Desapareceu o senhor Contente: “Quando eu morrer o mundo não vai parar porra nenhuma”

O actor Nicolau Breyner faleceu no passado dia 14 de Março, subitamente aos 75 anos, deixando um rasto de tristeza junto dos portugueses. Foi encontrado sem vida na sua casa, vítima de um enfarte de miocárdio.

Além de ser um grande nome da cultura nacional, com um trabalho notável na televisão, cinema e teatro, era reconhecido como um ser humano excepcional, de bem com a vida e consensual na forma como tratava os amigos e admiradores.

Numa entrevista a Daniel Oliveira na SIC, no programa “Alta Definição”, em 2010, questionado sobre ” o que dirá Portugal no dia a seguir à sua morte? O que gostava que se dissesse?”, o actor respondeu: “Que tinham gostado de mim. Eu gosto que gostem de mim, é um facto. É um fraco que eu tenho, porque eu gosto muito das pessoas. Quero que me recordem com um sorriso, com carinho”.

Questionado sobre o cancro da próstata que enfrentou em 2009, Nicolau Breyner confessou que por momentos pensou “Porque eu? Mas, porque não eu? Sou igual aos outros, é assim, é a vida”. Esse problema de saúde, levou-o a pensar na morte. “Eu não tenho medo da morte, eu tenho é pena de deixar de viver”, disse. “No dia em que eu morrer, ao contrário do que nós temos com aquela expressão “quando eu morrer o mundo vai parar”, não vai parar porra nenhuma! Nada para. O mundo gira, as lojas abrem, as pessoas riem, as pessoas choram, nascem pessoas. Tudo isso no dia em que eu morrer, portanto não é importante com certeza”, afirmou Nicolau Breyner a Daniel de Oliveira.

Vencedor de três Globos de Ouro da SIC como melhor actor de cinema, João Nicolau de Melo Breyner Lopes, de nome completo, nasceu em Serpa, a 30 de Julho de 1940, vindo em criança com os pais para Lisboa. Com ascendência aristocrática, tinha para si traçado um outro caminho, mas desistiu do curso de Direito para ir para o Conservatório. Primeiro o canto e depois o teatro. Sempre se mostrou orgulhoso de ser alentejano e até chegou a ser candidato a presidente da câmara municipal da sua terra natal, nos anos 90.

Tornou-se conhecido do grande público pelo seu trabalho como actor, mas também assumiu funções de realizador, produtor e, até, apresentador. Ficou conhecido por ser o “pai” das telenovelas portuguesas, quando dirigiu “Vila Faia”, onde também desempenhou o papel do camionista João Gadunha. Actualmente fazia parte do elenco da nova novela da TVI, ainda em filmagens, “A Impostora”. Nos últimos anos, participou em vários trabalhos para a TVI, com destaque para as novelas “O Beijo do Escorpião” (2014), no papel de Henrique Albuquerque e em “Jardins Proibidos” (2014-2015), como Manuel Maria Vasconcelos de Alcântara.

No cinema, os seus últimos trabalhos foram em 2014 com “Virados do Avesso”, de Edgar Pêra, e “Os Gatos não Têm Vertigens”, realizado por António-Pedro Vasconcelos e escrito por Tiago Santos. Gravou outros projectos que irão ainda estrear este ano.

Na televisão, deixa momentos marcantes como o programa que criou após o 25 de Abril de 1974, denominado “Nicolau no País das Maravilhas” e onde nasceu a rábula “Senhor feliz e senhor contente” que acabaria por lançar o ainda jovem comediante Herman José, e a também “Eu Show Nico”, série exibida em 1980 e 1981, e mais tarde em 1987 e 1988, com entrevistas e momentos de humor, com várias personagens desempenhadas por ele.

Nicolau Breyner só foi pai quase aos 50 anos. Deixa duas filhas, Mariana e Constança. Foi casado três vezes. Nicolau Breyner tinha, a propósito dos 50 anos de carreira e 75 de idade, um amor à vida e uma alegria enorme, contagiante junto de todos aqueles com ele conviveram.

Deixa um legado enorme para as gerações futuras. Ficará para sempre na nossa memória.