Bispo atento aos problemas

O novo bispo de Setúbal, D. José Ornelas Carvalho, que substituiu no cargo D. Gilberto Reis, há dois meses, tem estado em contacto directo com as comunidades, o que lhe permite ter conhecimento real dos problemas das pessoas e dos casos complicados de pobreza. Num recente contacto com o Jornal Setúbal Mais, numa acção solidária da Liga dos Amigos do Hospital de S. Bernardo, onde esta ofereceu ao referido hospital uma viatura para transporte de doentes oncológicos e outros, no valor de 30 mil euros, D. José Ornelas Carvalho falou da sua nova experiência à frente da Igreja.

“Tem sido uma experiência muito intensa mas muito grata, em termos de contacto com a realidade e com as pessoas”. “Grata não quer dizer que tudo seja positivo, antes pelo contrário, mas mesmo na análise dos problemas, vejo que há pessoas conscientes e empenhadas em solucionar os problemas é um motivo de esperança e isso tenho encontrado constantemente”, disse então o bispo.

Questionado sobre se tem sentido as dificuldades sociais e económicas das pessoas da região que o contactam, D. José Ornelas Carvalho disse que “há muita gente a precisar de ajuda”. “Já era uma nota que me tinha sido dada e que conhecia pelos meios de comunicação, mas também há muita gente empenhada em encontrar soluções para estes problemas” disse, salientando que “tenho encontrado essa disponibilidade a todos níveis, desde as autarquias, aos políticos e das instituições e da igreja. “A Diocese de Setúbal tem uma acção social das maiores do país e isso é algo que me dá muita alegria” afirmou.

“Ter noção dos problemas é fundamental, senão abrirmos os olhos não no chega ao coração e eu todos os dias recebo cartas de pessoas a pedir ajuda e dar conta de condições desesperantes mas ao mesmo tempo o saber que há instituições a quem se podem dirigir, pelo menos para minorar as dificuldades e criar perspectivas de futuro, isso é muito bom”, acrescentou o bispo.

Problemas sociais não faltam em Setúbal, um distrito que sempre foi massacrado pelas crises que atingem o país, embora tenham havido importantes investimentos na região. Setúbal é o terceiro distrito de Portugal com maior taxa de desemprego e isso transforma num inferno a vida de milhares de pessoas que não conseguem obter o seu sustento.

Há poucas semanas, a presidente do Centro Cultural Africano (CCA), Carla Jeanne, lançou um alerta na comunicação social: existem 100 pessoas, que correspondem a 25 agregados familiares do bairro da Bela Vista, em Setúbal, que perderam apoio alimentar e vivem uma situação de pobreza extrema.

O apoio alimentar que vinha sendo prestado desde 2011 pelo CCA, que trabalha com várias comunidades do referido bairro social, chegou ao fim porque os restaurantes que doavam os excedentes, faliram nos últimos meses. O resultado é que essas pessoas encontram-se com problemas de subnutrição. É triste saber que, apesar do enorme sacrifício de tantas instituições importantes da nossa cidade, ainda existem vários casos de fome.

Para Carla Jeanne a austeridade dos últimos anos foi longe demais, lembrando que só um dos restaurantes que faliu oferecia 20 litros de sopa todos os dias. Lembra ainda que muitas crianças destas famílias valem-se das refeições que têm na escola para matar a fome.

São casos destes que nos fazem pensar um pouco mais quando se chega a esta época natalícia. Só que eles existem o ano inteiro. É triste saber que, apesar do rendimento social de inserção, dos refeitórios sociais que fornecem refeições, há muitas famílias fora desta lista de pobreza. Não podemos admitir como país civilizado que haja fome. Temos de ser solidários todos os dias.