Centenas de pessoas assistem à abertura da Lagoa de Santo André ao mar: Tradição é já uma festa anual

Lagoa de Santo André
Abertura da Lagoa de Santo André ao mar

Durante cinco dias, duas máquinas giratórias cavaram um canal pelo cordão dunar que separa as águas da lagoa e do mar, tendo os derradeiros trabalhos culminado com a remoção das últimas línguas de areia.

 

Os trabalhos finais de remoção de areia para abrir o canal que liga a Lagoa de Santo André ao mar, no concelho de Santiago do Cacém, atraiu na passada terça-feira, 28 de Março, centenas de pessoas, sendo já uma tradição anual.

O derradeiro esforço das máquinas foi acompanhado atentamente por uma moldura humana que se estendeu ao longo dos cerca de 300 metros de comprimento do canal, entre as quais aguardavam atentamente alguns surfistas, na expectativa de conseguir apanhar a onda que se forma com a força da água que sai da lagoa em direção ao mar.

“Desde que eu faço este trabalho, vêm centenas de pessoas que acham graça, isto de facto é um acontecimento histórico e é normal”, afirma Isabel Pinheiro, responsável do departamento de recursos hídricos do litoral da Administração Regional Hidrográfica (ARH) do Alentejo.

A abertura da lagoa permite a renovação das águas e a exportação de matéria orgânica e nutrientes para a faixa costeira, assegurando também a entrada de sedimentos arenosos e organismos (peixes e invertebrados), que garantem a continuidade da actividade piscatória na lagoa.

A empreitada é feita artificialmente no equinócio da primavera desde o século XVII, antigamente com a força do homem e de animais e, mais recentemente, com o recurso a máquinas, numa empreitada promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), através da ARH do Alentejo.

O processo é executado anualmente nesta altura do ano porque é “a altura em que as marés são mais favoráveis e porque estamos no período da lua nova”, disse Isabel Pinheiro, acrescentando que “na lua nova a diferença entre a maré cheia e a maré vazia é maior, ou seja as amplitudes das marés é maior e favorece o esvaziamento e depois o reenchimento [da lagoa]”, ou seja, “favorece a eficiência de toda a operação”.

Após ter permanecido aberta “menos de dez dias” no ano passado e com uma previsão de “dez dias” de abertura para este ano, a intenção é manter “o canal aberto pelo menos um mês” de forma a “cumprir os objetivos de qualidade”.

Para isso, a APA planeia pela primeira vez “uma reabertura”, caso “venha a ser necessário”, ou seja, se o canal for fechado naturalmente nos próximos 30 dias.

Considerada como o maior sistema lagunar da costa alentejana, a lagoa está classificada como Zona Húmida de Importância Internacional (sítio Ramsar) e faz parte da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, criada em 2000, estendendo-se na zona costeira de parte dos concelhos de Santiago do Cacém e de Sines, no litoral alentejano.

Este ano, a abertura da lagoa de Melides, no concelho vizinho de Grândola, decorreu no mesmo dia, por volta das 16:15, algo que não costuma acontecer, até porque, neste caso, nem sempre é necessário recorrer a métodos artificiais para renovar as águas, já que, por vezes, a própria lagoa rompe naturalmente o cordão dunar.