Câmara exige 3 milhões para recuperação total

Convento de Jesus reabre este sábado

 

Câmara exige 3 milhões para recuperação total

 

 

Luís Geirinhas

 

Com a conclusão dos trabalhos da primeira fase de recuperação do Convento de Jesus, a Câmara de Setúbal quer agora dar continuidade ao projecto do arquitecto Carrilho da Graça, para poder terminar a recuperação total do espaço, classificado como monumento nacional em 1910. Maria das Dores Meira, presidente da autarquia sadina, quer que o Governo disponibilize os três milhões de euros necessários para poder avançar com a segunda fase da obra, que prevê mais intervenções na peça manuelina. “Estamos a pedir ao Governo que assuma a sua responsabilidade de dono deste edifício, que é património nacional “, esclareceu no final da visita às obras.

Dores Meira explicou que “estamos a falar de três milhões, na medida em que os outros três milhões são do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional)”, recordando que a verba da reabilitação total do monumento é de 6 milhões de euros. A autarca recordou ainda que há dois anos o Governo “deu a palavra à Europa Nostra – organização vocacionada para a preservação do património europeu -, de que já tinha assegurado o dinheiro para a recuperação do convento, quando o imóvel foi considerado como um dos sete monumentos europeus mais ameaçados”. A edil afirmou ainda ter havido “pouca vontade política” neste processo, tendo no entanto “pressionado sempre para que a obra avançasse”.

Refira-se que a Câmara passou a deter a responsabilidade na gestão do monumento por um período de 25 anos renováveis a partir do momento em que o antigo IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) transferiu esta competência para a autarquia no que toca ao convento e à própria igreja. “Acompanha todo o edificado do convento e está agora na posse da câmara”, frisou. “Isto agora não pode parar”, afirmou a presidente, depois de a autarquia ter assumido a liderança do processo após a assinatura de um protocolo com o IGESPAR, que por incapacidade orçamental para avançar com as obras, cedeu a posição de beneficiário da candidatura comunitária ao município sadino. “A câmara não podia deixar que este património definhasse de vez. Assim, assumiu a totalidade dos encargos que eram da responsabilidade do Estado”, salientou Dores Meira.

Encerrado ao público há mais de duas décadas, o convento vai ser devolvido a Setúbal no próximo dia 20. O espaço foi alvo de obras de estabilização e reconstrução, com renovação de toda a estrutura. Iniciadas em 2012, as obras procuraram “estabilizar a estrutura geral de todo o edifício e concluir a ala oeste”, onde irá abrir ao público o Museu de Setúbal e uma exposição com mais de 30 peças do seu acervo. A mostra terá peças de várias colecções, numa espécie de roteiro cronológico espaciotemporal entre o final do século XIV e o século XX, e irá incluir a pintura “Bocage e as Musas”, de Fernando Santos, assim como a obra “Calvário – Cristo Cruxificado, Nossa Senhora, São João e Santa Madalena”, doada pela Fundação Büehler-Brockaus.

A obra incluiu a estabilização, reconstrução, renovação e remodelação do convento, além da substituição da totalidade do telhado, restauração das paredes de pedra e de alvenaria, a par da protecção geral, através da criação de sistemas de drenagem no alçado norte. Nesta fase foi ainda incluída uma acção de protecção contra inundações, uma vez que o Convento encontra-se situado num ponto baixo da cidade. Além da impermeabilização das lajes, foi criado um muro em redor do imóvel para desviar águas pluviais e instalada uma estação de bombagem.

Os trabalhos permitiram também a colocação de um elevador interior, a construção de um novo edifício técnico e a recuperação da zona do claustro e de outras áreas, entre as quais a sala do Capítulo, do período do Alto Renascimento, com paredes forradas a azulejo e um tecto em madeira pintada.

Carrilho da Graça, autor do projecto de reabilitação, defendeu que o convento “exigia uma obra urgente que permitisse estancar o seu processo de ruína”.

A segunda fase tem prevista a construção de um novo edifício na zona de cerca pequena, que permitirá a existência de um espaço para as reservas do museu e de um Centro de Interpretação, com a remodelação da praça do convento e do seu pavimento, por uma praça aberta com árvores. A autarquia encontra-se a tentar garantir os fundos nacionais e comunitários para renovação total do monumento “até ao final de 2018”, sublinha, tendo o investimento na primeira fase sido de 3,6 milhões de euros.