A minha marcha é linda!
Os desfiles das Marchas Populares de Setúbal são um espectáculo da cultura de um povo que defende as suas tradições e bairrismo. O mês de Junho representa para muitas colectividades setubalenses, este ano foram nove, milhares de horas de trabalho e dedicação por amor à camisola. Desde o artista que cria e tem as ideias para a melhor indumentária, coreografia ou música até às costureiras que trabalham horas infinitas.
Pela avenida Luísa Todi e pela Praça de Touros Carlos Relvas passaram muita gente para assistir aos desfiles, cada um a defender e a gritar pela sua marcha mas de uma forma saudável. Isto porque os resultados finais só são conhecidos mais tarde, através do site da Câmara Municipal de Setúbal. Evita-se assim aqueles espectáculos degradantes que acontecia há poucos anos, acabando tudo em pancadaria e esqueciam-se os momentos bonitos. Concordo plenamente com esta forma de anunciar os resultados porque seria desmotivante para a autarquia e para o público assistir a actos de violência.
Sei que algumas pessoas defendem a entrega imediata dos prémios numa festa em que participavam todos. É preciso não esquecer que por muito bom que seja o ser humano, há sempre um lado que procura justiça e aqueles que perdem tentar encontrar sempre bodes expiatórios nos que ganham. A juntar a isso o factor bairrismo, então como diz o povo “o caldo fica entornado”.
Este ano ganhou o Grupo Desportivo Independente, marcha ensaiada por Bruno Frazão, um homem que anda nesta lida há muitos anos e que tem lutado muito pela cultura popular da cidade quer através das colectividades a que está ligado quer pela criação de teatro de revista e festejos carnavalescos.
Bruno Frazão disse algo na sua página do Facebook, hoje a melhor maneira de comunicar, que “a minha postura é e continuará a ser de respeito para com todos os outros trabalhos e agradeço que respeitem o meu, pois da minha boca não saíram palavras depreciadoras em relação aos trabalhos das outras marchas, da minha boca ouviram sim palavras de incentivo e força pois felizmente tenho amigos em todas as marchas”. É assim que deve ser.
Para quem assiste a estes desfiles fica maravilhado com a entrega total de centenas de marchantes, que perdem horas da sua vida privada em ensaios para que tudo saia na perfeição. É preciso valorizar o valor e esforço destas pessoas. Tudo é feito com muito amor e sacrifício já que os apoios são poucos e os gastos são muitos. Aliás, a própria presidente da Câmara Municipal de Setúbal reconhece isso, que a autarquia não pode dar mais ajuda financeira e elogia a arte das colectividades em angariar dinheiro para os gastos através de festas, bailaricos e venda de muitas bifanas.
Tenho de elogiar a criatividade dos ensaiadores, na maioria são jovens e já nasceram com as marchas no sangue. É necessária muita garra para liderar equipas de dezenas de pessoas, para que nada falhe nos dias dos desfiles. O nervosismo deve ser muito mas naquela altura ninguém nota.
Adorei ver no final do desfile na avenida Luísa Todi os marchantes de todas as colectividades a dançar ao som da Marcha de Setúbal cantada por Inês Pereira. Até a presidente da câmara não escapou a um pezinho de dança. Bonito!
Florindo Cardoso
