Vítor Proença: “Atingimos as mil camas turísticas e a oferta vai continuar a aumentar”

Este ano vão arrancar dois projectos estruturantes na cidade de Alcácer do Sal, a construção do interface de transportes e o futuro parque urbano, num investimento global de 3,7 milhões de euros. Em entrevista o presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Vítor Proença, assume que o concelho pode crescer ainda mais a nível do turismo e defende Alcácer como grande pólo de atracção nacional na área do conhecimento com o Museu Pedro Nunes, em construção, e o Centro de Arqueologia Náutica do Alentejo Litoral. O edil manifesta preocupação com a seca, que coloca em causa a campanha do arroz, e das obras no IC1 não contemplarem a zona entre Palma e Alcácer.

Florindo Cardoso

 

 

 Setúbal Mais – Quais os principais projectos que estão previstos arrancar em 2018?

Vítor Proença – A conclusão das obras do Museu Pedro Nunes, orçadas num milhão de euros, com financiamento comunitário. É a materialização de um antigo desejo da população de Alcácer do Sal de ver transformada a antiga Igreja do Espírito Santo num museu dedicado ao comércio fluvial no rio Sado. O museu irá recorrer às novas tecnologias de multimédia e à realidade virtual, para explorar as limitações físicas do espaço, permitindo uma oferta de grande qualidade para a população e turistas.

Destaco ainda a concretização de duas dezenas de projectos agroalimentares, com grande expressão no concelho, que representam novos investimentos e novas agriculturas, entre as quais de mirtilos e pêra abacate. Esta, com dois empreendimentos, um português e outro de um investidor sul-africano que escolheu Alcácer em detrimento de Marrocos, Itália, França e Espanha. Há ainda novas explorações de cenouras e hortícolas de grande valor, destinadas à exportação.

No final de 2018 vai iniciar-se o processo de obras do interface de transportes no valor de um milhão de euros, também com financiamento comunitário, cujo processo de empreitada está a decorrer. Trata-se de requalificar a zona que circunda a praça de touros, o jardim e a frente da feira, do lado da Associação de Regantes, actualmente com piso em terra batida. Será ainda instalado um posto de abastecimento para viaturas eléctricas.

Em 2018 será ainda lançado o procedimento do concurso, na ordem dos 2,7 milhões de euros, do Parque Urbano de Alcácer do Sal, situado no actual parque de feiras, um projecto de grande qualidade. Este ano teremos ainda concluído e adjudicado o projecto do casco histórico de Alcácer até à avenida dos Aviadores que será entregue a dois reputados técnicos, o arquitecto Luís Bruno Soares e o engenheiro Vasco Colaço, que nos trarão as linhas condutoras para a reabilitação urbana do espaço público e o aproveitamento da beleza de Alcácer.

Será também o ano de afirmação da Comporta, uma freguesia de grande importância no concelho, prosseguindo com um conjunto de intervenções, quer na Carrasqueira quer na Comporta, propriamente dita, e com a primeiras três casas reabilitadas de um total de cinco, atribuídas por concurso a pessoas carenciadas.

Em 2018 será o ano de cruzeiro do plano de combate ao insucesso escolar, um investimento de 600 mil euros, com candidatura a fundos comunitários.

Vai ser também o ano de afirmação do Centro de Arqueologia Náutica do Alentejano Litoral (CANAL), que está situado na cidade de Alcácer junto ao estuário.

S.M. – O novo Parque Urbano de Alcácer vai ter implicações na PIMEL?

V.P. – Sim. O produto final será outra PIMEL (Feira do Turismo e das Actividades Económicas de Alcácer do Sal) e Feira Nova de Outubro com maior qualidade de acolhimento para expositores. A câmara deixará de alugar anualmente stands para colocar as tasquinhas e várias estruturas passarão a ser permanentes, com uma rede de infraestruturas adequadas a nível de água, saneamento, electricidade, arrumação do espaço, estacionamento. O parque acolherá os certames, mas simultaneamente será um espaço de lazer para acolher a população e visitantes.

S.M. Quanto ao museu e CANAL pretende-se que sejam um polo de atracção nacional?

V.P. – O projecto do Museu Pedro Nunes e do CANAL terão de ter obrigatoriamente uma componente de combate ao insucesso escolar, em articulação com os estudantes e escolas, mas também uma ligação a universidades e investigadores. O CANAL terá ainda ligação com a Universidade do Texas, a Faculdade de Ciências da Nova de Lisboa e a Faculdade de Engenharia do Porto, como por exemplo o submarino que será um instrumento de análise e prospecção de achados arqueológicos no estuário do Sado. Há um factor extremamente rico em Alcácer do Sal que é a simbiose entre o rio Sado, a parte histórica e a riqueza patrimonial. Em 2018 celebram-se os 800 anos como município, que será alvo de um programa de comemorações ao longo do ano.

S.M – O turismo no concelho pode crescer ainda mais?

V.P. – Sim. Quando assumi o executivo camarário, em 2013, sempre afirmei ser intenção de apostar na promoção turística de Alcácer do Sal e na valorização dos seus produtos, riqueza, paisagem e história das suas gentes. Temos um multiculturalismo no concelho patente na figura marcante dos “negros brancos”, que trouxeram um elemento rico para esta terra ou numa das variantes do Canto Alentejano, o “Ladrão do Sado”, uma forma poética e musical, única, que só se encontra no Vale do Sado. Com investimentos nacionais e estrangeiros na hotelaria, atingimos as mil camas turísticas e a oferta vai continuar a aumentar. A restauração regista uma grande procura graças à sua qualidade. A própria localização de Alcácer beneficia de estar junto ao IC1 e à A12. A iluminação dos monumentos, como o castelo e as igrejas, e a cripta arqueológica são factores de atracção.

S.M. – Em relação à seca que afecta o território. Como está a acompanhar a situação?

V.P. – A barragem do Pego do Altar está na ordem dos 9% da sua capacidade, e a do Vale do Gaio a 12 a 13%, pouquíssimo, o que significa que para 90% dos produtores de arroz não vai haver água para produção. É uma cultura que exige muita água, cerca de 12.500 metros cúbicos por cada hectare. Reuni recentemente com o ministro da Agricultura, acompanhado das associações de produtores e regantes, solicitando a ligação do Alqueva às duas barragens, sendo mais fácil no Torrão, a do Vale do Gaio, enquanto é tecnicamente possível na do Pego do Altar. Aliás, o próprio presidente da EDIA (empresa gestora do Alqueva) transmitiu-me que basta haver decisão e avança com as obras de ligação. Grande parte dos solos do Vale do Sado não têm capacidade para receber outras culturas, devido a serem extremamente salinizados, tendo as experiências com milho sido um fiasco. As expectativas são muitas baixas quanto à campanha do arroz para 2018, com prejuízos incalculáveis, porque o Vale do Sado representa 30% da produção nacional e isto vai causar prejuízos na ordem dos 12.500 milhões de euros.

Já convidámos o Presidente da República a vir cá mas ainda não respondeu. É uma situação caótica e severa porque estamos a falar de bens alimentares. Estamos em três anos de seca severa, é um problema que vai continuar.

 

S.M. – Em relação ao IC1 tem informação de que as obras vão mesmo avançar?

V.P. – Sim, mas são insuficientes, porque todo o troço que vem de Palma até Alcácer está em péssimo estado, tão perigoso como a área que será intervencionada, e inexplicavelmente ficou de fora. Já alertamos o Ministério da Infraestruturas para que pondere uma intervenção faseada, no máximo dentro de três anos. Recordo que a intervenção no IC1 só vai ser feita devido à luta que as câmaras de Alcácer e Grândola e as suas populações e comissões de utentes fizeram junto do governo.