Entrevista com Carlos Humberto, presidente da Câmara Municipal do Barreiro: “Faço uma avaliação positiva da minha passagem pelo município”

Carlos Humberto está a um ano de completar 3 mandatos à frente da presidência da Câmara Municipal do Barreiro. O autarca, que não se pode recandidatar ao cargo, faz um balanço positivo do seu trabalho de quase 11 anos e destaca a transformação da zona ribeirinha do concelho com grandes investimentos, onde se destaca a compra e requalificação da Quinta do Braamcamp.

 

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais (S.M.)– Quais os principais investimentos previstos para 2016?

Carlos Humberto (C.H.)– Está previsto um conjunto vasto de intervenções entre 2016 e 2017, através de fundos próprios da câmara, outras com fundos comunitários e ainda investimentos privados em espaço público. Temos um plano de repavimentações que começou em 2015 e que continua este ano e 2017, no valor de 400 mil euros, em cada ano. Fomos informados que foi aprovada a candidatura de requalificação da Escola Básica n.º 3, aglutinando as escolas n.º 3 e 4, na antiga freguesia da Verderena, e vamos lançar já o concurso no valor superior a 2 milhões de euros. Isto obrigará durante as obras de requalificação a deslocar os alunos para pavilhões provisórios numa escola do agrupamento. Acabámos de elaborar as candidaturas de recuperação dos moinhos de vento de Alburrica e do Moinho de Maré Pequeno, cujo valor ronda os 500 mil euros, e em paralelo faremos um investimento de mais 800 mil euros na zona envolvente e na consolidação das comportas dos Moinho de Maré Grande. Neste momento, está no Tribunal de Contas para obtenção de visto a obra de ligação da rotunda do Malangatana até ao largo das Obras, uma nova via que descongestionará o trânsito no centro e permitirá a reabilitação do espaço público envolvente do Fórum Barreiro, cujo investimento situa-se entre 1 a 1,5 milhões de euros. Em relação aos investimentos privados com intervenção no espaço público, destaco a rua da União, que liga o largo das Obras ao interior das fábricas, pela Baía do Tejo, uma empreitada importante do ponto de vista da requalificação e de continuar a abrir a zona da fábrica à cidade. A Baía Tejo irá ainda requalificar a entrada do Lavradio, junto ao posto de combustível. Está também a instalar-se uma superfície comercial junto ao hospital, que fará obras de requalificação na avenida do Cais, com duas novas rotundas, ajudando a fluidez do trânsito. Na zona ribeirinha, queremos acabar as obras do Polis, accionando a garantia bancária, que deverá ser libertada dentro de poucas semanas. Estamos confiantes que a intervenção que vai avançar em Palhais, permite a dinamização económica e melhorar o espaço público e o tráfego rodoviário.

S.M. – A obra marcante que vai ficar neste mandato é a compra e requalificação da Quinta do Braamcamp, na zona ribeirinha…

C.H. – Temos previsto um conjunto de investimentos nesta zona, entre 2016 e 2017, desde a rua do Clube Naval, passando pela Quinta do Braamcamp, Bico do Mexilhoeiro, Alburrica e até à antiga estação fluvial Sul e Sueste, na avenida dos Sapadores. A curto prazo vai avançar a recuperação do Moinho de Maré na Quinta do Braamcamp bem como a limpeza e a instalação de percursos pedonais. Uma parte da ciclovia, que fará a ligação à ponte pedonal e ciclável ao concelho do Seixal, passará por esta zona.

S.M. – Dentro de poucos anos a zona ribeirinha do Barreiro transforma-se num grande parque de lazer e lúdico da cidade. É uma grande mudança?

C.H. – É uma visão estratégica que temos vindo a perseguir. Há um conjunto de intervenções que às vezes parecem isoladas mas já integram esta visão de conjunto como por exemplo a primeira fase do Polis, que agora avançará para a segunda fase, ou as obras de requalificação das avenidas da Praia e Bento Gonçalves, o passeio Augusto Cabrita, os passadiços na zona ribeirinha, a compra da Quinta de Braamcamp e do Moinho de Maré Grande e a respectiva caldeira, um conjunto de obras em Alburrica, com um parque infantil e acesso rodoviário. Tudo isto, são passos desta visão integrada, de transformar a zona ribeirinha do Barreiro.

S.M. – Acredita que estas obras vão ter impacto na economia local, gerando pequenos negócios e postos de trabalho?

C.H. – É essa nossa intenção e esperamos conseguir. Queremos, aos poucos, dinamizar a frente de rio, passando pela actividade económica, lúdica e desportiva. Estamos empenhados nisso, criando pequenas actividades empresariais e emprego e dinamizando o turismo interno do Barreiro e dos concelhos limítrofes e até algumas visitas de outras zonas devido à proximidade de Lisboa.

 

S.M. – Qual é a situação financeira da autarquia?

C.H. – A situação financeira do município tem vindo a melhorar e isso permitiu reduzir significativamente a dívida de todo o tipo e o prazo médio de pagamento a fornecedores. Queremos melhorar ainda mais e dar sustentabilidade económica e financeira ao município para garantir o futuro. Apesar de estar no último ano de mandato não quero colocar em causa o equilíbrio económico e financeiro do município.

S.M. – Conseguiu nestes 3 mandatos recuperar as contas do município já que se encontrava numa situação difícil?

C.H. – Foi muito difícil. No primeiro mandato, fomos equilibrando as contas, não conseguindo resolver completamente os problemas, mas melhorando. Depois com a crise, foi uma situação dramática e agravou-se ainda mais, mas fizemos este esforço, nos últimos 3 anos, com prejuízos para o funcionamento do município e da cidade mas hoje é possível afirmar que as contas estão controladas e com tendência a melhorar, incluindo a capacidade de resposta aos anseios da população.

S.M. – Em relação ao IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) mantém a mesma taxa?

C.H. – Temos uma taxa de 0,4% e ainda não decidimos o que vamos fazer para o próximo ano. Apesar de ser possível a taxa máxima de 0,5%, mantivemos em 0,4%, devido às questões de sustentabilidade económica e financeira do município que são muito importantes. Quero afirmar que não vamos correr riscos.

S.M. – Quanto à questão dos Transportes Colectivos do Barreiro (TCB), ficou satisfeito pelo tribunal ter recusado a providência cautelar dos Transportes Sul do Tejo (TST)?

C.H. – Temos um sistema de transportes, cumprimos com a legislação e temos feito um esforço muito significativo, e na minha opinião com resultados positivos, na capacidade de resposta dos TCB, numa aposta nas questões tecnológicas e de informação aos utentes. Temos o problema que urge resolver que é a idade da frota, estamos a trabalhar na renovação mas não é fácil porque é um investimento muito elevado. Neste quadro novo de legislação acordamos com o concelho da Moita em efectuar duas carreiras, a 1 e 2, na freguesia da Baixa da Banheira, passando pelo Vale da Amoreira. Os TST reagiram mal a este facto e colocaram uma providência cautelar para impedir a concretização deste acordo mas o tribunal deu razão às câmaras da Moita e do Barreiro. A nossa intenção é a curto prazo, antes do período de férias, alargar as carreiras àquelas zonas.

S.M. – O presidente da Câmara de Palmela também já manifestou a intenção de solicitar os serviços do TCB, na zona da Quinta do Anjo (Penalva). Qual a sua opinião?

C.H. – A solução para o concelho de Palmela exige outros meios e ponderação. De qualquer forma, até pela razão de trabalhar em conjunto com os outros municípios, podemos dizer que é uma possibilidade mas terá de ser estudado.

 

S.M- Como tem acompanhado a situação do Hospital do Barreiro, nomeadamente as queixas dos utentes?

C.H. – Com muita preocupação. O município do Barreiro já fez várias diligências mas é minha convicção de que os municípios servidos pelo Centro Hospitalar Barrreiro/Montijo deveriam conjuntamente tomar a iniciativa de procurar sensibilizar o Ministério da Saúde para encontrar soluções que respondam às necessidades da população destes concelhos.

S.M. – Faz um balanço positivo destes 3 mandatos?

C.H. – Faço uma avaliação positiva da minha passagem pelo município do Barreiro. É a minha opinião e o meu balanço, admito que outros fazem outra avaliação, mas digo com sinceridade que foram anos globalmente positivos.