Entrevista com Carlos Humberto, presidente da Câmara Municipal do Barreiro

“É necessário sabermos sair com dignidade e respeito pelos outros dos cargos públicos”

Carlos Humberto, um dos autarcas históricos do distrito de Setúbal, termina os três mandatos como presidente da Câmara Municipal do Barreiro. Militante do PCP, afirma que em princípio vai reformar-se mas está disponível para o seu partido. Faz um balanço positivo do seu trabalho à frente da autarquia.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais – Qual o balanço geral dos três mandatos?

Carlos Humberto – É muito difícil fazer o balanço de 3 mandatos em poucas palavras e não é minha característica fazer balanços públicos dos meus percursos. No entanto direi que considero 12 anos de actividade positiva da Câmara Municipal do Barreiro. Fizemos muito. Fizemos imenso mas por muito que façamos o que fica por fazer é sempre mais do que aquilo que foi feito. O exercício no poder local, o exercício do presidente de câmara é muitíssimo mais do que aquilo que se torna visível. Encaramos a gestão do poder local e da Câmara Municipal do Barreiro como um importante contributo para a resolução dos problemas concretos das populações; para o desenvolvimento do concelho e suas freguesias; para criar condições para continuar o combate por uma sociedade mais justa, por avanços civilizacionais. Procuramos, pensamos que no essencial conseguimos estar no poder local da câmara municipale na presidência de forma transparente, com honestidade, seriedade como encaramos os problemas e as soluções, sem promessas vãs e falsas, com imensa responsabilidade, no que fazemos e dizemos, no trabalho, muito trabalho, com respeito integral pela autonomia das diversas entidades com quem contactamos. Por tudo isto consideramos que a proximidade à população, aos trabalhadores do município, aos agentes económicos, sociais, culturais, associativos, a todos, é um factor determinante do poder local tal como o entendemos. Por isso fizemos das questões da participação, da democracia e cidadania um eixo central da nossa actividade. Foi muito positivo. Aprendemos muito. Construímos em conjunto, juntámos saberes, vontades, sensibilidades. Foi útil para o Barreiro. Foi útil para quem quis ou pôde participar e ajudar a construir. É uma metodologia que continuará a dar frutos no futuro e levou, em minha opinião, a que se generalizasse esta concepção para além da CDU. Foi e é uma forma essencial de estar no poder local o fomentar a participação e a proximidade. Uma postura de juntar vontades, de juntar saberes, de juntar sensibilidades. Queremos sempre contar com todos os que queiram connosco construir o caminho do desenvolvimento independentemente das suas opções.

 

S.M. – Qual a obra ou investimento que o marcou mais nestes 12 anos?

C.H. – Foram imensas as obras, os investimentos, a actividade que me marcaram. O reforço do centro do concelho com a reabilitação da av. Alfredo da Silva, a construção do novo mercado, a reabilitação da zona das cordoarias, a abertura da fábrica à cidade que está ainda agora a continuar com nova rua da União e nova entrada do Lavradio ou o já concretizado atravessamento da fábrica voltando a ligar o Barreiro ao Lavradio, o novo quartel dos Bombeiros de Salvação Pública, a nova esquadra da PSP; as importantes intervenções na frente ribeirinha, algumas delas ligadas também a intervenções no Barreiro Velho (Polis, Alburrica – passadiços, acessos, moinhos, apoios de Praia – Quinta do Braamcamp, Alameda Augusto Cabrita, av. Bento Gonçalves, largos da Igreja Nossa Senhora do Rosário, rua Miguel Pais, entre outras. As intervenções que temos tido nas áreas da mobilidade, dos transportes, das acessibilidades, foram medidas com vista a uma cidade mais acessível, medidas com vista à descarbonização, à definição de Rede Ciclável Municipal e à sua concretização faseada, à sustentabilidade económica, financeira, ambiental dos Transportes Colectivos do Barreiro (TCB), da compra de 60 autocarros a gás, a utilização de novas tecnologias para o serviço dos TCB. A construção de novos troços viários, as repavimentações, entre tantas outras. E o que se fez nas águas e saneamento, na qualidade da água para consumo humano, na redução significativa das perdas de água, no tratamento de mais de 98% das águas residuais domésticas, das quais, quando cheguei à câmara não fazíamos nenhum tratamento. Foram avanços imensos, que é impossível referir todos. As intervenções nas áreas sociais, com e para as gerações mais idosas. Para a juventude. A muito significativa intervenção no Parque Escolar, com a construção de novas escolas, reabilitação de salas de aula, casas de banho, cozinhas, espaços exteriores, brinquedos, etc. A muito intensa actividade cultural, desportiva, lúdica, promovida pela câmara e dinamização pelo diversificado movimento associativo. As intervenções valorativas do património moageiro, ferroviário, industrial, entre outros.

S.M.  – O que ficou por fazer que gostaria de ter realizado?

C.H. – Tudo o que é estruturante para o futuro e que em grande medida são as consequências da desindustrialização imponderada que foi concretizada nos territórios da Ex-CUF/Quimigal e nos territórios e edifícios ferroviários. As questões das acessibilidades com o exterior foram coisas que debatemos, projetámos, planificámos mas não foram executadas. Particularmente a TTT (Terceira Travessia do Tejo) e a Ponte Rodoviária Barreiro-Seixal. Também considero que poderíamos ter ido mais longe e andado mais depressa no que diz respeito ao Terminal de Contentores do Barreiro – Terminal Multimodal. Gostaria de ter levado este projecto bastante mais longe. Outros o concretizarão. Naturalmente que além destas grandes questões o que mais desejava de ter feito era resolver todos os pequenos problemas de cada rua, de cada bairro, de cada freguesia. Isso nunca será atingido. Tem que ser sempre um objectivo com trabalho permanente e diário.

 S.M. – Qual o seu futuro profissional após terminar este mandato?

C.H. – Tenho 66 anos. Estou na idade da reforma. É isso que em princípio vou fazer. Sou candidato a presidente da Assembleia Municipal e estou convicto que vou sê-lo. Tenho a opinião firme que é necessário sabermos sair com dignidade e respeito pelos outros dos cargos públicos. É isso que pretendo fazer. Estou no entanto, como sempre e à minha maneira, ao serviço do meu partido – O PCP – do Barreiro e do poder local.