festival de teatro está implantado mas precisamos de ter mais apoios, um certame com este nível, não pode sobreviver com um orçamento muito fraco (30 mil euros), há quem diga que fazemos milagres, acredito mais no nosso trabalho, perseverança, resiliência, muita abnegação e sacrifício de toda a equipa, dos colaboradores mais directos e voluntários”, afirma José Maria Dias.

O evento “precisa de mais divulgação, essa é a nossa lacuna, mas isso só se faz com dinheiro, sendo complicado e o orçamento não permite”, confessa o director, adiantando que “queremos apostar na qualidade dos espectáculos, a programação é muito criteriosa e para todos os gostos, desde o público mais descontraído ao mais atento”.

“Esperamos que o público de Setúbal continue a apoiar o festival, porque já é reconhecido a nível mundial, temos contactos e candidaturas de vários países da Europa, América Latina, do Irão, Timor”, disse ainda José Maria Dias, recordando que a secção “Mais festa”, foi “uma grande aposta que fizemos há quatro anos, e tem cada mais gente dos quatro cantos do mundo”. Este ano o vencedor desta secção foi “Cães do Mar” com “Os Amores encardidos de Padi e Balbina: uma dúbia história do revenge”.

Na secção oficial, o programa contemplou dez peças de teatro, seis produções de companhias portuguesas e quatro de companhias estrangeiras: duas espanholas, uma brasileira e uma italiana. Foi apresentada a estreia da peça ‘Voz dos Pássaros’, encenada por José Maria Dias, numa coprodução do Teatro Estúdio Fontenova com UmColectivo, de grande beleza estética. Na rubrica “Mais festa” a concurso foram representadas nove peças, duas das quais produções espanholas e uma de um colectivo inglês e espanhol. A programação ficou marcada por trabalhos internacionais como “Farsa y Licencia de la Reina Castiza”, da companhia espanhola Mundanal Ruido Teatro, “A salto alto – entre gentilezas e extermínios” pelo Circo no Ato, do Brasil, “Naveneva”, da Compagnia Naturalis Labor, de Itália, e a multipremiada versão de “Hamlet”, com encenação de Alfonso Zurro, o espectáculo mais premiado em 2016 em Espanha.


Entrevista com Tatiana Cobbett, artista do Brasil: “Setúbal é a nossa cidade madrinha”

Tatiana Cobbett é compositora, cantora, bailarina e poeta. Na sua trajectória de mais de 15 anos a trabalhar a música de forma independente, entende que a música “não é só entretenimento” e neste sentido sempre procurou acrescentar um olhar crítico, bebendo em variadas fontes e misturando linguagens no seu processo de criação. Em “Arcadia”, fazendo uso do lúdico, alimenta a cena com performances e textos que visam interagir com o público poeticamente, gerando uma intensa experiência sonora. 

Na abertura do Festival do Teatro de Setúbal, Tatiana Cobbett, apresentou um espectáculo de cerca de uma hora, onde fez a ponte entre Brasil e Portugal, cantando um poema se Florbela Espanca, e homenageou Bocage.

Setúbal Mais – Como tem sido a sua aventura artística em Portugal?

Tatiana Cobbett – Emocionante é a palava certa para descrever. Do jeito como está o mundo, chegar a uma cidade (Setúbal) onde se realiza a 19.ª edição da Festa do Teatro, reunindo grupos de teatro de vários lugares do mundo e ao ser chamada para fazer a abertura, dando as boas vindas para este encontro de confraternização de arte e cultura é muito emocionante para um artista. Particularmente ficou muito sensibilizada, estou vivendo este momento.

 

S.M. – É a primeira vez que está em Portugal?

T.C. – Não. Tenho um trabalho no Brasil (Florianópolis) de música autoral, com um parceiro Marcoliva Lives, um duo, e estivemos no início deste ano em Setúbal, a convite de Fernando Casaca, do Teatro Elefante, e realizámos uma pequena tournée, na Casa da Cultura, Casa d’Avenida e na Sociedade Filarmónica Capricho Setubalense, e seguimos para Caldas da Rainha, Galiza e regressámos ao Brasil. Voltei agora porque estou desenvolvendo um projecto de residência artística Portugal-Brasil, justando, mesclando artistas portugueses, de diversas linguagens, actores, músicos, poetas, com artistas brasileiros, tentando construir um trabalho que ainda é um embrião. Aqui, já fizemos três apresentações no Parque Urbano de Albarquel, reunindo artistas de Cabo Verde. Somos de facto países irmãos, a cada passo que se dá em Portugal tem um legado, temos as nossas semelhanças. O meu projecto de residência artística pretende descobrir onde a gente igual, guardando as nossas diferenças, está a ser muito produtivo, tenho encontrado parcerias, principalmente aqui. Considero Setúbal a nossa cidade madrinha, com muitos artistas, dispostos a trabalhar em parceria e em pensar a arte de forma mais colectiva.

S.M. – Conte um pouco da sua carreira artística…

T.C. – Sou bailarina de formação. Aos 40 anos, deixei a dança e comecei na música e arte teatral. Escrevi alguns musicais, sou autora, compositora. Ainda sou uma estudante da música, nesse sentido.